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'Black Myth: Wukong' mergulha jogador na literatura chinesa

Com cenário interessante e visuais lindíssimos, RPG consolida China como país produtor de bons jogos

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Black Myth: Wukong

Avaliação: Ótimo
  • Onde: Disponível no PC e PlayStation 5
  • Preço: Entre R$ 229,90 (Steam) e R$299,90 (PlayStation Store)
  • Classificação: 16 anos
  • Produção: China, 2024
  • Desenvolvedora: Game Science

Não são muitos os jogadores fora da Ásia que conhecerão o livro no qual se baseia "Black Myth: Wukong", o novo RPG de ação do estúdio chinês Game Science e um dos principais lançamentos do ano. O jogo é inspirado em "Jornada para o Oeste", romance clássico da literatura chinesa escrito no século 16 que narra a viagem de um monge budista da China até a Índia auxiliado por heróis e seres divinos.

A obra é considerada uma das mais importantes da história da China, e sua influência é forte até hoje no leste asiático —o protagonista do livro e do jogo, o rei macaco Sun Wukong, também inspirou ninguém menos que Akira Toriyama a criar o Goku de Dragon Ball Z, talvez um dos personagens mais conhecidos de todos os tempos.

Em 'Black Myth: Wukong', o jogador assume controle do rei macaco do livro da literatura chinesa 'Jornada para o Oeste' - Game Science/Reprodução

Mas se o público não-asiático que a Game Science espera alcançar com "Black Myth: Wukong" não é tão familiarizado com "Jornada para o Oeste", vai reconhecer imediatamente a outra inspiração do jogo: Dark Souls. Ainda que os desenvolvedores tenham rejeitado a classificação, "Black Myth: Wukong" é um soulslike bastante tradicional, baseado em chefes difíceis, ênfase no combate preciso e desafiador, e história opaca contada de maneira indireta.

Tudo isso o jogo entrega com competência e até com um pouco de pressa: se em Dark Souls e outros do gênero a progressão é lenta e a curva de aprendizado, íngreme, aqui em poucas horas o jogador recebe vários brinquedos diferentes para experimentar na hora de lidar com os chefes.

Wukong tem à sua disposição ataques leves e pesados com o seu bastão, mesma arma do personagem no livro, mas também três posturas diferentes para utilizá-lo, cada uma com vantagens e desvantagens. Também recebe, logo no início, magias poderosas, como a capacidade de imobilizar inimigos por alguns segundos e de convocar espíritos variados para ajudá-lo.

Talvez a inovação mais interessante aqui seja a habilidade de se transformar em alguns dos chefes derrotados e utilizar suas habilidades em combate por um curto período de tempo. Essa possibilidade, junto das várias outras ferramentas à disposição do jogador, dá dinamismo ao combate e de quebra tem respaldo na obra original: Sun Wukong é um metamorfo, capaz de assumir formas de vários animais e criaturas.

Ao mesmo tempo, a quantidade de opções que o jogo dá ao personagem logo nas primeiras horas torna as lutas contra os chefes algo triviais —foi só depois de cinco horas de jogo e seis chefes derrotados que encontrei um contra o qual precisei realmente me esforçar.

Não ajuda o fato de que são muitos chefes em curta sucessão: em outros soulslikes, lutas assim são mais raras, costumam acontecer depois de fases longas com inimigos variados e têm alto grau de dificuldade, o que por sua vez confere aquela sensação de adrenalina quando são finalmente superadas. Não é o caso em "Black Myth: Wukong", que tem fases bastaste curtas e chefes enfileirados um logo atrás do outro, às vezes sem respiro nenhum, o que prejudica o timing da experiência.

Ainda assim, a variedade que o jogador pode explorar nos jeitos de se derrotar os inimigos não dá margem para o tédio, e "Black Myth: Wukong" tem outro trunfo a seu favor: é um jogo belíssimo, e não apenas porque utiliza os gráficos mais potentes que a geração atual tem a oferecer.

Wukong passeia por paisagens estonteantes dos vários biomas da China, de montanhas cobertas de densas florestas a desertos queimados pelo sol, e cada inimigo derrotado desbloqueia uma parábola a seu respeito que pode ser lida mais tarde, enriquecendo o universo do jogo. Ao fim de cada capítulo há também uma linda animação que desenvolve a história (que não é das mais fáceis de se acompanhar, é preciso dizer), e os atores fizeram um excelente trabalho na dublagem: recomendo ouvi-la no original em chinês, com legendas.

"Black Myth: Wukong", mais do que um ótimo jogo, também consolida de maneira definitiva o papel da China no mercado de games —não apenas como mão de obra de estúdios ocidentais e japoneses, o que já acontece há tempos, mas como país capaz de desenvolver seus próprios jogos e contar suas próprias histórias de forma apaixonada e sincera.

O jornalista recebeu uma cópia do jogo para análise.

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