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Descrição de chapéu Primeira vez

'Aquecimento global' apareceu na Folha pela primeira vez em 1978

Relatório científico alertou para impacto da queima de combustíveis e florestas em prol da agricultura

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José Reis

Em 1978, o relatório "Dióxido de Carbono e Clima: Uma Avaliação Científica" foi publicado nos Estados Unidos. O estudo alertava as autoridades e a comunidade científica do país para as alterações climáticas provocadas pela alta taxa de emissão de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera planetária.

Ativistas do Greenpeace estendem faixa na estátua do Cristo Redentor do Rio de Janeiro (RJ) em protesto contra o fracasso da Rio + 10, a Cúpula Mundial de Desenvolvimento Sustentável que aconteceu em Joanesburgo, África do Sul. Três alpinistas abriram uma faixa nos braços do Cristo com a mensagem "Rio + 10 = Segunda chance?", um manifesto contra as promessas não cumpridas da Eco 92 - Ana Carolina Fernandes - 05.mai.2002/Folhapress

O artigo, resultado de uma pesquisa realizada durante dois anos e meio por uma equipe de cientistas da Academia de Ciências dos EUA, constatava que as grandes fontes de emissão de CO2, responsáveis pelas mudanças climáticas, são as queimas de combustíveis e florestas para abertura de áreas de agricultura.

Em janeiro daquele ano, o jornalista José Reis publicou reportagem a respeito dessa pesquisa. Foi a primeira vez que a Folha abordou o tema do aquecimento global.
​O estudo é considerado hoje um marco em relação ao assunto. Foi um dos primeiros a apontar a necessidade de esforços internacionais para reverter as consequências do aquecimento global, como elevação do nível dos oceanos e dificuldades para a produção de alimentos.
Mais de quatro décadas depois, um levantamento da Nasa e da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) mostrou que 2019 foi o segundo ano mais quente registrado na história. Em relação ao século 19, a temperatura global subiu pouco mais de 1ºC.

A análise do NOAA também aponta que a maior causa do elevação da temperatura é a contínua emissão de CO2 e outros gases estufa na atmosfera, sendo resultado de atividades humanas.

O jornalista, escritor e cientista José Reis (1907-2002) foi um dos fundadores da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em 1948.

Seu trabalho na cobertura de temas como o aquecimento global foi tão relevante que o CNPq ( Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) lançou o Prêmio José Reis de Divulgação Científica e Tecnológica.

O prêmio foi criado em 1978, mesmo ano da publicação do texto abaixo, assinado por ele.

*

Volta ao carvão pode alterar clima

Dois anos e meio levou um grupo de cientistas para estudar prováveis efeitos do aumento do uso do carvão, se o abastecimento energético passar a depender cada vez mais desse combustível nos dois próximos séculos, como é mais do que possível.

O resultado dos estudos, contido num relatório de mais de 200 páginas e apresentado à Academia de Ciências dos Estados Unidos, adverte quanto às consequências previsíveis do aumento de dióxido de carbono da atmosfera. Já no século 21 começaríamos a sentir os efeitos climáticos e no século 22 teríamos um aquecimento global de 6ºC, número que poderia triplicar nas altitudes mais altas. Ao mesmo tempo, haveria uma perturbação geral na produção de alimento e o nível do mar subiria 6 metros, ameaçando sua produtividade.

O relatório não pretende ser uma palavra final, apesar de representar o fruto da cooperação de muitos especialistas e laboratórios, servidos pelo que de melhor existe em matéria de processamento e análise de dados. Os autores responsáveis pelo trabalho, Philipe Abelson, Roger Revelle e Thomas Malone, veem no empreendimento apenas o início de um esforço muito mais amplo que deverá atingir o nível internacional. Quanto aos Estados Unidos, eles recomendam a criação imediata de um conselho climatológico para coordenar os esforços norte-americanos e participar dos internacionais.

Nada se poderá resolver, entretanto, pelo estudo do problema isoladamente. Cientistas de todas as áreas, inclusive das ciências sociais, deverão colaborar, a fim de evitar soluções unilaterais distorcidas.

O relatório não cogita alternativas, concentrando-se apenas nos riscos do crescente uso do carvão. Afirma que no fim deste século o teor de dióxido de carbono no ar será de 25% superior ao que era antes da Revolução Industrial. No fim do século 21 terá dobrado em relação, segundo se pode deduzir do aumento da população e do consumo: no meado do século 22 terá quadruplicada ou mesmo octuplicado. E assim permanecerá pelo menos por mil anos, ainda que diminua o consumo de carvão.

As grandes fontes de introdução do carvão na atmosfera são a queima de combustível e a das árvores para formar áreas de agricultura. Neste último caso, além de se introduzir carvão na atmosfera, deixa-se de retirar da atmosfera o que as árvores queimadas costumavam antes de extrair.

A maior parte do relatório trata dos dados à agricultura consequentes ao aquecimento global, embora Ravelle reconheça que o cálculo de aumento de 6ºC no século 22 seja sujeito a dúvidas.

Este texto faz parte da série Primeira Vez, que mostra quando temas e personagens estrearam nas páginas do jornal.

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