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Descrição de chapéu The Economist

Bebês nascem menos nos meses seguintes a dias quentes

Artigo mostra que a taxa de fertilidade na Espanha caiu cerca de nove meses após dias extremamente quentes

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The Economist

O ano mais quente já registrado, 2023, pode não manter seu título por muito tempo; 2024 já parece que pode ultrapassá-lo. À medida que as temperaturas continuam a subir, os países se esforçarão para evitar mortes por calor e enfrentar o clima extremo. Mas o aquecimento global também tem efeitos muito mais sutis— incluindo, sugerem os pesquisadores, na fertilidade.

Um artigo publicado recentemente no Population Studies, um periódico científico, é o mais recente a documentar uma relação entre calor extremo e gravidez. Ele mostrou que a taxa de fertilidade na Espanha caiu cerca de nove meses após dias extremamente quentes, ecoando dados recentes de países ao redor do mundo. Embora esse efeito seja geralmente pequeno, ele pode crescer à medida que as mudanças climáticas aceleram.

Risto Conte Keivabu do Instituto Max Planck de Pesquisa Demográfica na Alemanha, o principal autor do artigo, trabalhou com seus colegas para calcular a TFR (taxa de fertilidade total) da Espanha, o número médio de filhos que uma mulher deve ter ao longo de sua vida, com base nas taxas de fertilidade atuais, para cada mês entre 2010 e 2018.

Eles então usaram dados climáticos espanhóis para ver como a TFR variou com a temperatura. Se encontrou uma queda clara na TFR nove meses após dias com temperaturas médias entre 25 a 30°C. A redução foi pequena, mas consistente, chegando a cerca de 0,3% (equivalente a cerca de 85 bebês a menos) para cada dia desse tipo em um mês. O efeito aumentou com a temperatura: para cada dia extra acima de 30°C, a queda foi mais próxima de 0,8%.

Pessoas se refrescando em uma fonte no Georgetown Waterfront, em Washington, D.C., Estados Unidos - Xinhua/Aaron Schwartz

O clima e a fertilidade estão relacionados há muito tempo. Por um lado, os nascimentos humanos mostram padrões sazonais indicando que a concepção ocorre mais regularmente durante os períodos mais frios. Mas essa nova pesquisa se junta a uma série de artigos recentes relatando quedas nas taxas de natalidade após picos na temperatura média diária ao redor do mundo.

Como esses choques de calor são temporários, isso não implica que os países mais quentes terão necessariamente as menores taxas médias de natalidade.

Nos Estados Unidos, mais de 70 anos de dados mostram que um dia acima de aproximadamente 27 °C produz uma queda média de 0,4% na taxa de natalidade (equivalente a 1.150 bebês) nove meses depois, em relação a um dia ameno. Outros efeitos amplamente semelhantes foram relatados na Coreia do Sul, Brasil e África Subsaariana.

Em março, Tamas Hajdu, do Centro HUN-REN de Estudos Econômicos e Regionais na Hungria, relatou uma redução na taxa de natalidade em toda a Europa de 0,7% para cada dia adicional acima de 25 °C (veja o gráfico).

O que está acontecendo? Uma possibilidade é que, como Cole Porter observou, as pessoas não estejam inclinadas a praticar seu esporte favorito quando o clima está escaldante. Isso é confirmado por uma ligeira recuperação em todos os estudos nos meses seguintes a uma queda na taxa de natalidade ou TFR, sugerindo que alguma concepção é meramente adiada.

Mas os dados revelam que há mais do que isso. Em 2022, o Hajdu publicou um artigo com seu irmão, Gabor Hajdu, no Centro de Ciências Sociais HUN-REN, que rastreou a taxa de concepção da Hungria em função do clima. Como eles tinham acesso a dados semanais de gravidez, em vez de apenas à taxa de natalidade mensal, eles conseguiram obter uma imagem mais detalhada.

Eles descobriram que as gestações não eram muito menos prováveis em dias quentes do que em dias frios — a queda ocorreu cerca de duas semanas depois.

Isso pode sugerir que um mecanismo fisiológico de ação lenta é o responsável. Se for assim, é provável que envolva espermatozoides.

Estudos em animais mostraram quedas pronunciadas, mas temporárias, na contagem e qualidade de espermatozoides após choques de calor induzidos experimentalmente. Crucialmente, esses efeitos surgiram gradualmente algumas semanas após o término da exposição ao calor. Outro estudo mostrou resultados semelhantes em humanos, com estresse por calor levando à redução da qualidade e mobilidade do esperma de duas a oito semanas depois.

Seja qual for a causa, o efeito do calor nas taxas de fertilidade parece ser modesto e continua sendo parcialmente revertido. Por enquanto, diz Keivabu, as tendências sociais, culturais e econômicas são mais importantes.

À medida que o aquecimento global se aprofunda, especula Hajdu, verões ainda mais quentes podem aumentar o efeito ou prolongar seu impacto.

Tudo isso pode ser outro argumento para o ar-condicionado. No estudo americano, que incluiu dados de 1931, o impacto do calor na fertilidade começou a diminuir na década de 1970, à medida que o ar-condicionado foi mais amplamente adotado. "Netflix e chill" pode precisar entrar novamente no léxico.

Texto do The Economist, traduzido por Diego Alejandro, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado em www.economist.com

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