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'Vidro Fumê' espelha crimes contra estrangeiros no Rio e abuso a líder comunitária

Longa do português Pedro Varela mistura 'true crime' com trama ficcional que reflete sobre a violência na cidade

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São Paulo

Um crime contra um casal de jovens estrangeiros no Rio de Janeiro, em 2013, ganhou enorme repercussão após o fato ser noticiado nos mais importantes jornais do mundo. Sequestrados por assaltantes, um francês de 23 anos e uma americana de 21 sofreram continuados atos de violência extrema por seis horas numa van.

O rapaz foi algemado e espancado com a chave de roda do carro enquanto era obrigado a assistir a sua namorada ser estuprada repetidas vezes pelos criminosos.

Cena do filme 'Vidro Fumê', de Pedro Varela - Divulgação

"Vidro Fumê", do português Pedro Varela, que estreou há uma semana, parte da ficcionalização desse crime. No filme, os namorados Mary e Gabriel, interpretados por Ellie Bamber, de "Animais Noturnos", e James Frecheville, de "Peaky Blinders", se reconciliam após uma discussão e decidem comemorar num samba, no bairro da Lapa.

Para chegar até lá, eles pegam uma van. Inicialmente estão apenas com o motorista e o cobrador, um rapaz menor de idade. Ao longo do trajeto, outras pessoas embarcam, mas logo são obrigadas a sair quando um comparsa da dupla, que se passava por passageiro, anuncia um assalto. Começa então o horror que Mary e Gabriel vão enfrentar pelas ruas do Rio.

Uma outra história de violência, essa ficcional é contada paralelamente. Miriam, personagem de Mari Oliveira, é uma mulher de 24 anos, líder comunitária que vive em uma comunidade carioca com o irmão Jefferson, papel de Gabriel Leal, a mãe e uma sobrinha. A jovem é constantemente assediada pelo candidato a vereador Azevedo, vivido por Augusto Madeira, e também sofre violência sexual logo no início do filme.

As cenas iniciais mostram Miriam, visivelmente machucada, saindo de casa e percorrendo um longo caminho até chegar a uma delegacia da mulher para denunciar seu agressor. Um homem é quem colhe seu depoimento e, de cara, já começa a pôr em dúvida o comportamento da denunciante perguntando se ela conhecia o agressor, se já tinham algum tipo de relacionamento, o motivo de ela ter entrado no carro e ainda que tipo de roupa ela estava usando no momento em que o fato aconteceu.

A cena a seguir mostra uma pasta sendo colocada numa pilha de processos, deixando claro que aquele caso não receberá a atenção devida pelas autoridades policiais. "Como é possível existir e, ao mesmo tempo, ser invisível?", diz a personagem, em off.

A primeira ideia, segundo o diretor, era fazer um filme ao estilo "true crime", comparando as histórias de Mary e Miriam —que apareceria apenas no início e no final—, mostrando como a violência sofrida pela primeira e a maneira como as coisas caminham para ela e seu namorado vão afetar o desfecho do caso da segunda. O longa foi rodado em 2018 e recebeu originalmente o título de "Anatomia de um Crime".

Varela, em conversa com Mari Oliveira, uma das protagonistas, e Luciana Bezerra, corroteirista, decidiu então não lançar o filme e contar melhor a história, com o objetivo de, segundo ele, mostrar como realmente o círculo vicioso de poder, violência e machismo se instala na sociedade.

Surge então o personagem de Augusto Madeira, o político corrupto e miliciano Azevedo para pôr em cena o ciclo do homem branco. "E eu sou português, eu sei bem o que o homem branco representa no Brasil. Quando eu digo homem branco, eu digo europeu, colonial", explica o diretor.

Madeira, que já atuou em mais de 50 filmes, e que é uma espécie de coringa do cinema nacional, dá vida a esse homem sem nenhum escrúpulo que persegue Mari e acaba por violentar a moça. Segundo o ator, ele faz isso com a certeza da impunidade. "No Brasil essa é uma palavra muito forte que serve para poucos", diz.

O filme, que já teve sessões exclusivas para mulheres no Rio de Janeiro e em São Paulo, tem levantado debates importantes. Mas a coprotagonista brasileira acha que deveria haver sessões apenas para homens, para que a discussão sobre o tema ganhasse outros e mais eficazes resultados.

De acordo com ela, o olhar de um homem e de uma mulher são completamente diferentes às situações de medo e perigo pelas quais as personagens do filme passam. A questão é saber se há homens que estariam dispostos a ficar todos juntos numa sala para assistir a esse filme e discutir depois. "Vocês sabem, eles não estariam", afirma Varela. "Mas as mulheres estão."

Vidro Fumê

Avaliação:
  • Quando: Em cartaz nos cinemas
  • Classificação: 16 anos
  • Elenco: Ellie Bamber, James Frecheville, Mari Oliveira
  • Produção: Brasil, EUA, 2024
  • Direção: Pedro Varela

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