Descrição de chapéu Cracolândia

Usuários de droga se espalham, tomam praça na 23 de Maio e retornam para cracolândia original

Vizinhos relatam grupos com até 30 dependentes químicos na rua Helvétia; governo Tarcísio diz monitorar as áreas, e gestão Nunes afirma que presença é momentânea

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São Paulo

Usuários de drogas que vivem no centro de São Paulo tem retornado aos poucos para o trecho da rua Helvétia entre as alamedas Cleveland, Dino Bueno e Barão de Piracicaba —ponto onde funcionou por duas décadas a cracolândia.

Ao mesmo tempo, a presença de grupos de dependentes químicos também tem aumentado em outros trechos da região, especialmente próximos da avenida 23 de Maio.

A situação na Helvétia tem sido relatada por moradores de prédios vizinhos, que estão preocupados com o possível retorno da aglomeração naquele espaço. Faz pouco mais de dois anos que a cracolândia deixou a região e se espalhou por outros pontos do centro paulistano.

A imagem mostra um grupo de pessoas sentadas em uma área urbana. No grupo há pessoas segurando cachimbos utilizados para fumar crack
Concentração de pessoas com cachimbos nas mãos em praça entre o viaduto Doutor Manuel José Chaves e avenida 23 de Maio, na Bela Vista, centro de São Paulo - Danilo Verpa/Folhapress

Pessoas que moram nos condomínios disseram à Folha que os dependentes químicos começaram a chegar aos poucos há cerca de um mês. Num primeiro momento uma barraca, depois, outra. Agora, cerca de 30 pessoas passam o dia e a noite ali.

A reportagem esteve no local na tarde de quarta-feira (4) e viu um grupo ocupando toda a calçada do lado direito da Helvétia, entre as alamedas Cleveland e Dino Bueno. Alguns deles tinham cachimbos nas mãos (instrumento usado para consumir o crack), enquanto outros dormiam ao lado de barracas. Naquele trecho há uma unidade do programa Recomeço, que atende dependentes químicos.

Procurada, a gestão Ricardo Nunes (MDB) disse que o monitoramento realizado por drones não identificou uso de drogas no local, e que o crack atualmente é consumido apenas em outro ponto, na rua dos Protestantes.

Já o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou ter ampliado as ações e implementado políticas públicas integradas voltadas à requalificação da região, com atividades de zeladoria, saúde, assistência social e segurança pública.

As pessoas ouvidas pela reportam, que preferiram não se identificar por questões de segurança, moram nos condomínios desde 2020, quando eles foram inaugurados. Na época, a cracolândia ainda estava na no local.

Embora a presença de usuários hoje seja bem menor que a aglomeração antiga, os moradores relatam uma rotina de problemas. Eles dizem que ao abrir a janela de casa se deparam com cenas de venda e consumo de drogas, sexo ao ar livre e brigas. Também reclamam do barulho, inclusive de madrugada.

Um administrador de redes de 29 anos disse ser problemático sair pela manhã para levar o filho de dois anos para a creche. Segundo ele, ambos já encontraram usuários com o pênis de fora urinando no muro ou consumindo drogas.

Outra queixa comum dos vizinhos da cracolândia é o lixo deixado pelos dependentes químicos, que faz proliferar ratos, e o cheiro de urina e fezes.

Uma vigilante de 49 anos disse permanecer com as janelas de casa fechadas e o ventilador ligado o dia todo na tentativa de evitar o mau cheiro que vem da rua. Ainda de acordo com ela, seu filho tem desviado o caminho para a escola pelo medo de ser agredido ou assaltado. Ela afirmou ter procurado a prefeitura e o estado para pedir ajuda, mas diz que nada foi feito.

Um produtor de eventos de 44 anos classificou como vergonhoso a volta do consumo de drogas no espaço dois anos após a saída da cracolândia. Ainda segundo ele, a presença de agentes da Guarda Civil Metropolitana diminuiu de forma significativa no último mês.

A imagem mostra um grupo de pessoas sentadas em um espaço urbano, próximo a uma parede coberta de grafites. Algumas pessoas estão deitadas no chão, enquanto outras estão em pé ou caminhando. Um homem segura um cachimbo em uma das mãos
Moradores da rua Helvética reclamam da venda e consumo de drogas, brigas e sexo ao livre após retorno de usuários de drogas para o local - Danilo Verpa/Folhapress

Do outro lado da avenida Rio Branco, o panorama é semelhante, mas numa proporção ligeiramente menor. Usuários de drogas esperam o anoitecer e o fechamento dos comércios para se concentrar em pequenos grupos para fumar crack nas ruas dos Gusmões e Vitória na altura da alameda Barão de Limeira, além do cruzamento da rua Conselheiro Nébias com a rua Vitória.

Um morador contou que policiais militares têm atuado na região, não deixando que as aglomerações permaneçam. Os pontos ficam a poucos metros da base da Força Tática do 7° batalhão da PM, inaugurada em fevereiro deste ano pelo governador.

CONCENTRAÇÃO NA 23 DE MAIO

A cerca de três quilômetros da Helvétia, a avenida 23 de Maio também tem registrado um aumento da presença de dependentes químicos. Isso acontece principalmente em uma praça entre o viaduto Doutor Manuel José Chaves e a avenida, na Bela Vista.

Na tarde de quarta-feira um grupo com pouco mais de 20 pessoas estava sentado consumindo crack no local. Também havia um grupo menor em um morro que liga a 23 de Maio à praça João Mendes. Outros cinco usuários estavam os arcos da rua Jandaia, conhecido como Arcos do Jânio, em referência ao ex-prefeito Jânio Quadros (1917-1992).

Segundo a prefeitura, 180 GCMs e 60 viaturas atuam dia e noite na região da cracolândia. Sobre os locais apontados pela reportagem, a gestão municipal afirmou possuir imagens que "mostram ocupações momentâneas ou periódicas, sobretudo por pessoas em situação de rua".

Em todos os pontos citados a reportagem viu pessoas utilizando crack ou carregando os cachimbos usados para consumir a droga.

A nota encaminhada pela gestão Tarcísio disse que a Secretaria da Segurança Pública "monitora permanentemente o comportamento e a variação do fluxo de usuários para reforçar o patrulhamento preventivo e ostensivo e as outras ações já elencadas, inclusive nos locais apontados pela reportagem."

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