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Descrição de chapéu São Paulo ciclismo

Gestão Nunes abandona projeto de áreas de proteção ao ciclismo de competição em SP

OUTRO LADO: Prefeitura diz ter programas de incentivo ao ciclismo, como empréstimo gratuito e reparo de bicicletas

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São Paulo

Independentemente do resultado que a ciclista de estrada Tota Magalhães alcançar na competição deste sábado (3) nas Olimpíadas de Paris, os integrantes da Comissão de Segurança no Ciclismo do Rio de Janeiro se sentirão vitoriosos. A atleta, que agora representa o Brasil, faz questão de mencionar as Áreas de Proteção ao Ciclismo de Competição (APCCs) como um local fundamental para seu treinamento.

Em São Paulo, a proposta de implementação de uma estrutura semelhante chegou a ser apresentada à prefeitura, mas acabou enterrada pela gestão Ricardo Nunes (MDB). Um dos motivos foi a insistência da administração municipal de passar todos os custos de utilização do espaço público para os ciclistas, o que não foi aceito pelas entidades envolvidas na discussão. As APCCs cariocas são custeadas pelo erário público.

O principal argumento em favor das APCCs é a segurança. Muitos ciclistas profissionais e amadores acabam treinando nas rodovias, onde ficam expostos ao risco de um atropelamentos ou outros acidentes. Em um desses casos, em dezembro do ano passado a triatleta Luisa Baptista viu seu sonho de estar nos Jogos de Paris ser encerrado após ser atropelada no interior paulista.

Tota Magalhães durante a segunda etapa do Giro 2024, quando obteve a liderança nas montanhas - Divulgação

Assim como é feito no Rio, a proposta paulistana era de fechar algumas vias, ou trechos delas, em horários determinados para que fossem destinadas à prática esportiva. Hoje, com grandes restrições na Cidade Universitária (zona oeste), sobram os acostamentos de estradas e a ciclovia da marginal Pinheiros, inapropriada por ser estreita e por também ser usada para lazer e locomoção. O uso para treino gera conflitos com outros usuários.

Questionada, a Prefeitura de São Paulo não respondeu especificamente sobre as APCCs, mas afirmou, em nota, que "conta com ações e programas que visam o incentivo à prática do ciclismo", como empréstimo gratuito e reparo de bicicletas em dois centros esportivos municipais, nas zonas norte e leste.

Um dos criadores da APCC carioca, Raphael Pazos diz que não só os ciclistas ganham com a instalação das áreas especiais. "O projeto é importante para melhorar a segurança dos lugares em que elas são instaladas, além de acalmar o trânsito nas imediações", afirma.

O projeto das APCCs no Rio teve início depois que o ciclista Pedro Nikolay morreu ao ser atropelado em um treinamento, em abril de 2013. A primeira área de proteção, criada no aterro do Flamengo, leva seu nome. Ela é instalada às terças e quintas, das 4h às 5h30. As outras são instaladas em regiões e horários diferentes, conforme a realidade de cada endereço. "Na zona norte, por exemplo, os treinos são noturnos", diz Pazos.

Depois do Rio de Janeiro, cidades como Florianópolis, Recife e Salvador criaram as áreas.

Em São Paulo, uma pesquisa feita pela Aliança Bike, entidade que reúne diferentes segmentos do mercado de bicicletas no país, indicou possíveis pontos de instalação de APCCs. Entre os mais votados no perímetro urbano paulistano estavam as marginais dos rios Tietê e Pinheiros, a Cidade Universitária, o autódromo de Interlagos (zona sul) e um circuito na zona norte formado pela avenida Olavo Fontoura, praça Campo de Bagatelle, sambódromo e Campo de Marte.

Devido a restrições colocadas pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e outros órgãos da prefeitura, apenas o circuito foi levado em consideração para os primeiros testes. Ele já é utilizado para treinamentos, sem a estrutura formal, no horário noturno.

Segundo o diretor-executivo da Aliança Bike, Daniel Guth, pesquisas feitas junto à Prefeitura de São Paulo mostraram que a instalação da área de proteção no circuito da zona norte não causaria impacto no trânsito. Ele afirma que não haveria prejuízo também no autódromo. "Fizemos uma estimativa de que ele estaria disponível, em horários determinados, para treinamentos em 250 datas por ano."

Para Guth, o ciclismo tem sofrido nos últimos anos uma série de restrições impostas pela prefeitura. Ele cita a quase centenária Prova Ciclística 9 de Julho como exemplo. "Não permitiram que a competição amadora fosse realizada na manhã do feriado na marginal Pinheiros", diz.

A edição deste ano foi feita em um circuito que saiu da rodovia Anchieta e cruzou áreas do município de São Bernardo do Campo. Tradicionalmente, contudo, a prova é disputada nas ruas da capital paulista, assim como a corrida de São Silvestre —ambas foram criadas pelo jornalista Cásper Líbero.

Na nota enviada à reportagem, a prefeitura afirmou que a Prova 9 de Julho já tem data reservada para o ano que vem.

O diretor-executivo da Aliança Bike aponta um estrangulamento também dos passeios ciclísticos desde 2005, quando foi criada uma taxa para cobrir os custos da CET para eventos de rua. "Muitas atividades de rua sem fins lucrativos foram prejudicadas pela medida, entre elas esses passeios", comenta.

A CET afirmou que faz o acompanhamento operacional dos eventos autorizados, inclusive passeios ciclísticos. "As vias que compõem o percurso das corridas são bloqueadas com antecedência, com a implantação dos desvios de tráfego, que visam garantir as condições de segurança e o conforto dos participantes e dos usuários do tráfego de passagem."

O órgão citou como exemplos o Bike Series Ibirapuera, o Storm Riders e o Grande Prêmio de Ciclismo Gilson Alvaristo.

Para a cicloativista Renata Falzoni, a restrição das APCCs em São Paulo esbarrou no desejo de "privatizar custos e responsabilidades". "Muitas vezes a solução é a prefeitura não atrapalhar e incentivar o que está dando certo, como foi o caso da pista de BMX Caracas Trail, de Carapicuíba", diz.

O circuito foi construído pelos próprios ciclistas e só se tornou um parque municipal após a mobilização dos moradores da região. Um dos principais atletas formados por lá é Gustavo Bala Loka, representante do Brasil na modalidade nas Olimpíadas de Paris.

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