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Descrição de chapéu The New York Times inflação

A pizza de US$ 1 é a mais recente vítima da inflação nos EUA

Autoridades já admitem que os efeitos do aumento de preços são mais persistentes do que esperavam

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Jeanna Smialek
Nova York | The New York Times

Aquan Brunson, 45, do bairro do Brooklyn, em Nova York, costumava comprar três fatias de pizza de queijo da 99 Cents Pizza em Utica para almoçar, todos os dias. Mas há cerca de três meses a inflação comeu a terceira fatia. A loja colou sobre a antiga placa um aviso de que agora é "US$ 1,50 Hot Pizza".

"O dólar não nos leva muito longe", disse Brunson, absorvendo o óleo da pizza com guardanapos de papel, numa tarde cinzenta de dezembro. "O preço de tudo está subindo."

Consumidores de todo o país confirmam que a inflação foi alta este ano, o que se comprova pelos carros usados e móveis mais caros e a aposentadoria da famosa fatia por US$ 0,99 (R$ 5,68). Mas até recentemente os formuladores de políticas de Washington reagiam a isso com um refrão comum: os rápidos aumentos de preços provavelmente seriam passageiros.

O novo preço na fachada da 99 Cents Pizza of Utica, que planeja se rebatizar para $ 1,50 Pizza of Utica, no Brooklyn, Nova York - Jeanna Smialek - The New York Times

Na semana passada, políticos disseram que estava na hora de retirar o adjetivo "passageiros" e admitiram que os aumentos de preços estão se mostrando mais persistentes do que se esperava.

Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (banco central dos EUA), disse que sua expectativa básica é de que os preços vão esfriar, mas há uma ameaça crescente de que não o façam logo, ou de forma suficiente.

"Acho que o risco de inflação maior aumentou", disse ele.

Um novo relatório que deverá ser divulgado na sexta-feira (24) irá reforçar essa preocupação. O Índice de Preços ao Consumidor mostra que a inflação cresceu 6,8% no último ano, o ritmo mais rápido em quase 40 anos. Mais preocupante para o Fed é que a inflação está se estendendo a muitos produtos e serviços, não só os diretamente afetados pelos gargalos nas cadeias de suprimentos que elevaram os preços de carros e produtos eletrônicos.

Aqui está um resumo do que é preciso saber sobre os aumentos de preços que varrem os Estados Unidos e o mundo —e o que esperar quando os novos números da inflação dos preços ao consumidor forem divulgados na sexta.

A inflação mede os aumentos de preços

Quando os economistas e os formuladores de políticas falam em "inflação", geralmente querem dizer o aumento dos preços das coisas que as pessoas compram —acompanhado pelo Índice de Preços ao Consumidor, ou IPC—, ou a mudança no preço das coisas que as pessoas consomem com seu próprio dinheiro ou por meio de pagamentos do governo e seguros, que é acompanhado pelo índice menos regular de Gastos de Consumo Pessoal.

Ambas as medidas subiram muito este ano, e os dados do IPC a ser lançados na sexta deverão mostrar que a inflação teve o maior aumento desde 1982. Na época, Paul Volker era o presidente do Fed, e travou uma guerra aos anos de crescimento rápido dos preços aumentando as taxas de juros para dois dígitos, para paralisar a demanda das empresas e do consumidor e esfriar a economia. Hoje, as taxas de juros estão definidas em quase zero depois que os formuladores de políticas cortaram os custos dos empréstimos no início da pandemia.

Aumentos de preços se expandem

Há muitas diferenças entre 1982 e hoje. A inflação esteve baixa durante anos até 2021, e os lockdown da pandemia e a posterior reabertura têm muito a ver com a alta de preços atual.

A demanda do consumo subiu exatamente quando os fechamentos de fábricas e a reorganização dos gastos de serviços para bens causou gargalos na fabricação e sobrecarregou os portos. É por isso que os políticos ficaram à vontade para desdenhar da inflação durante algum tempo: ela vinha de dificuldades que pareciam inclinadas a se resolver sozinhas.

