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'Samsara: A Jornada da Alma' é filme para se ver de olhos fechados

Longa com temática budista em exibição na Mostra de Cinema de São Paulo quer induzir o público a meditar durante a sessão

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José Higídio

Samsara: A Jornada da Alma

Avaliação: Ótimo
  • Quando: Ter. (31), às 14h, no Cinesesc
  • Onde: Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
  • Classificação: 12 anos
  • Produção: Espanha, 2023
  • Direção: Lois Patiño

Quem entrar na sala de cinema já na metade de uma sessão de "Samsara – A Jornada da Alma" vai se deparar com pessoas de olhos fechados. O gesto não é indicativo de tédio. Na verdade, faz parte da experiência sensorial do interlúdio, que é também o coração deste filme com temática budista.

O trecho às escuras é o elo entre dois grandes atos. O primeiro se passa no Laos, no sudeste asiático. O segundo, no arquipélago de Zanzibar, na Tanzânia, país da África Oriental. Dirigido pelo espanhol Lois Patiño —que tem no currículo outros longas e curtas experimentais não muito conhecidos—, o filme está em exibição na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Cena do filme 'Samsara: A Jornada da Alma', de Lois Patiño - Divulgação

A própria obra convida o espectador a fechar os olhos. O entreato dura cerca de 15 minutos. Neste momento, não há representações visuais —apenas o som da cidade, da mata, do mar e alguns lampejos de luzes coloridas na tela.

A ideia é induzir o público a uma espécie de meditação. Os desavisados podem estranhar e até ignorar a recomendação de assistir a um filme de olhos fechados. Mas quem estiver disposto a imergir nesta aventura inovadora encontrará o diferencial e o significado desta obra experimental: imaginar como as pessoas se orientam no limbo entre a morte e o renascimento —o uso do termo reencarnação não é unanimidade entre budistas.

Esse estado intermediário é chamado no budismo de bardo. O interlúdio é uma simulação da passagem de uma personagem por esse plano. Durante a viagem, a consciência fica sem um corpo. Por isso, não há o que ver —apenas ouvir e sentir.

A personagem em questão habita corpos bem distintos em cada ato. No Laos, ela é Mon, uma idosa em seus últimos dias de vida que tenta aprender a como se orientar pelo bardo quando a hora chegar. Na Tanzânia, ela assume a forma de uma cabra recém-nascida chamada Neema, que busca conhecer o mundo ao seu redor.

Apesar da beleza dos longos enquadramentos de florestas, rios, cachoeiras e templos budistas, o filme demora a engrenar na primeira parte. Em vez de ser centrada em Mon, a narrativa acompanha o adolescente Amid, que todos os dias lê para ela "O Livro Tibetano dos Mortos", um guia para a consciência após a morte.

A subtrama envolvendo o cotidiano do garoto e sua amizade com um grupo de monges noviços limita o desenvolvimento da personagem idosa, que é a única a se manter na história para o segundo ato, ainda que em outro corpo.

Com o mesmo foco visual nas paisagens, o segmento em Zanzibar supera o anterior porque dá mais espaço à carismática Neema. A cabrita é capaz de comover o espectador simplesmente ao vagar por praias e vilarejos enquanto solta balidos esporádicos. Mesmo com a ajuda da família de tanzanianos à qual pertence, a consciência que em outra vida foi de Mon tem um novo desafio após o bardo —reaprender a se orientar fora dele.

Separados, os dois atos não fazem muito mais do que uma ambientação de cada localidade, que chega a ser monótona. Mas, quando conectados pela jornada da alma, tornam-se mais profundos e poderosos. Fechar os olhos é, de fato, a melhor forma de contemplar o ciclo de vida, morte e renascimento, sem começo nem fim, conhecido no budismo como "samsara".

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