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Filme de Adam Sandler subverte o stand-up com seu carisma inegável

Dirigido por John Safdie, o especial da Netflix com o ator consegue, ao mesmo tempo, divertir e causar estranheza

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Adam Sandler: Love You

Avaliação: Bom
  • Onde: Disponível na Netflix
  • Classificação: 14 anos
  • Direção: Josh Safdie

Uma coisa é indiscutível: Adam Sandler é engraçado. Funciona bem desde os primeiros esquetes no "Saturday Night Live", onde atuou de 1991 a 1995, e depois em inúmeras comédias de sucesso no cinema. Então é natural que muita gente queira assistir a seus desempenhos em shows de stand-up. Mas "Adam Sandler: Love You", especial recém-lançado na Netflix, consegue a proeza de divertir e, ao mesmo tempo, causar uma grande estranheza.

Adam Sandler no especial da Netflix 'Adam Sandler: Love You' - Divulgação

Quem esperar um stand-up em seu formato habitual, que é um sujeito no palco com um microfone na mão contando coisas engraçadas durante pouco mais de uma hora, vai encontrar algo bem diferente. Sandler subverte totalmente a ideia de apenas registrar esse tipo de show. "Adam Sandler: Love You" é um filme, cujo enredo se passa antes, durante e depois de um show de stand-up.

Josh Safdie, que dirigiu Sandler no elogiado "Joias Brutas" (2019), raro momento do ator em um drama, registra a ação com várias câmeras, que acompanham o protagonista desde a chegada ao teatro. A partir do momento em que ele sai do carro, fica evidente que todos em volta estão representando, seguindo um texto. Quem deseja um pouco da intimidade de Sandler nos bastidores pode desistir: tudo o que é dito está no roteiro.

Isso fica mais evidente quando os problemas do teatro entram na história. Nunca um astro com Sandler se submeteria a um local que é uma espelunca. Monitores que supostamente serviriam para imagens como suporte das piadas não funcionam. Um buraco no piso podre do palco se abre no meio da apresentação, e outros perrengues.

O comediante reclama sem parar. Mas é tão insistente nessa ideia de fazer humor com a precariedade do teatro que logo a graça se perde. Há momentos em que a discussão com os funcionários do local se alonga, chegando a ser constrangedora.

Indo direto ao texto do especial, a coisa muda de figura. As ideias de Sandler são muito engraçadas. Tanto nos trechos em que relata casos quanto nas pequenas canções que ele distribui pela apresentação. Acompanhado por um tecladista, às vezes ele pega o violão ou uma das três guitarras que estão a seu alcance no palco.

Tem um pouco de tudo, de rock pesado a músicas infantis, mas sempre com letras criativas e um verso final que dispara a graça de cada canção. Esse uso de música para fazer humor vem desde os anos 1990, quando ele comentava ao violão as notícias da semana, com letras irônicas, um quadro que marcou época no "Saturday Night Live".

Há outra opção que difere seu show do stand-up tradicional, essa bem mais sutil. Enquanto os comediantes do gênero costumam fazer rir com observações curtas sobre o cotidiano, Sandler gosta de criar historinhas mais longas até encerrá-las com o lance engraçado. Assim, sua apresentação tem intervalos mais longos entre as explosões de risadas da plateia.

E ainda tem uma última surpresa. Contrariando uma espécie de "lei" dos comediantes de stand-up, que é nunca dividir seu show com outro ator, ele chama ao palco Rob Schneider, colega de geração no humor americano. Em baixa nos últimos anos, o amigo faz uma personificação bem mequetrefe de Elvis Presley, um lance completamente dispensável no show.

Deixando de lado todos esses equívocos, a atenção pode ser focada no texto, e aí Sandler prova ser um dos melhores da turma. Aos 57 anos, tem um carisma inegável e ainda é jovial, imagem reforçada por se apresentar com um velho moletom com capuz. Contribui mais ainda para o jeito de garotão a boa técnica mostrada na guitarra.

Alguns textos são simplesmente irretocáveis, como quando conta sobre sua avó montando uma barraca de beijos ou na música que fala de drones. Suas modulações de voz ao representar uma conversa entre dois ou mais personagens são muito boas. O público cai na gargalhada sem ligar para o que eles estão falando.

Num balanço final, Sandler arranca risos, mas paga um preço pela tentativa de inovar. Bastaria desistir da ideia de reformatar a maneira de ver um show de stand-up e ficar restrito ao ótimo texto para ele virar o jogo. Dessa forma, iria oferecer uma apresentação de humor muito mais divertida que a média do gênero disponível no streaming.

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