Recepção desastrosa marca queda da seleção feminina de vôlei em Paris-2024
Na semifinal contra os EUA, Ana Cristina esteve muito mal e nem as líberos executaram com sucesso o fundamento
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O início do ataque no vôlei, para o time que não está sacando, começa na recepção.
Uma recepção bem-feita, na qual a bola chega "redonda" nas mãos da levantadora, próxima mas não grudada na rede, aumenta significativamente a chance de quem atacar receber um passe de qualidade, o que por conseguinte amplia a chance de sucesso na definição.
Nesta quinta-feira (8), nas semifinais das Olimpíadas de Paris, quase todas as jogadoras da seleção brasileira feminina de vôlei que receberam saques das norte-americanas mostraram eficiência pífia.
No vôlei, as responsáveis por fazer a recepção do saque são as ponteiras (duas) e a líbero, que é as especialistas em defesa. No caso do Brasil, Gabi, Ana Cristina (pontas) e Nyeme (líbero). A levantadora, a meio de rede e a oposto (especialista em ataque), ficam livres da função.
Sabidamente, Ana Cristina, uma ótima atacante, tem deficiência na recepção. E diante dos EUA, que a visavam no saque, a imperfeição se escancarou.
Foram 25 bolas na direção dela, e em apenas nove vezes (36%) ela executou o passe com exatidão.
Ou seja, perto de duas de cada três bolas recebidas por Ana Cristina ou não chegaram adequadamente à levantadora (Roberta ou Macris) ou resultaram em ponto direto para as adversárias.
A líbero Nyeme, que nos outros quatro jogos do Brasil em Paris-2024 teve pelo menos 71% de acerto na recepção dos saques (mais de 80% diante do Japão), na semifinal viu a porcentagem despencar para 45%.
Das 40 bolas sacadas em Nyeme, ela falhou em 22.
A única receptora que esteve bem foi a capitã da equipe, Gabi, que acertou 13 das 15 bolas a ela direcionadas no saque pelas norte-americanas.
Ciente da deficiência de Ana Cristina no fundamento, e notando que ela estava com muita dificuldade na semifinal, o técnico Zé Roberto, em três dos cinco sets, utilizou a segunda líbero à disposição, Natinha, junto com Nyeme, para tentar melhorar a recepção.
Não adiantou. Natinha só conseguiu 40% de aproveitamento (4 de 10 recepções perfeitas).
A outra reserva que teve participação no início de cada jogada de ataque do Brasil foi Julia Bergmann, utilizada brevemente no terceiro set e com 50% de acerto (1 de 2).
As falhas na recepção brasileira surpreendem porque o saque norte-americano não é tão forte. O que atingiu maior velocidade, de Andrea Drews, atingiu 72 km/h. Ana Cristina chegou a 99 km/h em uma das tentativas.
Única efetiva na recepção, Gabi fracassou no ataque. Seu aproveitamento foi de 32% (15 pontos em 47 ataques), ligeiramente inferior ao de Rosamaria, a oposto (33%, 12 de 36), e bem abaixo ao de Ana Cristina (50%, 22 de 44). Ficou acima somente ao da oposto reserva, Tainara (29%, 2 de 7).
Diante da República Dominicana, nas quartas de final, Gabi marcou 16 pontos em 33 ataques, eficácia próxima a 50%.
Com as bolas pelas pontas não funcionando, faltou ao Brasil a percepção de que pelo meio estava dando certo e que esse tipo de ataque poderia ser mais explorado.
As duas centrais, pouco acionadas, tiveram alto índice de aproveitamento, 67% cada uma. Thaísa acertou 8 de 12 ataques, e Ana Carolina, a Carolana, 2 de 3.
Carolana recebeu tão poucas bolas que marcou mais pontos de bloqueios que de ataque (4 x 2).
Ressalte-se que os ataques pelo meio, sempre em alta velocidade, só conseguem ser executados se a levantadora está bem posicionada para acionar a central –se a recepção é falha, essa jogada acaba descartada, e a bola alta, nas pontas, se torna a solução.
Por fim, o saque do Brasil não funcionou com a efetividade desejada contra os EUA: só 2 de um total de 100 resultaram em ponto direto. Na partida anterior, diante das dominicanas, tinham sido 5 em 73 tentativas.
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