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Ozempic e o retorno do culto à magreza extrema

Medicamento para diabetes tem se tornado popular junto com estética que predominou nos anos 2000

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Anna Chaika Djamilia Prange de Oliveira
DW

Movimento do corpo positivo vem perdendo espaço com a volta da estética "heroin chic", que predominou no início dos anos 2000. O medicamento para diabetes Ozempic, que tem sido usado para o emagrecimento, conquistou Hollywood. Celebridades como Oprah Winfrey, Stephen Fry, Kelly Clarkson, Elon Musk e outros famosos confessaram o uso de medicamentos para perda de peso.

Ozempic e o retorno do culto à magreza - Reuters

A crescente popularidade do Ozempic ocorre num momento de retorno da estética Y2K (anos 2000), uma tendência que incorpora a nostalgia da moda, da cultura pop e da música da geração da virada do milênio –e, é claro, de ícones como Paris Hilton, Britney Spears, Christina Aguilera e Kate Moss. Com seus jeans de cintura baixa, piercings no umbigo e minissaias, o renascimento da moda do início dos anos 2000 trouxe de volta a obsessão pela magreza extrema que definiu a era da "heroin chic".

O ozempic foi lançado em 2017 como um medicamento injetável para diabetes. Seu ingrediente ativo é o semaglutida. O medicamento se tornou viral nas redes sociais há cerca de dois anos, depois que influenciadores começaram a compartilhar suas experiências de perda de peso de maneira rápida. Hoje, a hashtag #ozempic tem milhões de visualizações no TikTok e no Instagram.

O medicamento começou a ser usado não apenas por quem lutava contra a obesidade ou a diabetes, mas também por aqueles que simplesmente queriam perder um pouco de peso para o verão. Ele se tornou tão popular que começou a faltar para os pacientes com diabetes, os que realmente precisam do ozempic.

A Novo Nordisk, a gigante farmacêutica dinamarquesa que produz o Ozempic e o Wegovy –este último, também com a substância ativa semaglutida, aprovado para o tratamento da obesidade e sobrepeso–, é atualmente a empresa mais valiosa da Europa.

Ozempic e a moda da virada do milênio

O Ozempic teve até mesmo seus cinco minutos de fama durante a semana de moda de Berlim, quando a marca Namilia exibiu na passarela uma camiseta com os dizeres "I love Ozempic". A peça provocante causou reações negativas de usuários de redes sociais e da imprensa, com alguns considerando a ação "tóxica" e "superficial".

Após a reação, a Namilia anunciou que a peça nunca foi feita para ser vendida, mas se trata de "uma camiseta irônica com slogan fazendo refletir sobre as pressões da fama, a cultura das celebridades e os ideais inatingíveis de corpo".

Khan, uma modelo plus size teuto-turca que desfilou pela Namilia (embora não com a polêmica camiseta), não entende a indignação. Ela acredita que a mensagem não era celebrar o ozempic, mas sim criticar como a moda está voltando para a estética "heroína chique", associada a modelos magras e pálidas como Kate Moss ou Gia Carangi, que foi viciada em heroína e morreu aos 26 anos de complicações causadas pela aids.

Kate Moss é ícone da estética Y2K (dos anos 2000) - @__katemoss no Instagram

O termo bastante problemático "heroína chique", que glorifica o abuso de drogas e o tamanho 0, foi popularizado pelo fotógrafo Davide Sorrenti, que usou a estética em seu trabalho, retratando modelos de pele pálida, olheiras e um corpo muito magro.

Para Khan, "heroína chique" é mais um termo que cria tendências de corpos. "A cada ano, surge uma nova tendência. Definitivamente, o termo ‘heroína chique’ vive um grande retorno para a moda. Antes, era o corpo positivo, mas, de um ano e meio para cá, estamos vendo menos curvas nas passarelas", observa.

Adeus, corpo positivo?

Como uma das poucas modelos plus size do setor, Khan sente o retorno do ideal do tamanho PP. "Muitas vezes tive trabalhos confirmados e depois cancelados após a verificação do meu tamanho, como aconteceu, por exemplo, com um trabalho para a Jean Paul Gaultier", conta à DW.

Particularmente no setor de alta-costura, diz Khan, modelos magras são novamente as preferidas, ecoando o legado controverso deixado por estilistas como Karl Lagerfeld. Entre outras coisas, Lagerfeld é lembrado por declarações gordofóbicas como: "Ninguém quer ver modelos com curvas na passarela", ou por chamar a cantora Adele de "um pouco gorda demais".

Uma reportagem recente da Vogue Business confirma as observações de Khan: na temporada de desfiles de outono/inverno de 2024, menos de 1% das modelos era plus size.

Paula Villa Braslavsky, professora de sociologia e estudos de gênero da Universidade de Munique, diz que ser magro nunca saiu de moda, nem nas passarelas e nem nas ruas. "A sociedade sempre julgou o peso", diz. "Desde o final do século 19, é uma questão moral. Quem está acima do peso é considerado preguiçoso, estúpido, sem educação, moralmente depravado ou desinteressado."

A especialista teme que a normalização de medicamentos para perda de peso, como o ozempic, possa intensificar a vergonha do corpo e o preconceito.

"Para as mulheres, a percepção do que é o peso ‘certo’ sempre foi mais limitada do que para os homens", observa Braslavsky. "Os limites são mais rígidos porque, historicamente, as mulheres são julgadas principalmente por sua aparência. Muito magras, muito gordas, muito musculosas, muito bonitas ou não suficientemente bonitas: as mulheres são criticadas de qualquer maneira."

Apesar do retorno da "heroína chique", Khan é otimista. "Ainda existem marcas para as quais o corpo positivo não é apenas uma tendência", diz citando Sinead O'Dwyer, Ed Hardy e Namilia como exemplos.

"Se eles realmente celebrassem o ozempic, não enviariam modelos plus size para a passarela. E eu não era a única", conta ela. Em sua opinião, a Namilia está "apenas sendo honesta ao destacar a controvérsia em torno da droga, porque, infelizmente, as pessoas realmente amam o ozempic".

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