Garota de cem quilos que quer ser astronauta foge de clichês em filme
Ao investir em personagem singularíssima, diretora de 'Cem Quilos de Estrelas' realiza filme feminista sem ser panfletário
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Primeiro longa-metragem da francesa Marie-Sophie Chambon, "Cem Quilos de Estrelas" é uma comédia para adolescentes que lembra muitas outras —mas consegue escapar aos clichês do gênero. Ao investir em uma protagonista singularíssima, a diretora realiza um filme feminista sem ser panfletário.
Lois (Laure Duchene) é uma incomum garota de 16 anos. Ela pesa cem quilos e tem um sonho nada banal: quer ser astronauta. Com um projeto ligado à extração de ar do espaço, ela se prepara para uma grande competição em Toulouse, sede do Centro Nacional de Estudos Espaciais da França. Tecnicamente tem chances de vencer, o que a aproximaria da carreira sonhada. Dois homens experientes no meio fazem-na compreender, porém, que o excesso de peso provavelmente a afastará do objetivo de ir para a Lua um dia.
A protagonista então deixa de comer e vai parar em um centro de saúde. É ali que surgem na história três outras adolescentes, internadas no mesmo hospital, com diferentes problemas: anorexia, dificuldade de locomoção, hipersensibilidade eletromagnética. Elas encampam o sonho de Lois e serão suas parceiras na competição.
Desafiando toda sorte de obstáculos, esse quarteto improvável consegue chegar a Toulouse a tempo para o concurso. Pouco após a inscrição, fica claro que, para além das estranhezas individuais de cada uma, elas se diferenciam dos demais participantes em algo muito essencial: são as únicas mulheres.
Sem função objetiva no avançar da história e de uma beleza delicada, algumas passagens investigam plasticamente a movimentação de corpos libertos da sensação de peso. Primeiro, vemos o corpo de Lois deslocando-se debaixo d'água, numa piscina de águas negras. Mais tarde, anoitece no hospital e ela dança com uma das colegas, simulando a gravidade zero da superfície lunar, numa espécie de materialização de seu sonho.
Sem perder a sutileza nem esbarrar na frivolidade, o filme é feliz ao abordar temas complexos e dolorosos, como o embate com corpos distantes dos padrões, as dificuldades de ser mulher em campos predominantemente masculinos e as desilusões próprias à adolescência.
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