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Brasil deveria ser punido por não parar desmatamento, diz Financial Times em editorial

Jornal britânico afirma que o governo de Jair Bolsonaro ignora pressão de investidores ESG

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São Paulo | Financial Times

O jornal britânico Financial Times afirmou, em editorial, que o Brasil deveria ser punido por investidores por não agir para conter a alta do desmatamento na Amazônia.

Segundo a publicação, um grupo de detentores de US$ 7 trilhões em ações e títulos públicos brasileiros elencou entre seus objetivos uma redução significativa do desmatamento, mas não disseram o que aconteceria se as metas não fossem alcançadas.

O editorial cobra desses investidores que enviem um sinal a Brasília afirmando que, se nada for feito, irão se desfazer desses investimentos.

Leia o editorial.

Brasil deveria ser punido por não parar o desmatamento

O ativismo de investidores pode ser uma força poderosa para o bem. Detentores de ações e títulos estão pressionando companhias e governos de todo o mundo para que melhorem suas práticas de governança, reduzam as emissões de carbono, busquem um equilíbrio melhor entre os gêneros e maior diversidade racial, e ao mesmo tempo produzam lucros mais altos.

Mas o que acontece quando seus alvos ignoram a pressão?

É esse o dilema que enfrentam muitos administradores de ativos que se uniram no ano passado para pressionar o governo brasileiro e seu presidente de extrema direita, Jair Bolsonaro (sem partido), para conter o desflorestamento da Amazônia.

O grupo de investidores, que agora abarca US$ 7 trilhões em capital sob administração, tinha cinco objetivos; o mais importante era uma “redução significativa” do desflorestamento. Outros incluíam a aplicação do Código Florestal brasileiro e a prevenção de incêndios em áreas florestais ou perto delas, a fim de impedir queimadas como as acontecidas em 2019.

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante cerimônia, no Palácio do Planalto - Pedro Ladeira - 13.jul.21/Folhapress

Pouco mais de um ano mais tarde, e depois de diversas reuniões de alto nível, os resultados são claros: o desflorestamento cresceu em 17% nos primeiros seis meses de 2021, de acordo com dados preliminares do governo.

O Código Florestal, que parecia impressionante, está rapidamente se tornando letra morta, porque as agências que policiam sua aplicação tiveram seus orçamentos cortados severamente. No mês passado, o ministro do Meio Ambiente –um aliado próximo de Bolsonaro– deixou o posto em meio a uma investigação criminal sobre um possível conluio entre ele e madeireiras ilegais para explorar a madeira amazônica.

Com a maioria de seus objetivos não realizados, o que os investidores deveriam fazer agora? A questão é premente porque especialistas ambientais acreditam que até 40% da floresta remanescente na Amazônia esteja chegando a um ponto de inflexão, a partir do qual secas e queimadas acarretam o risco de transformá-la em savana aberta.

Os argumentos em favor de um prazo maior não parecem convincentes. Pouca gente acredita que Bolsonaro, ligado a um ruidoso eleitorado de madeireiros, pecuaristas e evangélicos, mudará de comportamento em seus 18 meses finais de mandato. Os orçamentos das agências ambientais do governo podem ser restaurados por decreto, e a fiscalização reforçada, se existir vontade política.

O Brasil mostrou no passado recente, especialmente entre 2009 e 2017, que tem a capacidade de reduzir seriamente o desflorestamento, quando assim deseja. O recente compromisso assumido pelo governo de enviar o exército de volta à Amazônia para combater o desflorestamento repete uma estratégia fracassada: agências ambientais dotadas de recursos adequados se provaram muito mais eficientes, no passado.

Os membros do grupo de investidores não disseram o que aconteceria se suas metas não fossem cumpridas. Alguns argumentam que o engajamento continuado é preferível a vender títulos brasileiros e perder a influência que eles exercem, uma tese muitas vezes usada para defender o investimento continuado em produtores de combustíveis fósseis.

Nem tudo está perdido. A grotesca desconsideração do governo Bolsonaro para com a riqueza natural do país não é compartilhada por muitas empresas brasileiras.

Companhias que exportam para a América e a Europa estão alarmadas pelos riscos de boicotes de consumidores ou investidores se a inação do governo tornar a marca Brasil excessivamente tóxica.

Algumas companhias brasileiras estão buscando acompanhar os melhores padrões mundiais em termos de indicadores ESG (ambientais, sociais e de governança); elas merecem encorajamento.

Mesmo o setor de carne, que custou a se converter à causa, despertou para a necessidade de adotar métodos confiáveis de rastreamento da origem do gado que abate, ainda que a implementação das mudanças continue a ser lenta demais.

Mas no caso do governo Bolsonaro, um ano de diálogo de alto nível coincidiu com uma aguda deterioração da Amazônia. O engajamento continuado, nessas circunstâncias, risca solapar a credibilidade do compromisso dos investidores para com padrões ESG.

Em um ano de circunstâncias excepcionais, vem sendo difícil discernir um desconto ambiental nos títulos do governo brasileiro. Isso precisa mudar. É hora de os investidores enviarem um sinal de US$ 7 trilhões a Brasília de que, a menos que o desflorestamento pare, eles vão vender.

Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci

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