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'Jogo da Corrupção' mostra escândalos da Copa do Mundo e alfineta Pelé

Série que dá sequência a 'O Presidente' mostra a ascensão de João Havelange, presidente da Fifa entre 1974 e 1998

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Rio de Janeiro

É difícil enxergar João Havelange como um vilão no começo de "Jogo da Corrupção". Claro, ele flerta, aqui e ali, com delírios de grandeza que o cobrem de certa arrogância e egoísmo, mas nos primeiros episódios da segunda temporada da série, ele quer enfrentar o sistema, pôr abaixo anos de controle eurocêntrico na Fifa.

Para quem não sabe qual é a série que acaba de chegar à segunda temporada no Amazon Prime Video, "Jogo da Corrupção" é "O Presidente", que mudou de nome neste novo ano e foi exibida no Festival de Cinema do Rio. Não se tornou exatamente um derivado, mas decidiu explorar uma nova narrativa, mantendo uma ligação com os episódios anteriores.

Maria Fernanda Cândido e Albano Jerónimo em cena da série 'Jogo da Corrupção' - Divulgação

Se na primeira leva víamos como o gerente de um pequeno clube chileno se torna parte dos esquemas criminosos por trás da organização, agora acompanhamos a ascensão de Havelange, vivido pelo português Albano Jerónimo. O protagonista da temporada seminal, Andrés Parra, segue lá, agora narrando os fatos.

Nome chave para pôr a CBF no mapa mundial do futebol e também para o tricampeonato brasileiro na Copa do Mundo, em 1958, 1962 e 1970, Havelange foi presidente da Fifa entre 1974 e 1998 e saiu de lá imerso em honras –e também denúncias de corrupção.

"Eu sempre fui muito fã de futebol e, conforme fui crescendo, fui questionando o porquê de gastarmos tanto tempo e energia vendo 22 pessoas correndo atrás de uma bola. Isso me fascina, porque é como uma religião", diz Armando Bó, argentino criador da série e vencedor do Oscar pelo roteiro de "Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)".

"O Havelange transformou um esporte numa máquina de fazer dinheiro, então essa não é uma série sobre futebol, mas sobre política. É a história de um político, que soube usar o marketing a seu favor."

"Jogo da Corrupção" começa mostrando Havelange à frente da CBF, enfurecido com as políticas da Fifa que privilegiavam os europeus e que, acredita, quebraram as regras do futebol para validar um gol que causou uma derrota para a seleção brasileira num dos torneios.

Ele, então, começa a fazer lobby com os latino-americanos para assumir a presidência da instituição. Mas o nariz empinado também fecha as portas dos "hermanos" e ele decide recorrer à Confederação Africana em busca de votos, dando início a uma guerra entre o velho e o novo mundo do futebol.

Em paralelo, precisa administrar crises em casa. Uma delas é no casamento, já que a mulher, vivida por Maria Fernanda Cândido, insiste para que ele se aposente e passe mais tempo com a família. Outra é com os amigos, que se opõem à ditadura e o chamam de traidor por posar para fotos com os militares –Nelson Freitas interpreta os presidentes do período.

Como frisou Bó, o lado político de "Jogo da Corrupção", aliás, é muito mais intenso que o futebolístico. Quem não é fã do esporte pode até torcer o nariz num primeiro momento –mesmo com o atual clima de Copa do Mundo que toma conta do país–, mas a verdade é que a série investe mesmo em subtramas que vão além do esporte.

Entre elas está a linha tênue sobre a qual muitos andavam no período militar. "Jogo da Corrupção" não foge da tarefa de cutucar o regime e de deixar claro que a vitória brasileira na Copa de 1970 foi uma distração para as perseguições, torturas e mortes promovidas pelo regime, alcançada após uma campanha vista como prioritária pelo governo –que não entendia ou ligava para o esporte de fato.

"O Havelange foi um cara que se aproveitou da ditadura e os militares, por outro lado, se aproveitaram do futebol. O Havelange não questionava as coisas, ele só pensava no que ele queria e como chegar lá. Ele queria transcender e nada mais importava", afirma Bó.

Outra crítica está, quem diria, em Pelé, alfinetado em cena por sua indiferença às atrocidades da ditadura militar. Demétrio Nascimento Alves assume o jovem mas já estelar rei do futebol, que nos episódios é pintado como mimado, inocente e irresponsável.

Questionado se não teve medo de cutucar duas coisas tão sagradas para o brasileiro, o futebol e Pelé, Bó diz que não. "Nós queremos justamente desmistificar. Esse é um universo de muita obscuridade, o Fifagate mostrou isso, então não estamos mostrando nada que não seja verdade –tanto para as coisas boas quanto para as ruins."

O repórter viajou a convite do Festival do Rio

Jogo da Corrupção (2ª temporada)

Avaliação:
  • Quando: Disponível no Amazon Prime Video
  • Classificação: Não informada
  • Elenco: Albano Jerónimo, Maria Fernanda Cândido e Eduardo Moscovis
  • Produção: Chile, Argentina, EUA, 2022
  • Criação: Armando Bó

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