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Livro sobre danos do celular a crianças e jovens vira fenômeno de venda no Brasil

'A Geração Ansiosa', de Jonathan Haidt, vende 25 mil exemplares em duas semanas; projeto de lei para banir uso do aparelho nas escolas de SP une direita e esquerda

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São Paulo

O livro "A Geração Ansiosa", do psicólogo norte-americano Jonathan Haidt, que trata dos graves prejuízos causados pelo uso do celular a crianças e adolescentes, vem batendo recordes de venda internacionalmente –está há 19 semanas na lista dos mais vendidos do New York Times–, e já se tornou um fenômeno editorial no Brasil. Com apenas duas semanas desde o lançamento no país, foram vendidos 25 mil exemplares.

A obra já foi lançada em mais de 20 países e em pelo menos 14 idiomas. Nos EUA, foram mais de 600 mil exemplares vendidos e, no Reino Unido, mais de 100 mil.

A edição brasileira do livro é da Companhia das Letras, que antecipou em seis meses o lançamento diante da explosão da procura. Só na pré-venda, foram 5.000 exemplares, um recorde para a editora, posteriormente batido pelo livro de Felipe Neto, "Como Enfrentar o Ódio", que será lançado em setembro e já vendeu mais de 10 mil cópias.

O pediatra Daniel Becker, em palestra no lançamento do livro 'A Geração Ansiosa', que se tornou um fenômeno de venda ao abordar os prejuízos do celular e das redes sociais para crianças e jovens - Rafaela Araújo/Folhapress

Depois da tiragem inicial de 25 mil exemplares de "A Geração Ansiosa", a Companhia das Letras já fez duas novas reimpressões, de 15 mil e 10 mil. Para se ter ideia do quanto esses números representam, a tiragem média dos livros no Brasil gira em torno de 3.000 exemplares. Além disso, foram também vendidas 2.000 cópias de e-books.

Diante do sucesso, a Companhia das Letras organizou um evento de lançamento no Cinesala, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, com cobrança de ingresso. As entradas se esgotaram em três dias, mesmo com o lançamento não contando com a presença do autor, que está com a agenda tomada pelo menos até o final do ano.

O evento teve palestra do pediatra Daniel Becker, influente nas redes sociais, que assinou a contracapa de "A Geração Ansiosa". Como Haidt, ele lista pesquisas que apontam problemas de saúde mental, aprendizado e de desenvolvimento físico e socioemocional, relacionados ao uso do celular, para defender que crianças e adolescentes até 14 anos não tenham smartphones, e que as redes sociais só sejam utilizadas a partir dos 16. Ambos também militam pela proibição do uso do celular em todo o ambiente escolar, nas aulas e nos intervalos, do infantil até o ensino médio.

Lançamentos de livros com cobrança de ingresso já foram organizados pela editora, com nomes de projeção, como Fernanda Torres, Arnaldo Antunes, Camila Sosa Villada e Gregório Duvivier. É uma espécie de lançamento-show, com alguma apresentação, como a leitura, pelos autores, de trechos da obra. O de "A Geração Ansiosa" foi o primeiro nesse formato sem o autor. Havia ingressos exclusivos para a palestra de Daniel Becker (R$ 80) e o combo palestra/livro (R$ 100) –o livro custa R$ 74,90.

O evento teve apoio institucional do Movimento Desconecta, que foi criado por mães de São Paulo com os mesmos propósitos defendidos por Haidt e tem pressionado as escolas a banir o uso do celular por estudantes. Lançado há dois meses, já tem mais de 33 mil seguidores no Instagram e a adesão de 277 escolas em 19 estados.

A deputada estadual Marina Helou (Rede-SP), autora de um projeto de lei para proibir os celulares nas escolas públicas e particulares em São Paulo, esteve presente ao evento. Na Assembleia Legislativa, foi aprovado um requerimento para a votação em regime de urgência, e a expectativa é que a proposta seja votada em breve.

O projeto de lei conseguiu unir deputados de direita e esquerda. Entraram como coautores da proposta a deputada Professora Bebel, do PT, de Lula, Lucas Bove, do PL, de Bolsonaro, e Altair Moraes, do Republicano, do governador Tarcísio de Freitas.

GRUPO DE PAIS

Na plateia do lançamento de "A Geração Ansiosa", havia, em especial, pais e professores, que, ao final da palestra, tiraram dúvidas de como tentar, na prática, reduzir a exposição de crianças e adolescentes aos celulares e às redes sociais.

Responsável pela edição brasileira do livro, Camila Berto conta que a Companhia das Letras tem sido muito procurada por grupos de pais interessados em organizar eventos para debater o livro. "Esse sucesso diz muito sobre o grau de preocupação de pais, educadores e da sociedade como um todo com esse tema", afirma. "Isso vem numa esteira pós-pandemia, de repensarmos nossa relação e a das crianças com as telas."

Presente ao lançamento, a advogada Letícia Abdalla, 45, que tem filhos de 7 e 12 anos, conta que soube do evento no grupo de pais da escola. "Eu vim porque quero entender melhor os malefícios do celular e esse movimento de desconexão, inclusive para levar esse debate para a escola dos meus filhos", afirmou.

Psicóloga e pedagoga, Roberta Sanches, 45, tem filhos 9 e 13 anos e foi ao evento pois acha importante "se letrar no tema, como profissional e como mãe", inclusive para ter repertório para ponderar sobre o celular com o mais velho, que já tem um aparelho.

Algumas crianças também acompanharam a palestra de Becker. "Eu acho essa discussão boa e ruim", disse Violeta, de 11 anos, que foi ao evento com a mãe, Fabiana Tarantino Zurita, 40, para tentar entender por que os pais só vão presenteá-la com um celular aos 14. "É ruim porque estou bem mais longe de ganhar um celular. E é boa é porque, na palestra, eu comecei a entender por que meus pais estão proibindo o celular, prolongando o tempo para eu começar a usar", afirmou a estudante. "É porque não é benéfico para a minha saúde, para o meu cérebro", explicou.

A maioria da turma de Violeta na escola tem celular, assim como a de João Egreja, 11, que também não ganhou um aparelho ainda e foi assistir à palestra. Ele conta que, de vez em quando, usa o celular de sua mãe. Foi assim que conheceu Daniel Becker pelo Instagram, virou fã do pediatra, soube do lançamento do livro e quis ir ao evento.

"Eu noto que há muito consumismo por causa das redes sociais. E as meninas, principalmente, estão se adultizando", disse, com o repertório já afiado. "Eu gostaria que os celulares fossem proibidos na minha escola porque meus amigos ficam melhor sem eles", afirmou o garoto, que foi levado ao evento por sua avó, Cristina Egreja. "Eu acho uma pena ser da geração ansiosa, viciada em celular", lamentou João.

Cinesala, em São Paulo, lotou na última quarta-feira (7), com a palestra do pediatra Daniel Becker no lançamento de 'A Geração Ansiosa', de Jonathan Haidt , no Brasil; o livro aborda os prejuízos do celular e das redes sociais para crianças e adolescentes e virou fenômeno de vendas - Rafaela Araújo/Folhapress

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