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'Caleidoscópio' brinca com o espectador, mas pretensa inovação é boba

Série policial da Netflix só exige que seu antepenúltimo capítulo seja visto no fim, mas é menos original do que promete

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Caleidoscópio

Avaliação: Bom
  • Onde: Disponível na Netflix
  • Classificação: 16 anos
  • Elenco: Giancarlo Esposito, Rufeus Sewell e Paz Vega
  • Produção: EUA, 2022
  • Criação: Eric Garcia

Quem não adora uma boa história sobre um grande assalto? Da franquia "Onze Homens e um Segredo" à série espanhola "La Casa de Papel", audiências do mundo inteiro têm uma sede insaciável por esse tipo de trama.

Mas, a esta altura, como dar vida nova a um subgênero que já começa a dar sinais de cansaço? Afinal, os clichês se repetem —o gênio por trás do plano, o bando improvável e heterogêneo, os obstáculos imprevistos, as traições, as mortes inesperadas.

A série americana "Caleidoscópio", recém-chegada ao catálogo da Netflix, tenta resolver este dilema. Sete de seus oito episódios podem ser vistos em qualquer ordem. Apenas um deles, "Branco", só tem seu acesso liberado ao espectador depois que os outros sete foram vistos. Curiosamente, "Branco" não é o desfecho da história.

Paz Vega, Giancarlo Esposito, Jai Courtney e Peter Mark em cena da série 'Caleidoscópio' - Netflix/Divulgação

Todos os capítulos de "Caleidoscópio" têm nomes de cores, que juntas formariam o tal do caleidoscópio do título. Além disso, cada uma dessa cores é a dominante na direção de arte de seu episódio respectivo.

Quem preferir uma narrativa linear pode seguir a ordem cronológica —"Violeta" (24 anos antes do assalto), "Verde" (sete anos antes), "Amarelo" (seis semanas antes), "Laranja" (três semanas antes), "Azul" (cinco dias antes), "Vermelho" (cinco dias depois do assalto), "Rosa" (seis meses depois). "Branco" é o episódio em que o assalto acontece.

Mas para que ver assim se existem outras 5.040 possibilidades? O roteirista e showrunner Eric Garcia sugere que os espectadores entrem na história em momentos diferentes e liguem os pontos em suas próprias cabeças. Para quem tem uma certa experiência, não é uma tarefa exatamente difícil.

Isso quer dizer, então, que vale a pena entrar na brincadeira? Bom, a brincadeira é o grande diferencial de "Caleidoscópio". Sem ela, a série não tem nada de excepcional. É bem construída e bem produzida, com bons personagens a cargo de bons atores. Só que não traz rigorosamente nada que já não tenhamos visto antes.

Assistir à série em ordem aleatória traz algumas surpresas, é claro. Personagens que já haviam morrido reaparecem vivos, e alguns poucos momentos são realmente confusos. Mas não deixa de ser agradável entender o que realmente causou uma reviravolta já conhecida.

Sem dar spoilers, aqui vai um resumo da trama.

O presidiário Ray Vernon, vivido por Giancarlo Esposito, quer se vingar de seu antigo cúmplice, Roger Salas, papel de Rufus Sewell, hoje um poderoso executivo. Vernon consegue fugir da prisão com seu colega de cela, reencontra sua amante Ava, interpretada pela atriz Paz Vega, e juntos eles montam um grupo para assaltar o cofre de Salas, onde estão ações ao portador no valor de US$ 7 bilhões (cerca de R$ 38,5 bilhões).

As razões de Vernon são mais pessoais do que financeiras —ele não sonha em ficar rico. Além disso, ele tenta se reconciliar com a filha adulta, a quem não vê desde que ela era pequena.

Cada um dos bandidos arregimentados tem uma interessante história pregressa, e a interação entre eles é um dos pontos altos da série. Para complicar, a agente do FBI Nazan Abassi, feita por Niousha Noor, está no encalço do bando. De origem iraniana, ela também é uma viciada em drogas, mas que se mantém sóbria há mais de quatro anos.

"Caleidoscópio" oferece inúmeras cenas de suspense, como é de praxe nesse tipo de obra. A violência, felizmente, não é extrema. De vez em quando corre sangue, mas não aos borbotões.

No fundo, o melhor motivo para se ver a série não é a brincadeira proposta —aliás, perfeitamente dispensável. Afinal, não existe interatividade, e a história não se altera se os episódios são vistos em ordens distintas. Não, não estamos diante da versão policial do romance "O Jogo da Amarelinha", de Julio Cortázar, cujo sentido muda de acordo com a ordem em que os capítulos são lidos.

O melhor de "Caleidoscópio" é Giancarlo Esposito. O ator, cujo papel mais conhecido até agora foi o do narcotraficante Gustavo Fring na série "Breaking Bad", finalmente encontra um papel à altura de seu imenso talento. Seu Ray Vernon –que assume após a cadeia a identidade falsa de Leo Papp– passa por uma gama imensa de emoções, do amor ao desespero. Esposito dá conta de todas elas.

"Caleidoscópio" é bem menos inovadora do que se pretende, mas é um entretenimento de alta qualidade. Embarque no jogo de maneira despretensiosa e se divirta.

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