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Cinema

'Vergel' desenvolve trama kafkiana de maneira minimalista

Longa conta transtorno de uma brasileira que perde o marido em Buenos Aires e fica na cidade para a liberação do corpo

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Vergel

Avaliação: Bom
  • Quando: Estreia nesta quinta (7)
  • Classificação: 16 anos
  • Elenco: Camila Morgado, Maricel Álvarez, Maria Alice Vergueiro
  • Produção: Argentina, Brasil, 2017
  • Direção: Kris Niklison

Veja salas e horário de exibição

É bem original o ponto de partida de “Vergel”: uma mulher brasileira perde o marido em Buenos Aires e fica retida na cidade, enquanto aguarda os trâmites burocráticos para liberação do corpo. E, acredite, a burocracia jurídica argentina não fica a dever à nossa.

Dito isso, a diretora argentina Kris Niklison busca uma forma narrativa à história que propõe. A forma é dramática, intui-se desde a abertura, em que a mulher (Camila Morgado) permanece deitada, encolhida, abatida, num sofá (ou cama, é indiferente).

O estilo pode se definir como minimalista, ou quase isso: reduzem-se os elementos ao mínimo. Tudo ou quase se passa num apartamento, envolve apenas duas personagens (a brasileira e uma argentina), um telefone (modo de manter algum contacto com o mundo) e as plantas no apartamento.

 É uma maneira segura de evitar situações demagógicas, inúteis discussões nos balcões do similar local do nosso IML ou, pior, dos tribunais argentinos. A situação é kafkiana: um homem morre acidentalmente; sua mulher tenta repatriar o corpo para o Brasil. O que deveria ser óbvio torna-se um transtorno de múltiplas dimensões: primeiro, é preciso esperar por decisões em diversos estágios (incluídas as férias do Judiciário), mas em seguida trata-se de conviver com a incerteza quanto às decisões, com a enorme solidão de estar numa cidade estrangeira sem ninguém que a acolha. Trata-se, por fim, de viver o luto nas condições mais inóspitas: por telefone.

O momento seguinte é o da entrada em cena de uma moça argentina (Maricel Álvarez), cuja preoupação central, ou inicial, são as plantas do apartamento, que a proprietária a encarregou de regar.

As plantas serão um personagem tão central quanto a argentina. Talvez possamos vê-la como seu duplo. Suas falas, seu pensamento, giram sempre em torno delas. São no mínimo metáforas. Quando diz que plantas precisam ser regadas, por exemplo, diz isso mesmo, mas também faz lembrar que a brasileira é uma planta que sucumbe por falta de ser trazida de volta à existência.

Aqui, Niklison consegue estabelecer um estranho contato entre as duas personagens: uma, em pleno luto, a outra sempre animada e sorridente, como se ignorasse aquilo por que passa a brasileira. Como se, aliás, visse nisso a primeira condição para estabelecer com ela uma amizade e uma ligação.

Eis o cenário em que se move, quase imperceptivelmente, a delicada trama de “Vergel”. Pode-se gostar ou não, mas é bem mais difícil negar à diretora o rigor com que conduz o filme e seu espírito inovador, o desejo de fazer de seu trabalho uma experiência.

No mais, Camila Morgado tem aqui, talvez, seu melhor papel e sua melhor atuação em cinema e a música de Arrigo Barnabé valoriza a parte brasileira desta co-produção.

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