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Descrição de chapéu chuva

Saúde melhora, mas futuro com dívidas preocupa, diz pedreiro soterrado em São Sebastião

Morador foi retirado da lama por vizinhos em local onde dezenas morreram

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São Sebastião (SP)

A água da chuva batia com força no rosto, no peito e nos braços e dificultava a tarefa já quase impossível de retirar as duas árvores caídas sobre as pernas. Vizinhos que enfrentavam os metros de lama e se aproximavam para tentar o resgate iam embora a cada novo estalo, prevendo mais deslizamentos.

"Eles corriam e eu ficava. Corriam e eu ficava", recorda o pedreiro Edivaldo dos Santos da Silva. Até que um vizinho de 17 anos com quem não tinha muito contato chegou e decidiu ficar. O apoio foi fundamental para que Borracha, como é conhecido, aguentasse até o momento do resgate, realizado por outros moradores da Vila Sahy, em São Sebastião (SP), na manhã daquele domingo (19).

Jucélia Maria com a mãe, Maria Anália da Silva, e o marido, Edivaldo dos Santos, no quarto da pousada - Rubens Cavallari/Folhapress

As lembranças do fim de semana de chuvas históricas no litoral paulista estão na pele de Borracha. Os hematomas nas costas, antes pretos, começam a ficar arroxeados. As panturrilhas estão em fase de cicatrização e as muletas e cadeira de rodas ao lado da cama antecipam que andar ainda é um desafio.

O pedreiro estava com a esposa, Jucélia Maria Nogueira dos Santos, o filho mais novo e o cachorro quando a chuva começou a apertar. Por volta das 3h40, assustada com os estalos, Célia chamou o marido, mas ele não achou que houvesse motivo para preocupação. Na dúvida, ela saiu com o menino e o animal. Borracha ficou.

"Quando cheguei à casa da minha mãe, comecei a gritar para avisá-la. Tinha árvore descendo, carro descendo. A lama chegou ao peito e não tinha energia, estava tudo escuro", lembra Célia.

"Não sabia da proporção, senão teria saído e teria gritado, alarmado outros vizinhos. Levou a rua toda", diz o pedreiro. "Se houvesse sirene, teria alertado, sim. Muitos estavam dormindo".

Os vizinhos do casal morreram. Sua casa, os dois carros e as cinco pequenas casas que alugavam desapareceram. Até hoje, o caçula acorda de madrugada gritando "mãe, mãe, a árvore vai cair".

"Trabalhamos de domingo a domingo para ter nossas coisas. Carregamos bloco a bloco dessas casas, pagamos o IPTU", desabafa Célia. "Sempre choveu e a gente pensava: ‘Estamos seguros. É lá embaixo que alaga’".

Sentada ao lado do marido no quarto da pousada onde a família está hospedada, ela afirma que "a ficha ainda não caiu". É como se fosse o pesadelo do filho: há a sensação de que ela vai acordar e a situação vai voltar ao normal. Abrir os olhos, porém, não muda o quadro ou responde as dúvidas.

Como outros moradores, o casal reclama da falta de informações sobre o destino após o término do contrato com a rede hoteleira. "Vão nos mandar para um barraco provisório com o tanto de dinheiro que está chegando?", questiona.

Borracha tenta contemporizar e explica que não é possível construir casas de uma hora para outra. "Se trabalharem bem, em quatro meses estão de pé", pondera o pedreiro.

"Não sabemos o que vai acontecer. Não temos casa para levar as coisas que estão sendo doadas agora. Vamos ter alimentos e móveis depois?", perguntam, pedindo àqueles que estão doando que priorizem instituições que conheçam a comunidade e possam distribuir melhor os itens.

Nesse momento, Célia mostra no celular fotos de sua cozinha americana, com móveis planejados e o piso reluzente. Agora, além das imagens, restam apenas as dívidas. "Os bancos não declararam estado de calamidade. Não sabemos como vamos pagar".

Entrada do quarto em que Célia e Borracha estão hospedados com o filho - Rubens Cavallari/Folhapress

A Febraban (Federação Brasileira de Bancos) afirma que os esforços da instituição e dos bancos para ajudar as vítimas totalizam mais de R$ 3,1 milhões.

"Uma das iniciativas do setor bancário foi a aquisição de cotas para abrigar, em hotéis e em pousadas, a população desabrigada —cerca de 800 pessoas e 200 famílias. A Febraban adquiriu a maior cota: R$ 1,7 milhão de um total de R$ 5 milhões."

"Além disso, os bancos fizeram doações próximas a R$ 1,5 milhão a entidades como União BR, Instituto Verdescola e Gerando Falcões para a compra de alimentos, água, colchões e artigos de primeira necessidade", complementa.

De acordo com a entidade, estão sendo concedidas pausas de até 90 dias em contratos de financiamento nas regiões atingidas e os bancos, em parceria com o BNDES, estão analisando a possibilidade de disponibilizar linhas de crédito para as micro, pequenas e médias empresas da região.

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