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'The Trojan Horse Affair' é boa pedida para fãs de 'Serial' e jornalistas

Podcast sobre caso que espantou a Inglaterra em 2014 não encontra todas as respostas e não se furta de expor obstáculos

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The Trojan Horse Affair

Avaliação:
  • Onde: Nas plataformas digitais e no site do The New York Times
  • Produção: The New York Times e Serial Productions
  • Narração: Brian Reed e Hamza Syed

Um dos caminhos mais curtos para convencer alguém a ouvir um novo podcast é dizer que ele tem algo em comum com outro já conhecido. No caso de "The Trojan Horse Affair" —ou o caso cavalo de Troia—, o atalho é o aclamado "Serial" —lançado em 2014, o podcast fez um sucesso estrondoso que culminou na aquisição da produtora Serial Productions pelo jornal The New York Times, em 2020.

Desde então, a parceira já rendeu alguns frutos, mas nenhum deles havia caído tão perto da árvore quanto "The Trojan Horse Affair", lançado no começo de fevereiro. Assim como na primeira temporada de "Serial", que contou a história por trás da condenação de um jovem pelo assassinato da ex-namorada, o podcast recém-lançado se debruça sobre uma história em que perguntas crucias nem sequer foram feitas —muito menos respondidas.

Ilustração da logo do podcast 'The Trojan Horse Affair', produzido pelo jornal The New York Times - Reprodução

Além disso, a série conseguiu reproduzir a fórmula de sucesso do "Serial" –fisgar o ouvinte fazendo com que ele se sinta parte da investigação jornalística narrada. O podcast é apresentado pelo americano Brian Reed —conhecido por quem acompanhou "S-Town"— e pelo britânico Hamza Syed, cujo primeiro trabalho jornalístico é este podcast.

A dupla se conheceu há cinco anos, quando Syed convidou Reed para investigar a história por trás da chamada operação Trojan Horse, uma suposta conspiração islâmica descrita em uma carta anônima vazada à imprensa britânica em 2014. O "plano" era infiltrar muçulmanos no comando de escolas em Birmingham, na Inglaterra, para que elas funcionassem de acordo com princípios islâmicos.

Autoridades britânicas concluíram que a carta era falsa, mas o pânico já havia se instalado. Escolas em comunidades majoritariamente muçulmanas foram investigadas, funcionários foram afastados e medidas antiterrorismo mais duras foram aprovadas nessa época, tornando a vida de uma população já estigmatizada ainda mais difícil.

Apesar da cobertura exaustiva do caso, algumas perguntas nunca foram respondidas. A principal delas, que motivou o podcast, é quem escreveu a carta que desencadeou toda a história.

Inicialmente, a saga seria contada em um ou dois episódios do podcast "This American Life", mas a investigação era complexa demais. Por isso, ganhou uma série à parte. É também por causa dessa complexidade que os episódios precisam ser ouvidos com atenção. A história é cheia de personagens, e os ouvintes mais distraídos podem se perder no mar de nomes citados ora com sotaque britânico, ora com sotaque americano.

Para quem estiver convencido a escutar o podcast, ler reportagens sobre a operação Trojan Horse antes de dar o play pode facilitar a compreensão do quebra-cabeça de pessoas, datas e documentos.

Em termos técnicos, a série é impecável, mas isso é o mínimo que se espera de um projeto chancelado pelo New York Times. A trilha sonora é marcante e as vozes são sempre claras. Ouvir o podcast com fones de ouvido é melhor, mas quem optar pelo alto-falante não vai ter problemas para entender o que está sendo dito pelos apresentadores ou entrevistados.

Em relação às escolhas narrativas, "The Trojan Horse Affair" fez uma aposta arriscada, que pode entediar ouvintes em busca de uma abordagem mais direta dos fatos. Durante toda a série, os apresentadores falam de dificuldades enfrentadas na investigação —desde obstáculos burocráticos até dilemas éticos. Para quem se interessa pelos bastidores do jornalismo, é um prato cheio.

Num dos episódios, é possível ouvir uma conversa bastante delicada em que Reed e Syed discutem sobre a forma como cada um deles encara a investigação. Syed, muçulmano, se envolve com a reportagem de uma forma completamente diferente de Reed, que reúne as características fundamentais para ser visto como um jornalista "objetivo" –é homem e branco.

O diálogo entre os dois, apesar de tenso, é inspirador. Ambos questionam suas crenças, falam honestamente sobre como identidade e trabalho se relacionam e reconhecem as limitações de suas visões de mundo. A interação de alguns minutos é uma aula de jornalismo, fundamental não só para profissionais, mas para todos que são afetados pelo ofício.

É importante dizer que, apesar de interligar os pontos da história com maestria, o podcast não responde todas as perguntas que faz. É a insistência em encontrar as respostas, por mais desagradáveis que elas sejam, que faz "The Trojan Horse Affair" ser tão bom.

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