Siga a folha

ONG Mães da Sé lança camiseta da moda com rostos de crianças desaparecidas

Iniciativa foi lançada nesta sexta (30) nas escadarias da Catedral da Sé, no centro de São Paulo

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

Em frente às escadarias da catedral que é palco da luta de famílias na busca por parentes desaparecidos há quase 30 anos, a ONG Mães da Sé lançou nesta sexta (30) a campanha T-Search. A iniciativa envolve a venda das chamadas camisetas "bootlegs" —versões não oficiais que viraram moda e estampam nome e retrato de ícones culturais— com os rostos de crianças desaparecidas pelo Brasil.

O nome da campanha faz referência a t-shirt, camiseta em inglês, com o uso da palavra "search", que significa busca. As camisetas estão à venda no site tsearch.com.br por R$ 170, e o valor é totalmente convertido para a ONG. Há cinco modelos disponíveis, de cinco crianças diferentes. Na página é possível conhecer suas histórias e de outros desaparecidos.

"Além da venda das camisetas, é uma ótima maneira de divulgar a causa", afirma Vitor Elman, copresidente da agência de publicidade Cappuccino, do Coletivo Weber Shandwick, que ajudou a criar e impulsionar a campanha. "Quanto mais pessoas souberem, mais probabilidade de encontrar os desaparecidos."

As camisetas foram entregues a celebridades e influenciadores para divulgação.

Ivanisce Esperidão, 62, presidente da ONG Mães da Sé, usa uma das camisetas da campanha; peça leva o rosto de sua filha Fabiana, que sumiu quando tinha 13 anos, em 1995 - Folhapress

Ivanisce Esperidão se diz emocionada com a campanha e acredita que surtirá efeito. Ela fundou a ONG três meses após o desaparecimento de sua filha, em 1995. Desde então, mais de 12 mil pessoas que buscavam alguém foram acolhidas pelo movimento e quase 6.000 foram encontradas.

"O que nos vai matando aos pouquinhos é não saber. Minha filha desapareceu aos 13 anos, hoje ela tem 42. Tento imaginar seu rosto. Se ela está viva, por que ninguém nunca a viu? E, se está morta, o Estado me deve um corpo", diz Ivanisce.

A filha de Ivanisce é um dos muitos casos sem solução. Fabiana visitava uma amiga que fazia aniversário. Na volta, depois de se despedir, ela desapareceu num trajeto de 120 metros até sua casa em Pirituba, na zona norte de São Paulo.

"A cada pessoa que encontramos eu vejo um pouco da minha filha", diz Ivanisce.

Balões soltos no céu ao final do ato em frente a Catedral da Sé para o lançamento da campanha T-Search, nesta sexta (30) - Folhapress

A ação também contou com a participação de outros coletivos. Familiares da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, que busca esclarecer casos da ditadura militar, estiveram presentes. Laura Petit da Silva, que tenta encontrar os restos mortais de três irmãos assassinados pelo Exército na Guerrilha do Araguaia, discursou e pediu justiça.

Outro a falar no microfone foi Alberto Correia, presidente da Esperança na Rua. "Estou nessa luta há 12 anos, desde que meu filho desapareceu." Rodrigo Correia desapareceu quando cumpria seu sonho de ser taxista como o pai, aos 22 anos.

"Seu carro saiu às 8h30 do ponto na Vila Olímpia e encostou às 11h no quilômetro 18 da rodovia Raposo Tavares. Eu não sei dizer se ele foi sequestrado e deixaram o carro lá ou se ele já estava rendido", diz Alberto.

Devido ao desaparecimento, o pai largou o emprego de taxista por "não ter cabeça" para continuar a profissão. Em 2018 ele foi chamado pelo Ministério Público para criar a associação que preside.

Alberto Correia, pai do desaparecido Rodrigo Correia, durante o ato em frente à Catedral da Sé para o lançamento da campanha T-Search - Folhapress

A Defensoria Pública do Estado de São Paulo compareceu ao encontro das Mães pela primeira vez, segundo a ONG. Uma van do órgão com várias tendas e servidores prestava assessoria jurídica a quem parasse.

"Somos muito procurados pelos familiares de desaparecidos. Principalmente pela declaração de ausência, que permite acessar os bens da pessoa sem tê-la declarada morta", explica Cecília Nascimento, defensora pública do estado.

"A invisibilidade dos desaparecidos é tão grande que até na Defensoria a gente não consegue dimensionar quantos pedidos recebemos", afirma.

Em 2023, cerca de 72 mil pessoas desapareceram no país, mas o número pode ser maior.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas