À beira dos 77, Erasmo Carlos aposta no amor sem negar a dor
Em 'Amor é Isso', Tremendão dispensa a fama de mau e assume a passagem do tempo
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Se ouvidas isoladamente, como se tornou regra em tempos de consumo digital, as faixas de "Amor É Isso" podem ter seus problemas realçados: a voz enfraquecida de Erasmo Carlos, alguns versos banais.
Quem ouve as 12 canções de uma vez percebe que se trata de um disco conceitual, cujo sentido atravessa o repertório. São composições recentes (somente uma não é inédita) feitas e/ou interpretadas por um homem à beira dos 77 anos, que aposta no amor sem negar a dor.
O CD começa tristonho, mas ainda na faixa inicial o jogo vira. Erasmo diz na letra de "Convite para Nascer de Novo" (escrita para melodia Marisa Monte e Dadi Carvalho) o que está no título da canção: para ele, sempre é possível recomeçar e receber "incontáveis alegrias vindas do amor".
As frases longas não favorecem em nada sua voz, mas este é o Tremendão de hoje, que dispensa a fama de mau e assume a passagem do tempo.
Ele, o tempo, é protagonista do disco. Trabalhando ao lado de compositores e músicos muito mais jovens, Erasmo se mantém ativo.
Como dizem os versos de "Sol da Barra" (Marcelo Camelo), "nas luzes da cidade ver o olhar da juventude/ Renovar meus sonhos/ Tentar desentender o que eu já entendi".
Em "Termos e Condições", o veterano canta excelentes versos do jovem Emicida sobre a desumanização embutida nas novas tecnologias. "Surge sempre a dor", os dois avisam para quem ainda não sabe.
O artista quando maduro se interessa, talvez mais do que sempre, por amor e afeto. Estas palavras estão em várias letras. Em "Seu Sim", poema dele musicado por Adriana Calcanhotto, fala-se até em "amar o amor".
Na faixa-título (só de Erasmo), o amor é amplo, está na natureza, na arte, no que resiste à "selva de horrores". Dita por um jovem, a frase "amor é isso" soaria pedante. Aqui, é a constatação de um homem que viveu muito e quer continuar.
"Vou prosseguir pra ver o que já é e o que já vem", ele explicita em "Parece que Foi Hoje", letra de Arnaldo Antunes.
Sua força parece vir da certeza de que o amor não morre, como expressa em "Não Existe Saudade no Cosmos" (Teago Oliveira).
É apropriadamente na faixa final, a apenas sua "Pagar para Viver", que ele resume sua fé: "É tanto amor que eu deveria/ Pagar para viver".
Aqui e ali, ao longo do CD, essa crença escorrega em passagens pueris. São exceções. Em "Minha Âncora" (Nando Reis), quando pede "não vá embora", evocando o refrão de "Você", do amigo Tim Maia, ele se rasga por um grande amor, não por uma aventura juvenil.
A produção musical de Pupillo passeia com bom gosto por várias linguagens que Erasmo cultivou ao longo da vida. Além das baladas românticas, tem seu pai musical, o rock ("Acareação Existencial", só dele), e a mãe, a bossa nova ("Novo Love", gravada por Tim Maia em 1973).
A capa de um disco já foi algo relevante. A de "Amor É Isso", quase toda branca, sem foto do artista, é um bom retrato do atual Erasmo Carlos.
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