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Cinema

'M-8' é filme necessário sobre negros, mas soa raso e apressado

Longa de Jeferson De conta a história de único estudante negro de medicina de sua classe

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M-8 - Quando a Morte Socorre a Vida

Avaliação: Regular
  • Quando: Em cartaz
  • Elenco: Juan Paiva, Raphael Logam, Henri Pagnoncelli
  • Direção: Jeferson De

Por vezes parece que "M-8 - Quando a Morte Socorre a Vida" se dirige a nós, o público branco, de classe média, que se tem na conta de europeu. Nesses momentos, o filme mostra os brancos como são —alguns, marcados pelo preconceito arraigado, parte deles simpáticos e um tanto paternalistas em relação aos negros; existem, por fim, os com alma de Ku Klux Klan, que não aceitam um jovem negro cursando medicina.

Sim, porque é numa escola de medicina que isso se passa. O jovem Maurício vem dos bairros pobres e é o único negro de sua classe. O único sem contar os cadáveres destinados à dissecção, todos inapelavelmente negros, fato que causa um forte efeito sobre ele e é central na trama.

Por vezes parece que o filme se dirige ao espectador negro. Aí já não os busca mostrar tanto como são, mas como devem ser. Ou como é desejável que sejam para enfrentar o mundo branco hostil a eles e que tende a fechar o seu caminho.

Em alguns momentos vemos o negro como o capitão do mato dos tempos atuais —o PM que enfia o pé no pescoço do jovem negro que passava por ali, ou seja, na zona rica do Rio de Janeiro (onde se passa a trama), ou o porteiro que olha desconfiado para o rapaz que acompanha a sua namorada branca.

Então está tudo certo? Este é o problema —está tudo certo demais.

Essa parte boa de "M-8" nos leva a outra —nem tão boa. Primeiro, existe a construção capenga dos personagens, que existem exclusivamente para a trama, isto é, em função de conduzir o enredo a um determinado ponto.

O jovem Ku Klux Klan não existe senão para ser o antagonista (fugaz) de Maurício; a simpática namorada não passa nenhum branco para trás ao decidir ficar com ele. Claro, nada disso é obrigatório, mas a atração da garota por um negro não seria mais interessante se gerasse reação dentro da faculdade elitista?

Em sentido contrário, a religião afro-brasileira professada pela mãe do rapaz é usada adequadamente, já que Maurício sofre com os corpos sempre negros e anônimos das aulas de anatomia, porém a fé materna o leva a crer numa outra existência. É um ponto que merecia ser tratado mais detidamente.

Mariana Nunes em cena do filme 'M-8 - Quando a Morte Socorre a Vida', de Jeferson De - Vantoen Pereira Jr./Divulgação

Num filme com certa ambição de atingir um público amplo (vejamos a lista de produtores e a distribuição), esse material propiciaria criar ao menos algum suspense. Em vez disso, quase sempre a trama corre lisa, sem sobressaltos, como se estivesse com pressa de chegar ao final para demonstrar seu ponto.

Isso explica bem o sentimento do espectador de estar diante de uma fábula demonstrativa, onde tudo caminha todo o tempo, porém incapaz de transmitir o sentimento de que estamos diante da vida. É cinema, apenas.

Talvez a busca de um público amplo explique a simplificação da trama. Mas não explica a dificuldade no controle do espaço, certos gestos significativos porém deixados de lado (entre outros, o estojo que o velho médico e amigo dá a Maurício), nem a direção de atores aproximativa.

Enfim, tudo o que faz de "M-8" um esforço necessário —filme de cineasta negro sobre negros e visando público amplo-- arrasta consigo inúmeros problemas, que talvez não seja muito inexato resumir na palavra academicismo.

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