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Descrição de chapéu The New York Times

Adultos mais velhos não se beneficiam do consumo moderado de álcool, aponta grande estudo

Cientistas recorrem a novas metodologias para corrigir pesquisas que mostravam benefícios do consumo

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Roni Caryn Rabin
The New York Times

Mesmo o consumo leve de álcool foi associado a um aumento nas mortes por câncer entre adultos mais velhos na Grã-Bretanha, relatam pesquisadores em um grande estudo publicado na segunda-feira (12). Mas o risco foi acentuado principalmente naqueles que tinham problemas de saúde existentes ou que viviam em áreas de baixa renda.

O estudo, que acompanhou 135.103 adultos com 60 anos ou mais por 12 anos, também desmente a crença de longa data de que o consumo leve ou moderado de álcool é bom para o coração.

Os pesquisadores não encontraram redução nas mortes por doenças cardíacas entre os bebedores de quantidades leves ou moderadas, independentemente da saúde ou status socioeconômico, quando comparados com bebedores ocasionais.

Estudo acompanhou 135.103 adultos com 60 anos ou mais por 12 anos - Fiocruz Imagens

O estudo definiu consumo leve como uma ingestão média de álcool de até 20 gramas por dia para homens e até 10 gramas diários para mulheres. (Nos Estados Unidos, uma bebida padrão contém 14 gramas de álcool.)

"Não encontramos evidências de uma associação benéfica entre o consumo baixo de álcool e a mortalidade", diz Rosario Ortolá, professora assistente de medicina preventiva e saúde pública na Universidad Autónoma de Madrid e autora principal do artigo, que foi publicado na JAMA Network Open.

Por outro lado, ela acrescenta, o álcool provavelmente aumenta o risco de câncer "desde a primeira gota".

As descobertas se somam a um crescente corpo de evidências que está mudando o paradigma na pesquisa sobre álcool. Cientistas estão recorrendo a novas metodologias para analisar os riscos e benefícios do consumo de álcool na tentativa de corrigir o que alguns acreditam ser falhas graves em pesquisas anteriores, que pareciam mostrar benefícios do consumo.

Grande parte dessa nova pesquisa compara as taxas de doenças cardíacas e morte em bebedores moderados e ocasionais, em vez de abstêmios. Os abstêmios como grupo incluem muitos indivíduos que pararam de beber porque já estavam gravemente doentes, e confiar nesse grupo para comparações pode ter feito com que os bebedores de quantidades leves parecessem mais saudáveis falsamente.

O novo estudo surge em meio a uma luta em curso sobre a orientação oficial dos EUA sobre o consumo de álcool. Dois grupos científicos estão preparando relatórios sobre a relação entre álcool e saúde antes de uma atualização das Diretrizes Dietéticas dos EUA.

Um grupo é um subcomitê intergovernamental que inclui representantes de numerosas agências de saúde. Ele lançou um estudo sobre consumo de álcool e saúde em abril de 2022. O outro grupo, financiado pelo Congresso no mesmo ano para fazer uma revisão muito semelhante, foi convocado pela Nasem [National Academies of Science, Engineering and Medicine ou, em tradução livre, Academia Nacional de Ciências, Engenharia e Medicina dos Estados Unidos].

Inicialmente, um dos dois especialistas em álcool que a Nasem nomeou para seu comitê foi Kenneth Mukamal, pesquisador do centro médico Beth Israel Deaconess, que é um afiliado de ensino da Escola de Medicina de Harvard.

Seu ensaio sobre consumo moderado de álcool, que custaria US$100 milhões, foi interrompido em 2018 após revelações de que ele havia solicitado financiamento diretamente da indústria do álcool enquanto sugeria que o estudo provaria os benefícios do consumo.

A Nasem retirou as duas nomeações após o The New York Times divulgá-las, mas substituiu Mukamal por outro cientista de Harvard com laços com a indústria do álcool.

As diretrizes dietéticas atuais dos EUA afirmam que "beber menos é melhor para a saúde do que beber mais" e que adultos com 21 anos ou mais devem, nos dias em que consomem álcool, limitar-se a uma bebida por dia para mulheres e duas para homens.

No ano passado, o Centro Canadense de Uso e Abuso de Substâncias emitiu uma nova orientação afirmando que nenhuma quantidade ou tipo de álcool é bom para a saúde e que "mesmo uma pequena quantidade de álcool pode ser prejudicial à saúde".

Pessoas que consomem de uma a duas bebidas por semana "provavelmente evitarão consequências relacionadas ao álcool", disse o centro. Mas o risco de câncer aumenta com três a cinco bebidas semanais, e o risco de doenças cardíacas e derrames aumenta com sete ou mais bebidas semanais, de acordo com as diretrizes canadenses.

A Organização Mundial da Saúde diz que mesmo níveis baixos de consumo de álcool "podem trazer riscos à saúde", mas acrescenta que "a maioria dos danos relacionados ao álcool vem do consumo pesado episódico ou contínuo".

O novo estudo descobriu que, embora adultos mais velhos que bebiam quantidades leves enfrentassem riscos mais altos de morte se tivessem fatores de risco relacionados à saúde ou socioeconômicos, beber principalmente vinho e apenas junto às refeições moderou o risco, especialmente de morte por câncer.

As razões não eram totalmente claras, diz Ortolá. Mas a redução pode ser devido à absorção mais lenta de álcool, ou pode refletir outras escolhas saudáveis feitas por essas pessoas.

Também não ficou claro por que indivíduos com fatores de risco de saúde e socioeconômicos podem ser mais suscetíveis aos resultados prejudiciais associados ao álcool, já que este foi um dos primeiros estudos a examinar a questão.

É possível que essas pessoas tenham uma tolerância reduzida ao álcool, sugerem os autores; elas também podem estar tomando medicamentos que interagem mal com o álcool.

No geral, o consumo moderado de álcool —definido como entre 20 e 40 gramas de álcool diariamente para homens e entre 10 e 20 gramas para mulheres— foi associado a um maior risco de morte por todas as causas e um maior risco de morrer de câncer.

O consumo mais pesado —acima de 40 gramas por dia para homens e acima de 20 gramas por dia para mulheres— foi associado a maiores mortes por todas as causas, bem como câncer e doenças cardiovasculares.

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