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Milão deixa romantismo e abraça realidade

Após três temporadas de negação do noticiário, moda se descola da ingenuidade e se volta ao humor pessimista

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Milão

Menos escapismo, mais realidade. Após três temporadas de negação do noticiário, traduzida na veia festeira das coleções passadas, a moda se descola da ingenuidade para olhar o mundo em lente de aumento.

No terceiro dia da semana de moda de Milão, a feminilidade adocicada em tons pastel, glitter e cores vibrantes abriu espaço a um romantismo sóbrio, por vezes sombrio.

Duas das grifes mais alinhadas à imagem de diva cinematográfica, Max Mara e Fendi selaram uma estação que mescla silhuetas clássicas dos anos 1930 e 1940 com uma dose do final dos 1980, entre o glam rock, no caso da Max Mara, e o "streetwear", na Fendi. Tudo embalado em alfaiataria do período de guerras.

A primeira tem uma aura punk de butique, com diversas combinações de saias volumosas de padrões xadrez —que ainda se mantêm no topo das tendências— e calças por baixo de vestidos drapeados na cintura.

Ilustrações de rostos femininos desenhados por François Berthoud foram estampadas em camisetas, que complementam a proposta urbana chique da grife.

Um misto de selvageria, exposto nos prints de leopardo, e fetichismo, exaltado nas camisas, saias e casacos de couro, contrapõem a aura de garota comportada que esconde o corpo em camadas de seda, cetim e lã.

Ainda mais atento a essa mulher romântica mas nem tanto, Karl Lagerfeld transformou o desfile da Fendi num conjunto de uniformes que bebem da arquitetura e do espírito urbano.

O híbrido de delicadeza e austeridade permeia a coleção de outono-inverno 2018/2019 da marca, numa mistura do espírito "ladylike" com o urbano dos 1990.

A trilha do desfile, um compilado de músicas do grupo inglês Supertramp, dava o tom da coleção.

"Quando eu era jovem, parecia que a vida era maravilhosa [...] Mas depois eles me mandaram embora para eu aprender a ser lógico, responsável, prático. E eles me mostraram um mundo onde eu deveria ser confiável, clínico, intelectual, cínico", ouvia-se em um trecho de "A Canção Lógica".

Ainda que reúna blocos de camisolões e paletas de rosa e camelo, a Fendi traz um contraste de navy, preto e verde-musgo que fazem um balanço entre vintage e moderno.

Uma parceria com o artista gráfico Hey Reilly produziu as imagens mais interessantes da coleção. O logo da marca esportiva Fila foi alterado para se ler a palavra Fendi, estampada em blusões de pele combinados com saias.

O romantismo da grife é quase militarizado, fruto da inspiração na alfaiataria do entre-guerras, um estilo que remete ao olhar pessimista daquela época e cujo humor condiz com o de hoje, extremista e incerto.

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