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Daniel Guanaes

Você pode estar em depressão e não saber disso

A doença não afeta apenas quem é sedentário, se alimenta mal ou usa drogas

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Daniel Guanaes

PhD em teologia pela Universidade de Aberdeen, é pastor presbiteriano, psicólogo e líder do movimento Pastores pela Vida (Visão Mundial)

Na última semana, o Cruzeiro, time de futebol de Minas, divulgou uma campanha pelo Setembro Amarelo. Os jogadores Byanca Brasil e Matheus Pereira falaram sobre o seu enfrentamento à depressão. "Ué," você pode ter pensado, "atleta tem depressão?"

É esse o argumento da campanha, mostrar que a depressão não afeta apenas quem é sedentário, se alimenta mal ou usa drogas. Muita gente —talvez você que está lendo este artigo agora— esteja sofrendo em silêncio, sem procurar ajuda, por não achar que você tem perfil depressivo. E se for este o caso, você não está sozinho.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, 300 milhões de pessoas sofrem de depressão no mundo. O Brasil é o país da América Latina com maior prevalência da doença: 5,8% da população vivem com depressão, o que corresponde a 11,7 milhões de pessoas. Além disso, a depressão é a doença mais incapacitante do mundo, e também a mais associada ao suicídio —principalmente quando não é tratada.

O meia cruzeirense Matheus Pereira participou da campanha do Setembro Amarelo, falando de sua fase depressiva - AFP

Quando compartilhei a campanha do Cruzeiro com meus amigos em um grupo de WhatsApp, a primeira reação foi: "E são atletas!". Eu entendo o espanto. A depressão, no entanto, é uma doença multifatorial, passível de aparecer em qualquer pessoa, inclusive em quem se alimenta bem, descansa e se exercita.

Uma pessoa pode se tornar clinicamente deprimida por fatores psicológicos e ambientais como eventos estressantes, perdas e traumas. E também pode decorrer de fatores genéticos e metabólicos. Ou ainda uma mistura deles. Como nem sempre o que gera a depressão é um motivo aparente, é importante que as pessoas estejam mais atentas aos sintomas do que às possíveis causas.

Na campanha, por exemplo, Byanca contou que se sentiu triste sem motivo aparente, perdeu o brilho de jogar futebol e viu que precisava de ajuda. "Eu sou muito expressiva, alegre, e isso ficou muito nítido", disse a atleta.

Mateus também falou sobre como foi importante identificar os sintomas. "As pessoas criam um bloqueio, porque estão passando por uma dificuldade interior e não querem reconhecer porque acham que vão se sentir fracas."

Mas nem sempre é fácil identificar um quadro de depressão. Alguns sintomas da doença podem ser confundidos com comportamentos cotidianos, como preguiça, mau humor ou má vontade. Daí a importância de ouvir um profissional de saúde mental.

E qual é a hora de fazer isso? Quais características devem servir como alerta para alguém investigar a existência desse quadro clínico?

Observe alterações significativas e crônicas no comportamento. Algo pode estar acontecendo quando uma pessoa fica com o humor muito alterado com frequência, por exemplo, se retrai ou se isola. Tive um paciente adolescente cuja mãe estranhou o fato de ele não querer mais jogar bola com os amigos, estar sempre irritado, e recolhido no quarto. Foi o que a levou ao consultório do psiquiatra, onde seu filho recebeu o diagnóstico da depressão.

Outros sintomas comuns da doença são alteração no apetite e no sono, falta de concentração, culpa, vazio e desesperança, além de pensamentos crônicos sobre a morte. Quando esses quadros aparecem com persistência, é hora de buscar ajuda.

O tratamento da depressão é um tabu para muita gente. No vídeo da campanha, a jogadora do Cruzeiro desabafa: "As pessoas acham que quem faz terapia está maluco. Maluco é quem não faz terapia". Byanca tem razão. Com dados tão contundentes sobre a depressão e os seus efeitos, o que justifica uma resistência a buscar tratamento para a doença?

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