Siga a folha

Descrição de chapéu
Luciano Ramos

Paternidade é construção diária que se vive desde o pré-natal

Ser pai não se relaciona com dom ou vocação, como diz o senso comum; tudo é aprendizado

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Luciano Ramos

É especialista em primeira infância pelo Núcleo de Ciência pela Primeira Infância da Universidade Harvard e autor do livro infantil "Quinzinho" (Caqui, 2020). Atua como diretor adjunto do Instituto Promundo

Escrever sobre paternidade no Brasil é um desafio, uma vez que, por exemplo, uma pesquisa realizada pelo IBDFAM (Instituto Brasileiro de Direito de Família), no primeiro semestre de 2022, aponta que mais de 100 mil crianças não tiveram o nome do pai no registro de nascimento. A paternidade, na sociedade ocidental, sempre esteve ancorada à forma de ser homem e as performances de masculinidade e, historicamente, se manifesta através de práticas machistas.

Um dos pilares do machismo é o não reconhecimento do homem como cuidador, como indivíduo que desenvolve atividades e tarefas domésticas. O objetivo deste texto é promover um olhar para práticas paternais baseadas no fortalecimento de vínculo.

Paternidade não se trata de dom, significa frequente aprendizado - Lívia Serri Francoio

A gestação é o primeiro e mais importante momento em que o homem pode se vincular ao bebê. Para isso, setores, como o sistema de saúde, precisarão contribuir para a formação deste vínculo. Tenho aqui algumas dicas para participação ativa no pré-natal:

  1. Vá a todas as consultas com a sua companheira ou a mãe do bebê;

  2. O SUS oferece o Programa de Pré-Natal do Pai, que é importante para que o pai seja cuidado na gestação, assim como aprenda como cuidar ainda na gravidez e no puerpério;

  3. O sistema privado de saúde oferece muitos cursos de cuidado com o bebê durante a gestação. Participe! É importante!

  4. Converse com o bebê ainda na barriga. Ali, você começa a criar conexões com o seu filho ou a sua filha;

  5. Participar do parto é necessário! A participação neste momento, além de reduzir a possibilidade de violência obstétrica, será o primeiro toque no seu bebê, logo no nascimento;

  6. Os primeiros cuidados com a criança poderão ser feitos pelo pai, junto com a equipe de saúde.

Aqui, vai um apelo aos profissionais de saúde do Brasil inteiro: por favor, incentivem os pais para que participem de todas as etapas até o nascimento do bebê. É importante retirar a ideia de que a sala de espera do pré-natal é um espaço feminino. Ela é, também, um espaço para os homens. Incentivar que eles participem do parto é estratégico para a criação e fortalecimento de vínculo com os filhos, além da promoção de um bom trabalho de parto e dos primeiros cuidados com a criança.

Não delegar esses cuidados para a avó ou outra pessoa, mas serem executados pelo pai, é crucial para a criação de laços de cuidado e proteção.

Quando o pai participa ativamente do pré-natal, também saberá que tem um papel importante na amamentação. A não romantização dessa prática, a busca por banco de leite no território onde se vive (quando há necessidade) ajuda, também, a promover um ambiente seguro para amamentação.

Importante lembrar que os pais por adoção precisam vivenciar todo o processo de espera, preparando-se para o exercício de cuidado e proteção. Os primeiros cuidados, ainda que desenvolvidos com medos, preocupações e ansiedade, precisarão ser exercidos. Tudo é aprendizado! E nesse processo, ler, buscar ajuda e participar de grupos sobre paternidade e cuidado será o melhor caminho.

Paternidade, assim como maternidade, não se relaciona com "dom" ou "vocação", como costuma ser dito no senso comum. É aprendizado!

Dessa forma, na primeira infância (período que corresponde de 0 à 6 anos), momento mais importante da vida da criança (época em que o cérebro tem o seu desenvolvimento mais intenso), a relação do pai com o filho ou filha é extremamente necessária no fortalecimento dos vínculos e cuidados. Esses laços avançam para todas as etapas da vida, na segunda infância, na adolescência e na juventude.

Já na adolescência, a relação dos pais com os filhos e filhas se torna especialmente importante por ser um momento em que surgem muitas inseguranças. Estar por perto para escuta, aconselhamento e diálogo, além de criar referências para os jovens (reconhecimentos de masculinidades positivas), é crucial para os meninos e as meninas.

A paternagem, assim como a maternagem, é um lugar constante de insegurança e medos. Mas também é um lugar de alegrias e aprendizados. Não precisamos romantizar esses papéis, mas vivenciá-los! Busque redes de pais!

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas