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Descrição de chapéu The New York Times

O que as nossas emoções podem nos ensinar sobre a inteligência

Na maioria das vezes, os sentimentos guiam a razão e nos tornam mais racionais

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David Brooks
The New York Times

Se pedissem que eu listasse os principais avanços intelectuais dos últimos 50 anos, a revolução em nossa compreensão das emoções sem dúvida estaria entre eles.

No pensamento ocidental, durante milhares de anos, era comum achar que existia uma guerra eterna entre a razão e nossas emoções. De acordo com ele, a razão é fria, racional e sofisticada. As emoções são primitivas, impulsivas e podem nos levar pelo caminho errado.

Na maioria das vezes, as emoções guiam a razão e nos tornam mais racionais - PIXAR

Uma pessoa sábia usa a razão para ter domínio e controle sobre as paixões primitivas. Um cientista, um executivo ou qualquer bom pensador deve tentar ser objetivo e desapegado das emoções, como um computador ambulante que avalia as provas com cautela e calcula o caminho mais inteligente a ser seguido.

Mas a neurociência moderna desferiu um golpe nessa maneira de pensar: se antes acreditávamos que as paixões eram primitivas e destrutivas, agora entendemos que são, com frequência, sábias.

Na maioria das vezes, as emoções guiam a razão e nos tornam mais racionais. O problema é que nossa cultura e nossas instituições não se adequaram ao conhecimento que temos. Continuamos vivendo em uma sociedade excessivamente obcecada com a capacidade intelectual bruta.

Nossas escolas classificam as crianças com base em sua aptidão em exames padronizados, menosprezando o tipo de sabedoria que reside no corpo e que é igualmente importante para o sucesso. Nossos modelos econômicos se baseiam na ideia de que o ser humano é uma criatura racional que calcula friamente os próprios interesses, e depois nos surpreendemos quando os investidores entram na euforia de uma bolha do mercado de ações.

Muita gente está distante da própria vida interior porque não sabe como funcionam suas emoções. Vejo toda a tristeza e a mesquinhez do mundo e concluo que não somos bons em construir conexões emocionais saudáveis.

O que a neurociência moderna nos ensinou? Bem, as coisas começaram a se desenvolver verdadeiramente em 1994, quando António Damásio publicou seu livro clássico, "O Erro de Descartes". O autor havia estudado pacientes que tinham problemas para processar emoções. Não eram superinteligentes como Spock, personagem de "Jornada nas Estrelas". Eram incapazes de tomar decisões, e a vida deles havia saído de controle. Damásio demonstrou que as emoções atribuem habilmente valor às coisas, e que, sem saber o que é importante, ou o que é bom ou ruim, o cérebro fica só rodando em círculos. As emoções e a razão são um sistema integrado para uma boa tomada de decisões.

Desde então, os neurocientistas se dedicam ao estudo das emoções. Atualmente, entendemos melhor como estas se formam e o que fazem por nós. Para simplificar um pouco, abaixo da consciência o corpo reage constantemente aos eventos ao seu redor: o coração acelera ou desacelera, a respiração encurta ou se prolonga, o metabolismo funciona suavemente ou fica descompensado. Muitas dessas reações têm lugar no sistema nervoso entérico, do trato gastrointestinal, às vezes chamado de "o segundo cérebro".

A cada segundo de cada dia, o cérebro monitora os sinais que o corpo envia e se apressa em atribuir um significado a eles. Esse conjunto de respostas corporais é o nervosismo? A ansiedade? Não. É o terror! O corpo entra em ação e a mente constrói uma experiência emocional. Parece que ficamos assustados e começamos a fugir da ameaça. Mas, como o psicólogo William James disse, é mais correto dizer que começamos a correr da ameaça e depois nos assustamos.

As emoções nos colocam no estado mental adequado para que possamos pensar de maneira eficaz sobre a situação em que nos encontramos. Em outras palavras, as emoções inclinam a mente em uma direção ou outra, dependendo das circunstâncias.

A indignação nos ajuda a nos concentrarmos na injustiça. A admiração faz com que nos sintamos pequenos diante da grandeza e nos motiva a ser bom com os outros. A euforia nos deixa dispostos a assumir riscos. A felicidade nos torna mais criativos e flexíveis. A repulsa nos prepara para rejeitar comportamentos imorais. O medo ajuda a amplificar os sentidos e a melhorar a atenção. A ansiedade nos coloca em um estado de ânimo pessimista, menos propensos a correr riscos. A tristeza melhora a memória, nos ajuda a fazer julgamentos mais precisos e nos torna comunicadores mais claros e mais atentos à justiça.

O neurocientista John Coates observou que o corpo é como "uma força discreta e influente, atuando nos bastidores do cérebro, aplicando pressão de forma eficaz no ponto certo, na hora certa, para nos ajudar a estar preparados para o movimento". Mas Coates também sabe que, às vezes, nossas emoções nos colocam em um estado mental autodestrutivo.

Em seu livro "The Hour Between Dog and Wolf" (A hora entre o cão e o lobo), Coates descreve como o mercado pode mudar a mentalidade emocional dos operadores: "Quando o mercado está em alta e começa a validar as crenças dos investidores, os lucros que eles obtêm se traduzem em muito mais do que mera ganância, porque dão origem a poderosos sentimentos de euforia e onipotência. A avaliação do risco é substituída por julgamentos de certeza, porque eles estão seguros do que virá a seguir. Até seu andar passa a ser distinto: a postura fica mais ereta, mais determinada, transmitindo um sinal de perigo, e sua expressão corporal parece dizer: 'Não se meta comigo.'"

Como os operadores podem fazer seu trabalho sem que o sistema financeiro mundial colapse? A resposta não é reprimir as emoções. Os tomadores de decisões precisam delas para assumir riscos e se aventurar.

Eles precisam é de autoconsciência emocional. As pesquisas de Coates e outros demonstram que os operadores eficazes são hipersensíveis às mudanças físicas —por exemplo, as variações nos batimentos cardíacos. O ato de verbalizar uma emoção é uma ótima maneira de colocá-la em perspectiva.

Um dos meus métodos favoritos para a gestão emocional, chamado Ruler, vem de Marc Brackett, da Universidade Yale, estudioso das emoções, que ensina as pessoas a reconhecer, compreender, rotular, expressar e regular suas emoções. (Seu livro de 2019, "Permissão para Sentir", é um guia para o processo.)

Para tomar as grandes decisões da vida, é preciso ser um grande atleta emocional. Sempre soubemos que as emoções são fundamentais na arte da conexão humana. Atualmente, entendemos que elas também são cruciais para ser uma pessoa racional e eficaz no mundo. Mesmo assim, a maioria de nós é emocionalmente inarticulada.

Quando alguém é demitido, raramente é por falta de habilidades técnicas; quase sempre é porque não pode ser treinado, tem problemas de raiva ou é um mau colega de equipe. Em outras palavras, carece de habilidades emocionais, fato que, com frequência, passa despercebido no processo de contratação.

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