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Bairro intelectual de Paris, Quartier Latin perde quatro livrarias em meio à crise

Região que abrigava estabelecimentos centenários hoje está cheia de lojas franqueadas e é sufocada por preços dos aluguéis

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Paris | AFP

No bairro do Quartier Latin, considerado o centro de conhecimento de Paris desde a Idade Média, o fechamento de quatro livrarias pertencentes a uma empresa famosa reflete os problemas de um setor que, sufocado pelos preços imobiliários, busca se reinventar.

À margem esquerda do Sena, o bairro em que foi fundada a Universidade Sorbonne no século 13 abriga dezenas de livrarias: das menores, especializadas em direito ou literatura canadense, aos grandes estabelecimentos, como a Gibert-Joseph, com seis andares, no bulevar Saint-Michel.

Mas hoje, essa artéria que liga as margens do Sena à Sorbonne está cheia de lojas franqueadas e não tem mais o apelo de antigamente, afirma um livreiro da histórica Boulinier.

Pessoas na Quartier Latin, em Paris, na França, durante lockdown, em 25 de novembro de 2020 - Gonzalo Fuentes/Reuters

Essa livraria, impactada pelo aumento dos aluguéis, teve que renunciar à sua loja principal no ano passado e se realocar em um espaço menor.

Nos últimos 20 anos, diante da acirrada concorrência das vendas online e do gigante Amazon, o número de livrarias da região —muitas delas voltadas para materiais acadêmicos— caiu 43%, segundo dados do Apur, o Atelier Parisien d'Urbanism.

O Quartier Latin, epicentro da revolta estudantil de maio de 1968, continua sendo um importante centro universitário na cidade, embora atualmente menos de 10 mil alunos morem lá, segundo o instituto de estatística francês.

Lentamente, o centro de Paris foi despovoado e se voltou para o turismo. Paralelamente, os centros universitários foram sendo instalados nas periferias, observa François Mohrt, urbanista da Apur.

Algumas das livrarias que agora planejam deixar o bairro têm uma história de décadas ali. O grupo Gibert, primeiro vendedor de livros independente da França, que se instalou na região há 135 anos, deve fechar suas seis lojas Gibert-Jeune na turística praça Saint Michel no final de março, a dois passos da catedral de Notre Dame.

Cercado por prateleiras meio vazias, um de seus 69 funcionários, que será demitido, garante à AFP: "É violento, mas também não esperávamos aguentar dez anos."

Em 2020, a pandemia deixou este bairro sem turistas. E então, Bruno Gibert, ex-dirigente do grupo, vendeu o prédio onde ficava a principal livraria da praça. O aumento dos aluguéis acelerou essa tendência.

Para preservar o comércio cultural e "interromper o seu declínio", a Câmara Municipal de Paris implementou medidas para as livrarias que estivessem em apuros, explica a vereadora responsável pelo Comércio, Olivia Polski.

O município propõe aluguéis "um pouco abaixo" dos preços de mercado, para restabelecer pequenas livrarias de bairro que podem "ser também um salão de chá", explica.

Em Paris, como em muitas outras cidades, são essas livrarias de bairro que dão esperança ao setor.

Segundo o SLF, o Sindicato de Livrarias Francesas, os estabelecimentos independentes voltaram a crescer desde 2017, apesar de um pequeno retrocesso em 2020, de 3,3%, motivado pela pandemia.

São as lojas menores —aquelas cujo faturamento é inferior a € 300 mil (cerca de R$ 2 milhões) por ano— que mais crescem: suas vendas aumentaram 15% no ano passado.

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