Mas os aumentos de preços vêm cada vez mais de setores com dificuldades pandêmicas menos claras e obviamente temporárias. Os aluguéis, que formam uma grande parte da inflação, estão subindo solidamente.

"A habitação é o principal aumento", disse Laura Rosner, economista da MacroPolicy Perspectives.
O potencial para pressões de preços mais amplas e duradouras pôs de sobreaviso as autoridades do Fed. Os formuladores de políticas, que aos poucos deixavam de apoiar a economia, anunciaram claramente na semana passada que se preparam para acelerar o recuo.

"Eles sabem que o relatório está saindo", disse Rosner sobre o número previsto para sexta. "Ele vai confirmar e explicar por que tivemos uma mudança tão acentuada."

Nós na cadeia de suprimentos persistem

As disrupções no fluxo global de produtos não estão desaparecendo tão rapidamente quanto as autoridades esperavam. Ondas adicionais de vírus impediram que as fábricas funcionassem em plena velocidade na Ásia e em outros lugares. As rotas de navegação estão congestionadas, e os consumidores continuam comprando produtos em ritmo robusto, aumentando os atrasos e dificultando a normalização da situação.

As famílias têm cerca de US$ 2,5 trilhões (R$ 14,3 trilhões) em poupança excedente, graças em parte ao estímulo da era pandêmica, o que poderá ajudá-las a continuar comprando novos equipamentos de ginástica e mesas de centro no próximo ano.

"O mais cedo que prevemos para as coisas se normalizarem, na verdade, é o final de 2022", disse Phil Levy, economista-chefe da firma de logística FlexPort. No que se refere a não entender a inflação, ele disse: "Parte do problema é que tratamos a cadeia de suprimentos como se fosse uma categoria especial, como alimentos e energia".

Como 2021 deixou muito claro, porém, a economia global é um sistema de equilíbrio delicado. Veja a indústria de carros: o fechamento de fábricas de semicondutores por causa do vírus em Taiwan atrasou a produção de novos veículos. Diante da escassez, as companhias de aluguel de carros tiveram de competir com os consumidores por veículos de segunda mão, deixando mais vazios os pátios das revendas. A reação em cadeia levou os preços para cima em todos os elos do percurso.

Os salários também estão subindo

Outra coisa que poderá manter a inflação alta é que os salários estão subindo rapidamente. Algumas companhias começaram a falar em transferir esse aumento de custos para os clientes, que parecem dispostos e capazes de pagar mais. O Índice de Custos do Emprego, medida que o Fed avalia de perto, subiu notadamente no período de três meses que terminou em setembro.

O risco é que isso seja um eco precoce e ainda impreciso do tipo de dinâmica de salários e preços que ajudou a alimentar a inflação nos anos 1970 e 80. Na época, os sindicatos eram uma força muito mais poderosa e ajudaram a fazer os salários acompanharem os aumentos de preços. A inflação e os ganhos salariais se empurraram mutuamente numa espiral ascendente, ao ponto em que os aumentos de preços saíram de controle e exigiram uma reação do Fed.

Nos anos desde então, os trabalhadores geralmente tiveram poder de negociação menos formal. Mas os empregadores enfrentam falta de mão de obra, enquanto o vírus mantém muitos possíveis trabalhadores afastados e a demanda cresce. Isso está dando aos trabalhadores a possibilidade de exigir pagamento maior, já que enfrentam custos maiores, e está levando muitos empregadores a aumentar os salários para disputar os talentos escassos. Isso poderá manter a demanda sólida, ao aumentar os recursos das pessoas para gastarem.

"Olhando à frente, empresas de todos os grandes setores preveem aumentos de salários gerais e continuados", relatou o Fed de Nova York em sua seção do Livro Bege do Fed, uma pesquisa de empresas e contatos trabalhistas realizada pelos bancos Fed regionais.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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