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Em Cannes, Nanni Moretti estreia filme que deixa de lado a política e o humor

'Tre Piani', do italiano, mantém relacionamentos em primeiro plano, mas abandona marca de trabalhos anteriores

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Cannes (França)

Quatro famílias vizinhas entrelaçam suas vidas em “Tre Piani”, ou três andares, filme do italiano Nanni Moretti que estreou neste domingo no Festival de Cinema de Cannes, 20 anos depois da Palma de Ouro conquistada pelo diretor com “O Quarto do Filho”.

As relações entre pais e filhos, maridos e mulheres continuam tão centrais quanto em filmes anteriores, assim como a escolha precisa das cenas que estruturam os personagens e definem a trama. “Tre Piani”, porém, se diferencia pela baixa voltagem política e pela ausência do humor meio amargo que foi uma marca de várias obras de Moretti, como em "Caro Diário", de 1993, e "Aprile", de 1998.

Cena do filme "Tre Piani", do cineasta italiano Nanni Moretti - Divulgação

É também a primeira vez que Moretti, de 67 anos, adapta uma história de outro autor, o livro homônimo do israelense Eshkol Nevo, sem tradução no Brasil. De Tel Aviv, cenário original, a história foi transferida para um edifício de Roma, onde vivem quatro casais retratados em três momentos ao longo de dez anos.

No térreo vivem Renato e Giovanna, já idosos, e Lucio, papel de Riccardo Scamarcio, e Sara, pais da menina Francesca. No andar superior, os juízes Vittorio, interpretado pelo próprio Moretti, e Dora, vivida por Margherita Buy, pais do jovem Andrea, e Monica, papel de Alba Rohrwacher, que frequentemente está só —o trabalho de Giorgio, seu marido, o obriga a longas temporadas fora.

Na primeira madrugada, um nascimento e uma morte evidenciam as conexões entre os vizinhos e dão a largada aos mal-entendidos e infortúnios do enredo. Renato e Giovanna acolhem Francesca até a manhã seguinte, mas Lucio e Sara começam a temer a decadente lucidez do vizinho idoso.

Quando a criança e o velho se perdem e são encontrados num parque, o pai se convence de que a filha sofreu violência, contra todas as evidências e pareceres. Obcecado, ele acaba maltratando o vizinho, internado no hospital, e se envolvendo com Charlotte, jovem neta de Renato, agravando uma crise que abala seu casamento com Sara.

Enquanto isso, Vittorio força Dora a escolher entre ele ou o filho, que acaba na prisão, e Monica cria a recém-nascida Beatrice sob o pavor de perder a saúde mental, como aconteceu com sua mãe.

Entre brigas, mortes, mágoas e desaparecimentos —mas também amadurecimento, descobertas e reconciliações—, as famílias vão se dissolvendo e se reagrupando e os personagens vão deixando o edifício inicial para, como diz Dora numa das cenas finais, “percorrer sua própria estrada”.

O filme estava pronto para ser lançado no ano passado, mas o diretor italiano foi um dos que preferiram adiar a estreia para poder mostrar a obra no Festival de Cannes—que foi cancelado em 2020 por causa da pandemia.

Além da edição de 2001, em que levou a Palma de Ouro, Moretti trouxe a Cannes “Habemus Papado”, em 2011, e “Minha Mãe”, em 2015 —o longa, inspirado pela morte de sua mãe, recebeu o Prêmio do Júri Ecumênico. Em 2012, coube ao italiano presidir o júri do festival.

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