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'Men - Faces do Medo' é terror rasteiro sobre o tormento da misoginia

Filme de Alex Garland, de 'Ex Machina', reduz a vivência feminina ao aforismo de que 'homem é tudo igual'

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Men - Faces do Medo

Avaliação: Regular
  • Quando: Estreia nesta quinta (8)
  • Classificação: 16 anos
  • Elenco: Jessie Buckley, Rory Kinnear, Paapa Essiedu
  • Produção: Reino Unido, 2022
  • Direção: Alex Garland

"Men - Faces do Medo" tinha tudo a seu favor. Além do selo da prestigiada produtora A24, a queridinha dos cinéfilos, conta com o roteiro e a direção de Alex Garland, de "Ex-Machina" e "Aniquilação", e a performance da irlandesa Jessie Buckley, indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante pelo drama "A Filha Perdida", em que vive a versão mais jovem de Olivia Colman.

Conhecido no circuito internacional como apenas "Men", ou homens em inglês, o trailer prometia um terror psicológico sobre uma mulher atormentada, é claro, por homens. Na vida real, são muitos os tormentos que os homens nos causam —seja na esfera pessoal, com abuso e assédio, ou na esfera pública, com a violência política de um presidente misógino.

Jessie Buckley em cena do filme 'Men', de Alex Garland - Divulgação

Apesar da miríade de questões que Garland poderia abordar no campo da misoginia, o diretor especialista em ficção científica, que também assinou os roteiros de "Extermínio" e "Sunshine - Alerta Solar", enfrenta dificuldades no gênero do terror. Entre simbolismos óbvios e metáforas pouco sutis, o britânico reduz a vivência feminina ao aforismo rasteiro de que "homem é tudo igual".

Buckley interpreta Harper, uma mulher que aluga uma casa histórica num vilarejo britânico após o aparente suicídio do marido —se ele se jogou da sacada do prédio ou se só escorregou, ela não sabe ao certo. Harper é recepcionada por Geoffrey, um caipira boa praça que, sem saber da tragédia, pergunta pelo seu marido e pede que ela não dê descarga em absorventes íntimos.

Geoffrey é apenas um dos vários personagens vividos por Rory Kinnear, que participou da franquia "007" e fez sucesso na comédia "Nossa Bandeira É a Morte". Usando perucas, lentes de contato e o "milagre" da computação gráfica, Kinnear dá vida até mesmo a um garoto pré-adolescente, com o rosto do ator sobreposto de maneira bizarra na cabeça de um menino.

Todos os homens que cruzam o caminho de Harper têm a função de importunar a personagem de jeitos diferentes. Há o padre que toca em suas coxas e sugere que ela é a responsável pela morte do marido. Já o pré-adolescente é mais direto e logo chama Harper de "vagabunda idiota". É um homem pelado no meio do bosque, no entanto, quem oferece o perigo mais imediato.

Há boas cenas de tensão, sobretudo para quem é mulher e já caminhou por algum lugar ermo quando se deu conta de que não estava totalmente sozinha. Ser mulher num país em que uma em cada cinco delas considera que já sofreu algum tipo de violência por parte de algum homem, conhecido ou desconhecido, é um filme de terror que perdura a vida toda.

Não é suficiente, porém, mostrar homens fazendo maldades para tratar da violência de gênero. Garland cria uma ilusão de profundidade preenchendo "Men - Faces do Medo" com simbologia cristã. Logo no início, Harper se depara com uma macieira e dá uma bela mordida numa maçã —caso não tenha ficado claro para o espectador, Geoffrey comenta a noção de "fruto proibido".

É um tanto óbvio recorrer a Adão e Eva para falar da relação entre homem e mulher. Em vários outros momentos, Garland torna explícito aquilo que deveria ser só sugerido. Quando algo é explicado, por meio do próprio diálogo, não há possibilidade de leituras diferentes, o que só empobrece uma obra já bastante destituída delas —talvez pela falta de uma perspectiva feminina.

O final surrealista é só uma tentativa de atrelar algum significado mais complexo ao que já foi elucidado de forma didática. O visual impressiona, mas não há nada de novo sob a superfície. Para um homem, descobrir os sofrimentos que uma mulher passa em uma cultura machista pode ser uma grande novidade. Nós, mulheres, só podemos indagar "tá, mas e daí?".

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