Siga a folha

Descrição de chapéu Coronavírus

Dividido entre cidades, bairro é autorizado a reabrir pela metade em São Paulo

Situação inusitada na quarentena deixa região em duas fases do Plano SP, com risco de se dividir em três

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Lucas Landin
Agência Mural

Cidade Kemel vive uma situação inusitada. Dividido entre as cidades de Itaquaquecetuba, Poá e Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo, e o distrito do Itaim Paulista, em São Paulo, o bairro está cortado ao meio por duas fases da quarentena decretada pelo governo do estado por conta da Covid-19.

A avenida Kemel Addas, uma das principais do bairro, tem sido o símbolo dessa divisão. De um lado da via, comércios como bares, restaurantes e salões de beleza estão autorizados a reabrir, mas, do outro, devem permanecer fechados.

A avenida Kemel Addas no exato ponto de divisa entre São Paulo, Itaquaquecetuba e Poá - Lucas Landin/Agência Mural

Na parte que pertence à capital, o Plano São Paulo prevê a fase amarela, que permite uma reabertura mais flexível do comércio e dos serviços desde segunda-feira (6).

No caso da área que pertence aos municípios do Alto Tietê, a fase é a laranja, mais restritiva, e que permite que apenas grandes estabelecimentos, como shoppings, voltem a funcionar dentro de limites. Na prática, porém, moradores têm questionado como essas medidas são aplicadas.

"Isso aí é tiração, né? Quer dizer que o coronavírus não atravessa a rua?", questiona o instalador de gesso Gustavo Correia, 25, na parte do bairro pertencente a Poá. "Enquanto lá for proibido, eu atravesso a rua e venho cortar o cabelo aqui", brinca.

Para completar, o governo do estado sugeriu que uma das cidades, Itaquaquecetuba, volte a ter uma quarentena mais rigorosa, na fase vermelha. Se a situação for adotada, o Kemel terá de viver três tipos de quarentena oficialmente.

Itaquaquecetuba mantinha taxa de ocupação de UTIs de 95% até o começo desta semana. O índice, segundo o governo do estado, é um dos principais critérios para entender se haverá reabertura.

Cidade Kemel surgiu no início dos anos 1950, quando o imigrante Massud Addas, e seu filho, Kemel Addas, transformaram uma antiga fazenda de uva num extenso loteamento urbano, tão extenso que recebeu o nome de "Cidade".

Mas a cidade dos Addas nasceu dividida entre outros dois municípios reais: São Paulo e Poá.

Em 1953, com a emancipação de Itaquaquecetuba e de Ferraz de Vasconcelos, e com a perda de terrenos de Poá para essas duas cidades, o bairro passou a pertencer a quatro municípios, o que até hoje causa confusões e conflitos, como se observa agora com a quarentena.

A circulação entre os limites municipais é cotidiana. O centro comercial do Kemel fica na capital, e muitos moradores vão até lá para utilizar serviços, fazer compras, e principalmente, tomar os ônibus da SPTrans que seguem rumo às estações Jardim Romano e Itaim Paulista da CPTM. Com divisias invisíveis, não há dificuldade nenhuma para quem, em tese, deveria estar em uma quarentena mais restrita o acesse.

Apesar da proibição, também é comum ver salões de beleza e bares funcionando nas partes de Itaquaquecetuba e Poá do bairro, sobretudo fora das principais avenidas.

"Ninguém quer perder dinheiro, e eu preciso trabalhar também", diz o dono de um bar nas proximidades do terminal Cidade Kemel da EMTU (Empresa Metropolitana de Transporte Urbano), já em Poá. O dono do estabelecimento, que preferiu não ser identificado, deixa o local funcionando com a porta entreaberta para evitar multas.

Terminal da EMTU do bairro fica na cidade de Poá - Lucas Landin/Agência Mural

O Condemat (Consórcio de Desenvolvimento dos Municípios do Alto Tietê), órgão que reúne os prefeitos da região do Alto Tietê, que inclui Itaquaquecetuba, Poá e Ferraz de Vasconcelos, afirmou que irá questionar o governo do estado sobre a permanência dessa região na fase laranja do Plano São Paulo.

Em nota, o Consórcio afirma que a região está pronta para avançar à fase amarela do plano, e que teme que a economia regional seja prejudicada com a flexibilização na capital.

Já o governo do estado afirma que “segue regras pré-estabelecidas pelo Centro de Contingência do Coronavírus, que são pautadas na ciência e na saúde”, e que os municípios precisam observar as regras de abertura estabelecidas pelo Plano São Paulo.

A reabertura dos comércios tem causado polêmica desde o início na região metropolitana, em parte pelo questionamento da proximidade entre os municípios e a circulação de moradores entre eles.

Iniciado em 1º de junho, o Plano São Paulo inicialmente deixou apenas a capital numa fase menos restrita, excluindo os demais 38 municípios.

Após pressão dos prefeitos, o governador João Doria (PSDB) anunciou que passaria a adotar a divisão das cinco regiões da Grande São Paulo para avaliar o avanço da Covid-19 e as medidas de retomada.

Nas últimas semanas, a capital passou para a fase amarela junto com as sete cidades do Grande ABC e as sete da região Sudoeste (onde fica Taboão da Serra, Cotia e Embu das Artes).

Além do Alto Tietê, as regiões Oeste (Osasco e Barueri) e a Norte (Mairiporã e Franco da Rocha), seguem na fase laranja por conta do número de casos e da ocupação dos leitos. Na próxima sexta-feira (10), a gestão deve reavaliar a situação dos municípios.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas