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'A Primeira Morte de Joana' trata despertar sexual com delicadeza

Longa de Cristiane Oliveira se destaca da média de filmes nacionais ao retratar a ambiguidade e as meias-palavras

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A Primeira Morte de Joana

Avaliação: Bom
  • Quando: Em cartaz nos cinemas
  • Elenco: Letícia Kacperski, Isabela Bressane e Janaina Kramer
  • Produção: Brasil, França, 2018
  • Direção: Cristiane Oliveira

O argumento é um ponto forte de "A Primeira Morte de Joana". Nele, uma garota que acaba de chegar à adolescência (Joana, justamente) enfrenta o primeiro drama de uma morte em família. Ela se dava bem com a tia Rosa e lamenta o fato, mas o essencial não está aí.

Num momento em que Joana começa se interessar por coisas como beijar e namorar, a tia se tornará um mistério, pois nunca teve, todos dizem, um só namorado. Nunca beijou ninguém, muito menos casou.

Cena do filme 'A Primeira Morte de Joana' - Divulgação

Por um lado, isso se torna assunto de conversa com sua amiguinha Carol. Por outro, o filme nos leva a conhecer uma família em que as meias-palavras e os não ditos são moeda corrente. Uma família de mulheres, aliás: a mãe e a avó. Com esses pequenos mistérios Joana terá de lidar, mas o que a interessa de verdade é a história da tia.

A subtrama é ambiental —elas moram no Sul, em um lugar onde se instalam os grandes cataventos para a produção de energia eólica. É um lugar de ventos fortes, sem dúvida. E de natureza muito presente: está no vento, mas também na água, nos bosques. Esses lugares que as duas meninas frequentam quando se veem livres das opressões da família, da escola e da religião.

Será de esperar, desde então, e dadas as relações íntimas entre as mocinhas, e sendo o filme brasileiro, que ele se encaminhe para mais uma defesa e ilustração da homossexualidade. Essa é a convenção do filme médio brasileiro.

Bem, pode-se dizer que "Joana" dribla bem o problema. É sutil ao mencionar a ambiguidade sexual da delicada Joana. Quando ela, irritada com a brincadeira de um menino, lhe dá um soco no estômago, a professora toma as dores do garoto. Em seguida será dito que dar soco no estômago dos outros "não é coisa de menina".

A ação se passa mais para o começo do século 21, mas naquele interior sulino parece ter parado há muito. Talvez por isso o roteiro pareça tão mais fraco nos interiores: cada cena parece buscar o ambiente e as palavras autênticas.

Essa necessidade de afirmar a autenticidade, que passa em grande medida pela fala, enfraquece a imagem e, de cara, joga as cenas num convencionalismo paradoxalmente pouco convincente.

Os exteriores, ao contrário, são o lugar privilegiado da trama e, aparentemente, onde o talento de Cristiane Oliveira, diretora do filme, floresce. Seja nos exteriores da casa de madeira, na água, no vento, no estranho oratório no meio da floresta, nos grandes cataventos, ali o filme se afirma.

Há mais um local: a estrada, com sua faixa central amarela. A estrada que leva aos cataventos. Limite que a mãe de Joana não permite que a filha ultrapasse. Veremos que a coragem de enfrentar o perigo da estrada levará a jovem mais longe.

À relação lésbica com a amiguinha? Pode até ser. Mas "Joana" tem o enorme bom senso de evitar a habitual histeria de nossos filmes em torno do tema e tratá-lo com discernimento e delicadeza. Acredito não arruinar o prazer de ninguém que veja o filme se disser que Oliveira conclui por não concluir nada em definitivo a respeito das descobertas sexuais das duas amigas —podem no futuro se afirmar LGBTQIA+ ou não.

Têm a vida pela frente para perceberem qual é a orientação de cada uma sem que pastores ou pais, professoras pais de santo venham se meter em suas vidas. É uma lufada de ar para as garotas, de que os cataventos parecem ser uma boa metáfora.

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