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Suposta briga entre ex-Credit Suisse e três espiões abala setor financeiro

Procuradores investigam confronto entre um ex-funcionário e homens supostamente contratados para segui-lo

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Stephen Morris
Londres | Financial Times

O pacato mundo dos bancos suíços foi abalado pelos detalhes chocantes da briga que resultou em um rompimento entre Tidjane Thiam, presidente-executivo do Credit Suisse, e Iqbal Khan, que comandava a divisão de gestão de patrimônio do banco.

Procuradores públicos suíços estão investigando um suposto confronto físico, na semana passada, entre Khan e até três homens supostamente contratados para segui-lo depois que ele pediu demissão em julho e aceitou um emprego no arquirrival UBS.

Embora o Credit Suisse tenha admitido que contratou a Investigo, uma empresa de espionagem, as duas partes contestam a versão dos acontecimentos apresentada pelo outro lado.

Khan afirma que um grupo de três homens perseguiu a ele e sua mulher de carro e a pé pelas ruas de Zurique, o que culminou em um confronto físico atrás do Banco Nacional Suíço.

Sede do Credit Suisse em Zurique; procuradores investigam o caso - Arnd Wiegmann/Reuters

No entanto, um detetive da Investigo depôs sob juramento ao Credit Suisse e às autoridades afirmando que estava sozinho, e não acompanhando por outros investigadores, e que Khan o perseguiu, e não o contrário.

A Investigo havia sido instruída a seguir Khan a uma distância razoável, nos dias úteis, e identificar quaisquer pessoas com quem ele se encontrasse, de acordo com documentos vistos pelo Financial Times.

A controvérsia não mostra sinais de que esteja terminando. Despertou novas questões sobre a animosidade pessoal que existia há muito tempo entre Thiam e Khan, e sobre se o banco agiu de forma apropriada ao contratar investigadores.

"O conselho está sob pressão para resolver o assunto, e as autoridades regulatórias também", disse um grande investidor ao Financial Times.

"É algo de extrema gravidade em Zurique e está se tornando uma bomba relógio; o pânico é perceptível. Os dois lados saíram prejudicados mas especialmente o Credit Suisse".

"Dissemos ao presidente do conselho que eles precisam apresentar resultados e uma explicação clara; quem quer que tenha errado precisa pagar", ele disse.

Khan, nascido no Paquistão, imigrou para a Suíça aos 12 anos e começou a trabalhar para o Credit Suisse em 2013, depois de uma carreira de 12 anos como auditor na EY. Durante seu período no banco, o lucro da divisão internacional de gestão de patrimônio cresceu em cerca de 80%.

Ele ajudou a conquistar mais de US$ 46 bilhões em ativos novos, em termos líquidos, entre 2016 e 2018.

O franco-marfinense Thiam, 57, começou no Credit Suisse em março de 2015, depois de dirigir a seguradora britânica Prudential por seis anos. Ele promoveu uma rápida redução do lado operacional do banco de investimento e reposicionou a instituição como administradora de patrimônio com foco em empreendedores ultrarricos.

Embora Thiam tenha conquistado elogios por estabelecer o Credit Suisse como um dos maiores bancos no atendimento a clientes privados da Ásia, reduzir a volatilidade das receitas e evitar grandes escândalos —até agora—, o preço das ações da instituição caiu em mais de 40% sob sua liderança.

Tidjane Thiam, presidente do Credit Suisse - Denis Balibouse/Reuters

No começo, os dois executivos trabalharam relativamente bem juntos, de acordo com pessoas informadas sobre seu relacionamento. Khan foi promovido repetidamente e definido como "astro" por Thiam.

Mas com o tempo, Khan foi se frustrando com seu perfil dentro do banco, sua falta de presença pública e a falta de garantias quanto ao seu potencial de subir ao comando da organização.

A animosidade pessoal cresceu quando Khan comprou, demoliu e reconstruiu uma casa imediatamente ao lado da casa de seu chefe em Herrliberg, uma área na "costa dourada" a nordeste do Lago Zurique.

As obras duraram quase dois anos, e incluíram trabalho em alguns finais de semana, o que levou Thiam a se queixar a Urs Rohner, presidente do conselho do Credit Suisse, sobre seu subordinado, disse uma pessoa informada sobre a situação. Khan insistiu em que o imóvel que ele adquiriu era parte das propriedades da família de sua mulher por muitos anos, e que não havia feito nada de errado.

