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Marília de Camargo Cesar

O profeta das bets está seduzindo os evangélicos

Marketing das empresas de apostas utiliza uma linguagem cara aos cristãos: a da profecia

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Marília de Camargo Cesar

cristã, jornalista e autora de "O Grito de Eva" e "Feridos em nome de Deus"

O canto de Mamom tem atingido seus objetivos. Como muitos brasileiros, que segundo os economistas do Itaú perderam com as bets R$ 23,9 bilhões entre junho de 2023 e junho deste ano, os evangélicos também estão apostando e... perdendo. Além do prejuízo financeiro e das dívidas, estão se tornando adictos do jogo.

Não há estatísticas sobre o número de evangélicos apostando, mas os sinais são fortes. Quem me conta é Roseni Welmerink, diretora nacional do Celebrando a Recuperação (CR), um programa terapêutico cristão para tratamento de vícios, compulsões ou, simplesmente, de maus hábitos, inspirado nos 12 passos do Alcoólicos Anônimos. "Tem sido uma das maiores demandas dos últimos dez anos: formar um novo grupo específico para lidar com a compulsão por apostas. Isso tem se acirrado nesses últimos três anos", afirma Roseni.

Os sites de apostas online também estão viciando os evangélicos - Folhapress

É curioso notar como o marketing das empresas de apostas, sempre atento às tendências, utiliza uma linguagem cara aos cristãos —a da profecia. Profetizou, ganhou, sacou. O que tem um valor espiritual ganha o toque mágico de Mamom —a divindade que Jesus associa ao dinheiro. Profetize, irmão, aposte e ganhe muita grana. "Segue a voz do profeta", completa o slogan de um comercial de jogos on-line.

Para receber os que estão chegando, o CR está capacitando voluntários para atuar com os novos membros e deve formar um grupo específico sobre o assunto neste semestre. Esses colaboradores enfrentam o mesmo problema da compulsão, mas estão no controle da situação há um bom tempo. "Não podemos ter neófitos nessa área, ou seja, alguém que acabou de ficar limpo, porque a possibilidade de recaída é muito grande."

O CR divide seus frequentadores em grupos temáticos. Dependência química, codependência emocional, baixa autoestima, compulsão sexual, alimentar e até a procrastinação são alguns dos assuntos tratados em pequenos grupos de escuta, em reuniões semanais. O local de encontro são as igrejas inscritas no programa. Segundo Roseni, no Brasil, o trabalho cresce em ritmo acelerado, e já atinge 550 comunidades em 20 estados.

Entre as diferenças com relação ao modelo dos Alcoólicos Anônimos está o fato de que, no CR, as pessoas recorrem à ajuda de Deus e de Jesus para lidar com suas angústias. Uma das regras para participar das reuniões é o sigilo absoluto —o que é dito ali, fica ali. E, ao ouvir os depoimentos, ter o compromisso de não dar palpite nem fazer julgamentos.

O CR foi criado em 1991, na Califórnia, por John Baker (1949-2021), um cristão que lutava contra o alcoolismo e frequentava sessões do AA. Por sentir falta do lado espiritual do trabalho, concebeu um sistema parecido, porém "cristocêntrico". O início foi na Saddleback Church, uma megaigreja batista em Lake Forest, liderada pelo pastor e autor best-seller Rick Warren. O movimento se expandiu e hoje está em 35 mil igrejas, em cerca de 90 países, tendo beneficiado mais de 7 milhões de pessoas —incluindo prisioneiros nos sistemas públicos estaduais no Novo México e na Califórnia.

No Brasil, o trabalho teve início em Fortaleza (CE), na Igreja Batista Central, com Nelson e Roswitha Massambani. Roseni lidera os encontros do CR na Igreja Batista de Água Branca, em São Paulo.

O CR tem ajudado muitas famílias destruídas pelo alcoolismo, dependência química e o isolamento emocional provocado pelo vício em pornografia —outra demanda que cresce fortemente.

Na igreja Saddleback, 70% dos participantes do programa vieram de fora da comunidade, e muitos não eram cristãos. Por encontrarem ali uma saída eficaz para seus problemas, muitos acabaram ficando e associando terapia e fé.

Imagino que por aqui possa acontecer o mesmo. A praga das bets, desta forma, atrairia novos participantes para o CR e, eventualmente, para as igrejas, contribuindo, veja só, para aumentar o número de evangélicos. Portanto, fique atento quando te convidarem a profetizar ou a ouvir a voz do profeta.

Para mais informações sobre o CR: www.celebrandoarecuperacao.org.br

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