Filme mostra abusos contra Maria Schneider no set de 'Último Tango em Paris'

Longa de Jessica Palud em Cannes relembra história mórbida com cena de estupro em que manteiga é usada como lubrificante

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Cannes (França) | AFP

A ficção "Maria", uma perspectiva atual sobre as traumáticas filmagens de o "Último Tango em Paris", de 1972, que arruinou a vida da atriz francesa Maria Schneider, foi apresentada nesta terça-feira (21) em Cannes, em plena onda MeToo.

Os atores Marlon Brando e Maria Schneider em cena do filme "Último Tango em Paris", de Bernardo Bertolucci - AFP

Em um contexto no qual se tornou prioritário estabelecer protocolos relativos às condições de filmagem, cenas íntimas e atores menores, a diretora Jessica Palud ambienta sua história no início dos anos 1970, quando os cineastas tinham muito poder e o consentimento das atrizes não importava.

Filha ilegítima de um ator famoso, a jovem Maria sonha em fazer cinema e é escolhida aos 19 anos para filmar ao lado de Marlon Brando, protagonista de "Uma Rua Chamada Pecado", uma paixão tórrida entre um viúvo americano de passagem por Paris e uma jovem, sob a direção de Bernardo Bertolucci.

A história mórbida atinge seu clímax com uma cena de estupro em que a manteiga é usada como lubrificante, o que fez com que o filme fosse classificado apenas para maiores e recebesse críticas do Vaticano.

Embora falsa, a cena foi imposta à atriz sem que ela soubesse de nada e acabou arrasando a intérprete, como explica sua prima, a jornalista Vanessa Schneider em "Tu t’appelais Maria Schneider", ou seu nome era Maria Schneider, livro que inspirou Palud.

María Schneider não hesitou em falar sobre duplo estupro, por parte de Brando e do diretor, e disse que as lágrimas vistas na tela são dela e não da personagem.

"O que me comoveu foi esta mulher que nos anos 1970 falava, dizia coisas e ninguém parecia ouvir a sua voz, e as suas frases eram finalmente frases em 2024", disse a diretora à AFP. "Há algo de muito moderno" no que ela dizia.

A atriz, morta em 2011, não conseguiu superar o filme escandaloso e sucumbiu às drogas. Sua carreira foi muitas vezes reduzida ao "Último Tango em Paris" e sua famosa cena.

Para interpretar Schneider, Palud escolheu Anamaria Vartolomei, descoberta em "O Acontecimento", filme sobre o aborto que ganhou o Leão de Ouro em Veneza em 2021.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.