Descrição de chapéu Obituário Mercedes Ladeira Marchi (1925 - 2024)

Mortes: Fez de Jundiaí uma família na Feira da Amizade

Mercedes Ladeira Marchi idealizou o movimento que uniu toda a comunidade da cidade paulista

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

José Renato Nalini
São Paulo

Filha de um tronco heráldico de Jundiaí, a 60 km da capital paulista —sua mãe foi a educadora Leonita Faber Ladeira, cujo nome foi eternizado numa escola municipal—, Mercedes Ladeira Marchi também foi docente. Não só na alfabetização das crianças, mas no exemplo de uma vida inteiramente doada à causa coletiva.

Casada com o comerciante Oswaldo Marchi, criou sua primeira filha, Marta, com síndrome de Down, em convívio permanente com a família e com os amigos, propiciando-lhe educação aprimorada.

O segundo filho, João Henrique, formou-se em medicina e deu a eles dois netos: João Paulo e Maria Angélica, cuja prole gerou três bisnetos: João Gabriel, Marcelo e André.

Uma mulher está sentada em um sofá, sorrindo para a câmera. Ela usa uma blusa colorida com estampas e calças rosa. O ambiente parece ser uma sala de estar, com uma parede clara ao fundo e uma almofada vermelha ao lado dela.
Mercedes Ladeira Marchi (1925 - 2024) - Arquivo pessoal

Mas o que fez Mercedes de sua existência?

Disseminou a causa dos excepcionais e organizou a Feira da Amizade, movimento que uniu toda a comunidade de Jundiaí durante décadas, a ponto de ser o projeto que sustentou inúmeras entidades beneficentes da cidade.

Seu zelo e carisma conseguiam contaminar todas as categorias, idades, profissões, crenças e grupos. Eram industriais se ocupando da elaboração de pratos típicos, senhoras da sociedade local servindo mesas, jovens fazendo competições e shows, cada qual oferecendo o seu tempo, o seu talento e a sua vontade de tornar mais fácil a vida dos mais carentes.

À frente de uma organização que durava todo o ano, para duas semanas de concentração das atrações culinárias, folclóricas, culturais, estava Mercedes a liderar com inimaginável paciência, generosidade e entusiasmo. Era impossível, a quem fosse por ela procurado, recusar-se a participar de um verdadeiro fenômeno de manifestação coletiva, despido de exibicionismos, de personalismos ou de disfarçada busca de interesses, sob o véu tênue da filantropia.

Observar o que ela obteve na Jundiaí da segunda metade do século 20 evidencia ser possível implementar o projeto do constituinte de 1988, de substituir a débil democracia representativa por uma democracia participativa, com saudável protagonismo popular, com destinação muito específica e benéfica. Mercedes nunca se valeu do prestígio adquirido durante essas décadas, nunca disputou cargo público, nunca exerceu outra política que não fosse a redenção dos excluídos.

Fez-se um ícone da atuação voluntária da cidadania que se compromete com a solução de questões aparentemente insolúveis e enfrenta obstáculos, mas não desiste e passa a servir de testemunho de que é possível melhorar o Brasil.

Completaria 99 anos em setembro e já programara a comemoração do seu centenário, mas morreu no dia 28 de junho, sendo levada de nosso convívio terreno, mas deixando um legado imorredouro, a servir de inspiração para a posteridade.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

Veja os anúncios de mortes

Veja os anúncios de missa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.