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Descrição de chapéu Obituário Antonio Carlos Massarotto Cesarino (1933 - 2024)

Mortes: Psiquiatra tinha o dom de colocar as pessoas no eixo

Antonio Carlos Cesarino fez atendimentos gratuitos de familiares e vítimas da ditadura militar no Brasil

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São Paulo

Durante a ditadura militar, o psiquiatra Antonio Carlos Cesarino fez parte de um grupo de médicos do Hospital das Clínicas de São Paulo que atendia presos políticos e seus familiares, vítimas de torturas do regime. Para isso, muitas vezes, as conversas eram em bares ou restaurantes, como se ele estivesse com um amigo.

Um dos atendidos era Herbert de Souza, o Betinho, que vivia na clandestinidade por lutar contra o golpe militar de 1964.

Generoso, Cesarino tornou rotina o atendimento aos mais necessitados, que não tinham condições de pagar pelo aconselhamento profissional. Há seis anos, ele passou a atender mulheres que haviam sido torturadas durante a ditadura e que ainda precisavam de tratamento para remediar seus dramas.

"Ele ajudava desde o frentista do posto de gasolina até os pacientes que podiam pagar o valor cheio da consulta. Às vezes, ele era a única referência para essas pessoas simples, e fazia esse trabalho até o final", conta o filho, Pedro de Niemeyer Cesarino, 47.

Antonio Carlos Massarotto Cesarino (1933 - 2024) - Leitora

Nascido em julho de 1933, em Campinas, Antonio Carlos Massarotto Cesarino era filho de Flora Maria Massarotto Cesarino e de Antonio Ferreira Cesarino Junior. Depois de se formar em medicina pela USP em 1959, ele fez doutorado e especialização em psiquiatria social na Universidade de Heidelberg, na Alemanha, e na Sorbonne, na França. Em Paris, ele foi paciente do psicanalista francês Jacques Lacan.

Cesarino foi um dos principais introdutores psicodrama no Brasil. Fundou o Psicodrama Público em São Paulo, encontros que aconteceram por anos, aos sábados, no Centro Cultural São Paulo, com a participação de inúmeros colegas. Atualmente, a reunião é online.

Seu sonho sempre foi o de uma sociedade igualitária. Ele pensava que não há problemas meramente individuais, mas sim sociais. Por isso, lutava pelos diálogos possíveis que ocorrem nos psicodramas públicos em que, por exemplo, moradores de rua conversam com engenheiros, como iguais.

Após a redemocratização, ele chefiou o serviço de saúde mental da Prefeitura de São Paulo e foi um dos organizadores do Projeto Estadual da zona norte da cidade, primeiras experiências de gestão democrática da saúde mental no Brasil. Além disso, supervisionou programas de saúde mental em Santos, primeira cidade a fechar um manicômio.

"Ele era uma pessoa muito carinhosa, muito presente. Era a pessoa de referência para família, amigos e amigos de amigos, por conta da capacidade dele de compreensão. Era uma pessoa muito sábia, com capacidade de agregar e colocar as pessoas no eixo", diz Pedro.

Cesarino foi professor no Instituto Sedes Sapientiae, na Faculdade de Psicologia da PUC-SP, na Santa Casa de São Paulo, na Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu e na Sociedade de Psicodrama de São Paulo, da qual foi um dos fundadores.

Após a pandemia, passou a atender seus pacientes apenas pela internet, e o fez até os 90 anos. Até o fim da vida, manteve uma rotina disciplinada de exercícios físicos. E também gostava de ler e estudar, mas teve esses hábitos interrompidos após um glaucoma.

O psiquiatra morreu dia 21 de junho, aos 91 anos. Deixa as filhas Gabriela e Júlia, de sua primeira mulher, Maria Krantz, e Pedro, de sua atual mulher, Ana Maria de Niemeyer. É avô de cinco netos e dois bisnetos, suas alegrias.

"Marcante para mim era de no final do ano receber pessoas na porta de casa com presentes, como cesta básica, galinha, bolo, o que pudessem dar, muito emocionadas, com mensagens de gratidão por ele ter mudado a vida delas", lembra Pedro.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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