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Perfil de gastos e patrimônio da geração Z refletem novas prioridades

Jovens deixam a compra da casa e do carro próprios para depois e cada vez mais buscam um consumo consciente

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São Paulo

Um consumo consciente –preocupado com a sustentabilidade e com a ajuda aos pequenos comércios– que se mescla a gastos voltados para novas experiências, estudos e lazer em um orçamento enxuto.

O perfil de gastos e a construção de patrimônio da geração Z (nascidos entre 1995 e 2010) já reflete uma mudança radical de prioridades ao longo dos anos. Segundo especialistas, mesmo entre aqueles que já começam a sair debaixo das asas dos pais para ter renda própria, a expectativa é que a casa e o carro próprios fiquem para depois.

“Começamos a falar cada vez mais da economia compartilhada. Essa é uma geração que não vai querer possuir, mas vai querer usar. É o caso de usar aplicativos de transporte, por exemplo, o aluguel de bicicletas e até o Airbnb”, afirmou Alexandre Mutran, diretor de marketing da Aon e professor da ESPM.

É o caso de Lucas dos Santos Formigoni, 21, estudante de economia. “Eu gostaria muito de ter uma casa própria, mas é um plano de longo prazo. Mesmo que eu comece a trabalhar, me estabeleça e tenha uma renda permanente, acredito que só vou começar a planejar isso daqui 10 ou 15 anos. O que já não acontece em relação a transporte, por exemplo. Não tenho nenhum interesse em ter carro próprio”, disse.

Lucas Formigoni, 21, tem planos de comprar uma casa no longo prazo, mas não pensa em ter um carro - Adriano Vizoni - 21.jul.2021/Folhapress

Formigoni, que nunca trabalhou, mudou recentemente para um apartamento no centro de São Paulo. Parte das despesas fixas do imóvel – como aluguel, condomínio, água, luz e internet – serão pagas com uma reserva financeira feita por ele ao longo dos anos, com o dinheiro vindo de mesadas e presentes da família. Para os outros gastos, ele deve contar com a ajuda dos pais.

Do total de recursos que tem, o estudante acredita que cerca de 60% ficará reservado para os gastos fixos da nova casa, enquanto o restante será dividido entre alimentação e lazer.

“Não sou muito consumista, mas gosto de ter um dinheiro guardado para o meu entretenimento, como uma cerveja para beber em casa ou livros, que é uma das coisas com as quais eu mais acabo gastando. Também quero montar uma reserva para fazer um intercâmbio daqui uns quatro anos”, afirmou.

O direcionamento de recursos é diferente do que o observado em gerações anteriores.

“Talvez o meu perfil da juventude seja um pouco diferente porque eu fui pai muito novo. Eu casei com 18 anos e tive que assumir minhas responsabilidades muito cedo, pagar a escola do meu filho e sustentar a casa junto à minha esposa. Com 27 anos eu já consegui dar entrada na minha casa, e com 40 [anos], quitei o imóvel”, afirmou Fernando César Ribeiro Bergamo, 49. Ele é da geração X (nascidos entre meados de 1960 e 1979).

Atualmente, a única renda de Bergamo vem do Empório Casa e Decoração, loja da qual é dono e que possui duas unidades em São Paulo. Uma parcela do dinheiro vai para sustentar as despesas fixas da casa onde mora com a esposa e um dos filhos.

“Agora a minha situação está confortável. Não preciso mais me preocupar em pagar a prestação da casa, do carro ou a faculdade dos meus filhos. Meu custo de vida é muito baixo e o que sobra nós guardamos – metade fazemos uma poupança e a outra metade gastamos para viajar ou comer em restaurantes”, disse o empresário.

Fernando César Ribeiro Bergamo, 49, é da geração X (nascidos entre meados de 1960 e 1979) - Adriano Vizoni - 23.jul.2021/Folhapress

Para especialistas ouvidos pela Folha, porém, a mudança nos padrões de consumo também é relativa e, além do momento de vida, também podem envolver questões como a criação e a classe social.

“Existe uma disparidade de realidades que também precisa ser considerada”, afirmou Mutran, da Aon.

“Enquanto o jovem da classe média aluga uma bicicleta para lazer, o jovem da periferia talvez precise fazê-lo para ir trabalhar como entregador de aplicativos, por exemplo. E isso se estende para a construção de patrimônio. Enquanto alguém que tenha condições de pagar Uber possa não almejar um carro próprio, ter uma moto pode ser aspiracional para o jovem de periferia. É algo para que ele possa ir ao trabalho, mas que também use para sair com os amigos”, completou o executivo.

