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A celebrar que são 100 anos!

Uma maneira de ter vida longa é deixando marcas positivas e profundas nos que ficam

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Alexandre Kalache

Médico gerontólogo, presidente do Centro Internacional de Longevidade no Brasil (ILC-BR)​

Fernando Aguzzoli

Jornalista, autor do livro "Alzheimer Não É o Fim" e membro do conselho do Centro Internacional de Longevidade no Brasil (ILC-BR)

Ao alcançarmos uma vida longa, pouco importa competir ou acumular. Há muito tempo isso já não nos interessa e a experiência de vida nos ensina que o importante é sermos lembrados pelas gerações que ficam. Ver nascer novas sementes, e delas ver surgir o que há de mais nobre na vida humana: um legado.

Queremos ser mentores, guiar e inspirar. Por isso, como curador desta série de colunas, convidei hoje um jovem jornalista como coautor.

Quase 50 anos de vida nos separam, mas a própria vida tratou de nos assemelhar em experiências. Vislumbrei logo seu talento. Sabia que não faltariam oportunidades para Fernando. Sua determinação e sua paixão o levarão longe. Mas percebi também que poderia facilitar a trajetória dele. E que, por meio das trocas, seria eu o maior beneficiado.

“Um dia perguntei a minha avó, já diagnosticada com Alzheimer, quem eu era. Com um sorriso no rosto, sem a pressão da resposta certa. ‘Meu melhor amigo’, respondeu vovó Nilva. Até hoje não sei ao certo se ela sabia quem eu era naquele momento. Ela não estava errada, éramos grandes amigos, mas eu esperava a mais óbvia das respostas: 'meu neto!'”, me disse um dia Fernando.

Fernando Aguzzoli e Nilva, a avó dele - Acervo pessoal

Aos 21 anos, ele trancou faculdade e abandonou emprego para cuidar da avó. Atribui essa decisão ao que chama de reserva afetiva, uma poupança de afeto que criou com sua avó ao longo da vida. Assim o fez por seis anos, até o inevitável desfecho.

Ao longo do processo, Fernando não deixou de ser um jovem. Viveu suas amizades, adaptou sua vida e tratou de incluir sua “melhor amiga” em sua nova realidade. Documentou tudo com leveza e bom humor, e da experiência resultou um livro inspirador: "Quem, Eu?". Vieram outros depois, inclusive explicando a doença para crianças.

A mim coube uma experiência análoga, muito embora em um estágio de vida mais avançado.

Minha mãe, paulistana, assistiu ao lançamento da Folha. Faleceu há poucas semanas. Foram 102 anos intensos de uma vida que ali não findou! Para quem há 45 anos se dedica à longevidade, pude beber a inspiração direto da fonte. Foi para cuidar dela que voltei ao Brasil depois de mais de 30 anos fora do país.

Alexandre Kalache e Lourdes, a mãe dele - Acervo pessoal

De todas, essa foi a experiência mais gratificante e a que mais me enriqueceu. No texto que escrevi logo após sua passagem, eu lhe disse: “Mesmo nos últimos anos de sua longa vida, mãe, quando de você restava apenas uma sombra do que antes havia sido, você ainda emergia por trás das cortinas do fundo do palco em que tanto brilhou. E surpreendia com suas tiradas, como quando em seu centenário eu a quis coroar ‘minha rainha’ e você, decepcionada, me disse: 'Mas eu preferia ser princesa'".

Assim como para Fernando e sua avó, testemunhar momentos como esse, que as permitia o retorno ao centro do palco onde sempre brilharam, é o maior dos encantos, ainda mais preciosos, por mais raros.

Lourdes e Vó Nilva, cada uma a seu modo, nos guiaram, mentorearam e inspiraram... E nos surpreenderam até o final.

A pílula da juventude eterna, essa não existe. Porém, há uma maneira de viver outros 100 ou mais anos: deixando marcas positivas e profundas nos que ficam.

A maior conquista social dos últimos 100 anos é termos somado mais de quatro décadas de vida ao nascer. O que outrora fora o privilégio de poucos passou a ser, desde que a Folha foi criada, a experiência de muitos mais brasileiros.

Concluímos essa coluna perguntando: que legado você deixará?

A celebrar!

Seção sobre longevidade tem curadoria de Alexandre Kalache

A seção Como Chegar Bem aos 100 é dedicada à longevidade e integra os projetos ligados ao centenário da Folha, a ser celebrado em fevereiro de 2021.

A curadoria da seção é do médico-gerontólogo Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade (ILC) no Brasil e ex-diretor do Programa Global de Envelhecimento e Saúde da OMS (Organização Mundial da Saúde).

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