Descrição de chapéu Cinema festival de cannes

Cannes com medidas anti-Covid faz público babar em copinhos e perder filmes

Medidas sanitárias impõem rotina rigorosa a quem participa do festival e ainda não foi totalmente imunizado

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Cannes (França)

Michelle não conseguia cuspir e ia perder a sessão de cinema. Os dois atos aparentemente sem relação ficaram quase indissociáveis na edição deste ano do Festival de Cinema de Cannes. Depois de ter sido cancelado em 2020 por causa da Covid-19, o evento voltou a ser organizado em 2021 de forma presencial.

Como a pandemia não acabou, os cuidados foram redobrados e foi aí que se enredou Michelle (nome fictício a pedido dela, que teme ser trollada). A jornalista está na Riviera francesa para cobrir o evento e, como ainda falta tomar a segunda dose da vacina, precisa apresentar um teste negativo para o Sars-CoV-2 se quiser entrar no Palácio dos Festivais, onde fica a infraestrutura de imprensa e algumas das salas de projeção.

No papel, tudo estava montado para que a organização não pudesse ser acusada de propiciar a transmissão do coronavírus num momento que alguns governos europeus começam a reimpor restrições, com medo da variante delta, mais contagiosa.

A modelo Farhana Bodi posa para fotos em frente ao Palácio dos Festivais" - Johanna Geron/Reuters

Dezenas de seguranças escaneiam os códigos QR que comprovam a imunização ou o teste negativo. Como os testes só valem por 48 horas, é preciso encontrar espaço na concorrida agenda de sessões e entrevistas para comparecer ao setor de testes a cada dois dias.

Para quem tem pressa e € 50, cerca de R$ 300, é possível arrumar um salvo-conduto em 30 minutos. A maioria dos participantes, porém, prefere os exames gratuitos, cujos resultados são prometidos em seis horas, mas podem levar até nove.

A estrutura foi montada para fazer até 5.000 diagnósticos diários. Em dezenas de mesas, funcionários entregam copinhos nos quais é preciso recolher a saliva, em pequenas baias que tentam oferecer um mínimo de privacidade.

Michelle, porém, esbarrou num imprevisto. "Só conseguia fazer um pouco de espuma." A funcionária chegou a dar a ela uma aula de salivação —"você precisa fechar a boca e ficar mexendo a língua por 30 segundos"—, mas, depois de três tentativas, partiram para o tradicional —e bem menos confortável— cotonete no fundo do nariz.

Como ainda há dez dias de festival pela frente, a jornalista terá de passar pela provação mais cinco vezes, no mínimo, para liberar sua entrada no edifício central.

A organização também implantou um novo sistema de reserva virtual de ingressos, para evitar a formação de filas nas portas das salas de exibição. Mas, a reserva online tem irritado os repórteres que cobrem o evento, a ponto de um deles ter feito um pequeno protesto em uma sessão noturna na quarta.

Em tese, o novo modelo seria mais justo que o anterior, com filas de acordo com a cor do crachá. Os brancos davam a seus portadores acesso imediato às filas de projeção, enquanto os amarelos com bolinhas cor-de-rosa, azuis e amarelas iam progressivamente retirando privilégios.

Mas o site do festival tem estado instável, nem todas as sessões estão com as bilheterias abertas e, em vários casos, demora a resposta sobre se o ingresso foi ou não concedido.

Além disso, se a ideia era evitar filas, na prática a aglomeração continua, pois os participantes acabam represados na entrada pelas checagens mais demoradas, por scanners que apresentam falhas ou aplicativos que não abrem.

Por outro lado, o rigor na fiscalização desaparece a cem metros dali, na subida das escadas com tapete vermelho. O festival obteve autorização para que as estrelas possam dispensar as máscaras quando são fotografados e filmados.

Além disso, o público se apinhava como se o coronavírus não passasse de uma ficção, na tentativa de ver de relance, das calçadas da Croisette, alguma celebridade.

Quando a atriz francesa Sophie Marceau era esperada para a exibição de "Tous S'Est Bien Passer", do diretor François Ozon, o distanciamento entre os milhares de pessoas que se espremiam era no mínimo a metade do recomendado um metro e meio.

Ao menos para os credenciados, a hipótese de que nem tudo corra bem durante esses 12 dias foi prevista. Quem tiver febre ou sentir sintomas de Covid pode ter uma consulta com médicos que falam vários idiomas. O festival não informou quais são os planos no caso de um surto mais extenso.

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