Outra tendência que reforça a diferença entre perfis é a maior preocupação com o consumo consciente.

É o caso de Fernanda Rocha Zogheib, 19, professora particular e vestibulanda. Ela afirma que usa metade de sua renda para ajudar nas casas dos pais, onde mora. A outra metade, vai para um investimento em renda fixa e para consumo próprio.

“Este último ano de pandemia foi o que eu menos gastei. Eu sempre fui de ir no mercado e cozinhar ao invés de pedir comida, o que não mudou. De resto, compro livros e roupas, mas sempre prefiro comprar de brechó e não de lojas grandes de departamento. Assim, pelo menos, ajudo os empresários com negócios menores”, disse.

Para o planejador financeiro Carlos Castro, da Planejar, outro aspecto relevante para traçar as diferenças do perfil de consumo e de gastos entre as gerações é a adoção da tecnologia.

“Os millennials [nascidos entre 1980 e 1994] são a geração de transição da tecnologia, tendo passado parte da sua infância já se adequando a essa realidade. Da outra ponta, temos os dois extremos: enquanto aqueles da geração X demoraram alguns anos para conseguirem se adequar ao mundo tecnológico, a geração Z é completamente nativa digital. E isso também se traduz em hábitos de consumo, por exemplo”, disse.

Mônica Nepomuceno Baeta, 56, concorda que a maior parte das diferenças pode ser explicada pela tecnologia. “Aos 20 anos, como eu não tinha a responsabilidade de uma casa, meu dinheiro era todo para passeios e viagens. Mas diferente da geração de hoje, eu não tinha Uber. Se eu não quisesse usar o metrô ou o ônibus, eu tinha que me esforçar para ter o meu carro. O acesso à informação aumentou muito e isso muda muito a consciência das novas gerações”, afirmou.

Atualmente, Baeta é aposentada, mas atua junto ao marido como representante oficial de grandes empresas do segmento de refeição e convênio. Além dos gastos fixos da casa, a renda que tiram também é dividida entre os dependentes: um filho de 15 anos e suas respectivas mães.

A tendência de um perfil de consumo cada vez mais voltado para o mundo digital, porém, tem evoluído para todas as idades. Um estudo recente feito pela CNDL (Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas) e pelo SPC Brasil apontou que nove em cada dez pessoas realizaram uma compra online nos últimos 12 meses.

“Esse movimento mais voltado para o digital já era uma tendência, mas foi acelerado pela pandemia”, afirmou a especialista em finanças da CNDL, Merula Borges.

“E é uma tendência que deve se manter para todas as idades. As pessoas devem se sentir cada vez mais confiantes, principalmente diante de novas tecnologias de pagamento, como o Pix.”

A pesquisa ouviu 958 pessoas, todas maiores de idade e de todas as classes econômicas. Do total de entrevistados, 55% também afirmaram que pediram comida por aplicativos de delivery, 45% compraram artigos de vestuário, 37% adquiriram com celulares e 36% gastaram com streaming de filmes e séries.

Do lado dos millennials, a característica de ser uma geração de transição, também transparece nos gastos.

Marina Bravo Spessoto, 29, afirma que, aos 20, também dependia completamente dos pais. “Eu não trabalhava e tinha um cartão de crédito controlado, para alimentação e o que mais eu precisasse gastar”, afirma.

Ela atualmente mora em Atibaia com o filho de quatro anos, Bernardo, e trabalha como assistente de uma empresa de tecnologia. Segundo Spessoto, cerca de 60% do que recebe vai para gastos fixos da casa e 30% vai para Bernardo.

“O resto, uns 10%, eu consigo guardar. Esse dinheiro eu deixo na poupança e ele serve principalmente para pagar os gastos de início do ano, como os materiais da creche do meu filho, matrícula e todos os pagamentos para o meu carro”, disse.

Situação semelhante acontece com Leonardo Felix dos Santos, 33. Ele, que trabalha com gestão de benefícios, também divide a renda principalmente entre os gastos fixos da casa e com educação (sua e da sua filha de sete anos).

“Cerca de 30% do que recebo hoje vai para a casa e outros 40% vão para as escolas. Tem uns 20% que separo para gastos mais de passeio e compras de final de semana com a minha família, mas esses eventos, a maioria das vezes quem paga é minha esposa”, afirmou.

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