Depois que Khan se mudou para a casa reconstruída, que fica logo ao lado da propriedade de Thiam, o presidente-executivo do banco deu um coquetel para colegas, amigos e pessoas do bairro, em janeiro. Khan e sua mulher compareceram.

Na festa, Khan brigou com a parceira de Thiam sobre algumas árvores plantadas na propriedade de Thiam.

Thiam chamou Khan para uma conversa reservada e houve uma briga, longe dos demais convidados, na qual o presidente-executivo se queixou da conversa de Khan com sua namorada.

Khan afirma que a mulher dele teve de separá-los, segundo o jornal suíço Tages Anzeiger. Khan mais tarde se queixou ao conselho do banco e ao seu presidente sobre o acontecido.

Depois do desentendimento em janeiro, os dois homens mal se falavam no trabalho, o que criou um ambiente tóxico na sede do Credit Suisse, disseram diversas pessoas que viveram a experiência.

Como resultado do rompimento, Khan foi autorizado a deixar o emprego com uma pausa compulsória mais curta do que os três meses habituais, antes de assumir seu posto no UBS, o que deve acontecer no dia 1º de outubro, disse uma fonte.

Pelo menos em público, mesmo depois da demissão, Thiam e Khan vinham apresentando uma fachada cordial; Khan foi convidado a visitar o Credit Suisse para posar para uma foto e foi aplaudido de pé pela equipe do banco, disseram diversos dos presentes.

Na mesma semana, ele visitou o UBS para ser apresentado aos seus novos colegas executivos, mas só visitou áreas públicas da sede, para evitar controvérsias, de acordo com pessoas informadas sobre a situação.

Mas o Credit Suisse estava preocupado com a possibilidade de que Khan tentasse contratar pessoal chave do banco para seu novo empregador, de acordo com pessoas informadas sobre a situação.

Ao planejar sua saída do Credit Suisse, Khan se reuniu com ou foi entrevistado informalmente por diversos bancos internacionais e suíços, no segundo trimestre e no começo do terceiro, entre os quais o UBS, Julius Baer, Lombard Odier e Goldman Sachs, disseram as fontes.

Em algumas dessas conversas, ele falou sobre recrutar alguns dos principais profissionais do Credit Suisse, em diferentes funções, como transações estruturadas e empréstimos, bem como os gerentes de relacionamento de melhor desempenho, acrescentaram as fontes.

Khan disse aos potenciais empregadores que seu sucesso no Credit Suisse era uma realização coletiva, e que ele desejaria aprovação para trazer alguns membros de seu pessoal com ele, se contratado.

Não há sugestão de que Khan tenha violado os termos de seu contrato de emprego com o Credit Suisse durante essas discussões.

Urs Rohmer, o presidente do conselho do Credit Suisse, ordenou uma revisão independente da decisão de seguir Khan, para determinar que executivos a aprovaram e se ela era justificada.

O relatório será concluído em questão de dias e postos importantes no banco, entre os quais o de Thiam, podem estar em risco, de acordo com duas pessoas informadas sobre a investigação.

"Alguém vai perder o emprego, ou pelo menos haverá sanção apropriada", disse uma das pessoas.
Pierre-Olivier Bouée, vice-presidente de operações do Credit Suisse e mais próximo confidente de Thiam, serve como chefe de segurança do banco e assinou o contrato com a Investigo, disseram essas pessoas.
Bouée, por intermédio de um porta-voz, se recusou a comentar.

O UBS também se viu forçado a tratar da controvérsia. Axel Weber, presidente do conselho do banco, disse em entrevista na televisão que a companhia ainda estava verificando informações sobre Khan naquele dia, uma admissão surpreendente considerando que ele começará a trabalhar lá em menos de uma semana.

"Tudo precisa ser feito de acordo com as regras", ele disse à Bloomberg TV. "Se as coisas não forem feitas de acordo com as regras, sou contra fazê-las."

O Credit Suisse se recusou a comentar e um porta-voz de Khan se recusou a comentar.

Financial Times, tradução de Paulo Migliacci

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