Descrição de chapéu Folha ESG sustentabilidade

Minoria das empresas segue agenda de sustentabilidade, aponta pesquisa

Levantamento mostra que o tema é prioridade para negócios de bens de consumo, mas só 5% conseguem incorporar as práticas

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Belo Horizonte

A importância de adotar os princípios ambientais, sociais e de governança corporativa é uma unanimidade entre as empresas brasileiras, mas só uma pequena minoria consegue seguir essa agenda na prática.

É o que aponta um levantamento da consultoria Bain & Company, feito a partir de entrevistas com executivos das 20 maiores empresas de bens de consumo do Brasil.

Segundo a pesquisa, o ESG foi considerado prioridade por 100% dos entrevistados, que destacaram a importância de práticas como descarte consciente, redução das emissões de gases de efeito estufa, gestão dos recursos hídricos, além da promoção da diversidade e inclusão.

No entanto, apenas 5% disseram ter conseguido incorporar o conceito com sucesso em suas marcas, indicando que a sustentabilidade ainda não é realidade para a maioria.

Entre os desafios citados para a implementação da agenda, o principal é a dificuldade em oferecer produtos sustentáveis para os consumidores e, ao mesmo tempo, manter preços competitivos.

Para Luciana Batista, sócia da Bain & Company, ter êxito numa estratégia ESG envolve uma série de fatores que podem parecer simples, mas não são. A começar pelo entendimento de que as práticas ambientais, sociais e de governança devem ser parte do modelo de negócio, e não uma área apartada ou um custo adicional.

“A pauta ESG é muitas vezes puxada por um time de sustentabilidade, que tem que sair batendo na porta das diferentes áreas da empresa para promover a agenda. Mas os negócios que se destacam no tema têm uma abordagem muito diferente”, afirma.

Segundo ela, uma agenda ESG bem sucedida começa com a revisão do modelo operacional de uma organização, que deve tratar a sustentabilidade como se fosse qualquer outra etapa de negócio.

“Uma empresa que tem êxito nesse tema pensa quais elementos ESG estão em seu DNA, o que é relevante para ela, e usa esses elementos como forma de diferenciar sua estratégia de produto, logística, distribuição, e por aí vai”, diz.

Ela cita como exemplo marcas de vestuário que fazem da economia circular parte de sua proposta de valor, pensando desde a escolha dos materiais das roupas até a destinação final dos produtos, serviços de revenda e reciclagem.

Na visão de Batista, isso é diferente de algumas estratégias ESG que se resumem a compliance [adequação à lei] e práticas protetivas. “Uma empresa que trabalhe com a cadeia do couro tem que garantir que o material não vem de áreas de desmatamento. Mas isso é uma agenda de proteção.”

Em relação aos custos dos produtos, motivo apontado pelos empresários como um dos principais obstáculos para incorporar o ESG, Batista diz que é possível encontrar formas de contornar o problema.

Segundo ela, enquanto algumas alternativas sustentáveis podem sair mais caras, outras podem contrabalancear um eventual aumento de custos.

“Uma marca de produtos de beleza, por exemplo, pode usar ingredientes de menor impacto ambiental que acabam encarecendo a fórmula. Por outro lado, ela pode criar uma embalagem refil e gastar menos plástico. Assim ela investe em um lugar e tira custos de outro, para que o consumidor não pague essa conta”, afirma.

Contudo, Batista lembra que essa não é uma equação fácil de ser feita. Não à toa, apenas 5% das empresas pesquisadas são bem sucedidas em relação ao ESG.

Os benefícios para quem consegue implementar essas práticas, por outro lado, são evidentes. Conforme o levantamento apurou, empresas de bens de consumo que adotam práticas ESG consistentes crescem até seis vezes mais, dobram o valor da marca, aumentam em quatro vezes a penetração no mercado doméstico e triplicam a lealdade dos clientes.

Esse último ponto, inclusive, foi apurado em outra pesquisa da Bain & Company, que concluiu que dois em cada três brasileiros seriam mais fiéis às marcas comprometidas com o meio ambiente.

O estudo ouviu 4.000 pessoas, das quais metade já disse comprar frequentemente dessas empresas.

Os consumidores estão mais exigentes, mas também mais responsáveis em relação a suas próprias atitudes. Segundo o levantamento, 34% afirmaram ter aumentado a separação de resíduos recicláveis em casa durante a pandemia da Covid-19.

“Antes, a gente via que as pessoas falavam mas não agiam. Agora, começamos a ver uma mudança nesse padrão de consumo mais responsável, o que acaba beneficiando as empresas que já estão oferecendo soluções em compasso com essa mentalidade”, diz Batista.


PENETRAÇÃO DO ESG NAS EMPRESAS DE BENS DE CONSUMO

100% dos executivos
consideram o ESG uma prioridade

Mas apenas 5%
dizem ter incorporado o conceito com sucesso em suas marcas


Como os clientes se comportam em relação às marcas sustentáveis?

66% dos consumidores
comprariam mais ou se tornariam mais leais às marcas comprometidas com o meio ambiente

50%
frequentemente compram de empresas comprometidas com o meio ambiente

4.6
é o nível de importância da sustentabilidade para os brasileiros, numa escala de 0 a 5

91% dos consumidores
fazem ações diárias para diminuir o consumo de plástico

34%
aumentaram a separação de resíduos recicláveis em casa durante a pandemia de Covid-19

Fonte: Levantamento da consultoria Bain & Company

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