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Descrição de chapéu Governo Lula

Quem é Gabriel Galípolo, futuro número 2 da economia de Lula

Ex-banqueiro aceitou convite para secretaria-executiva da Fazenda de Haddad

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São Paulo

O que as privatizações da Cesp (Companhia Energética do Estado de São Paulo) e da Cedae (Companhia de Águas e Esgotos do Rio) têm em comum? As digitais do ex-banqueiro Gabriel Galípolo, 40, futuro secretário-executivo da Fazenda sob Fernando Haddad.

Um dos conselheiros do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre mercado financeiro, Galípolo ganhou a confiança de Haddad ao participar da coordenação do plano de governo do ex-prefeito na disputa pelo estado de São Paulo, da qual ele saiu derrotado.

Normalmente, o secretário-executivo é alguém com experiência na máquina, justamente para não ter que aprender as funções do ministério junto com o novo titular da pasta. Nesse caso, o desafio será duplo, pois tanto Galípolo quanto Haddad terão de aprender juntos como tocar o dia a dia da gestão fazendária.

Presidente do Banco Fator de 2017 a 2021, o ex-banqueiro já esteve em campo oposto ao PT. Seja na presidência ou na diretoria de novos negócios do banco, cadeira que ocupou de 2016 a 2017, o economista atuou na modelagem das vendas das duas estatais, ocorridas sob protesto de petistas.

Em dezembro de 2016, o Governo de São Paulo contratou a consultoria do Fator para privatização da Cesp. No ano seguinte, o banco venceu licitação do BNDES para concepção da venda da Cedae.

Gabriel Galípolo - Divulgação/Banco Fator

Sob o comando de Galípolo, o Fator também atraiu capital estrangeiro para que assumisse a construção e exploração da linha 6 do metrô de São Paulo.

Apesar de sua proximidade com o setor financeiro, seu nome é visto com ressalvas, por seu perfil mais inclinado a teses heterodoxas. Silvio Campos Neto, economista sênior da consultoria Tendências, é um dos que expressou nesta terça (13) uma visão mais cautelosa sobre o nome de Galipolo.

"Não o conheço muito, mas sei que tem uma visão mais desenvolvimentista. É importante que ele se manifeste nos próximos dias para falar o que pensa, o que pretende no cargo, para obtermos informações melhores e conseguir avaliar de forma mais precisa qual a orientação que pretende adotar."

Em abril deste ano, Galípólo e Haddad assinaram na Folha artigo em que sustentam que a criação de uma moeda sul-americana para "impulsionar o processo de integração regional, marcado pelo ritmo lento e por momentos de recuo, e fortalecer a soberania monetária dos países da América do Sul".

Lula não desconhece a trajetória de seu novo conselheiro. Nem suas opiniões. Simpático à social-democracia instalada na Europa do século 20, Galípolo refuta, por exemplo, a ideia de conflito entre mercado e Estado.

Na campanha, durante jantar da presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), com economistas, ele lamentou o que vê como dicotomia. Galípolo também afirmou que "privatização não pode ter um fim em si mesma", mas estar alinhada a um propósito.

Esse conceito foi posto em prática na privatização da Cedae. O governo do Rio reivindicava que os recursos fossem destinados ao pagamento de dívidas. Mas, pelo modelo concebido, o dinheiro deverá ser revertido em programa de saneamento.

Atual economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves elogia o que chama de "honestidade intelectual" de Galípolo, ao lado de quem trabalhou. Segundo José Francisco, Galípolo não rasga seu diploma ao sabor de suas conveniências. "Ele não tem raiva do mercado e do Estado. Por ser mais sofisticado intelectualmente, é mais rico no debate."

Galípolo tem manifestado sua opinião nas conversas com Lula, mantidas desde o ano passado. Por sugestão de um amigo em comum, Lula convidou Galípolo para um encontro virtual. Segundo petistas, o ex-presidente gostou do que ouviu, ampliando diálogo.

Mestre em economia pela PUC de São Paulo, o ex-banqueiro tem como um dos mentores o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, com quem escreveu três livros. Seus títulos: "Manda quem pode, obedece quem tem prejuízo", "A escassez na abundância capitalista" e "Dinheiro: o poder da abstração real".

Com Beluzzo, ele dividiu uma sociedade por um ano, além de compartilhar sua paixão pelo Palmeiras e a curiosidade pela física quântica. Filho de um uruguaio, Galípolo gosta de rock clássico, tendo viajado à Irlanda para assistir a um show do U2.

Formado em 2004, foi convidado dois anos depois para trabalhar no governo José Serra (PSDB). Como chefe da assessoria econômica da Secretaria de Transportes Metropolitanos, atuou na implementação da PPP (Parceria Público Privado) para construção da linha 4 do metrô, ocupando em seguida a diretoria de estrutura e projetos da Secretaria de Planejamento, comandada à época por Francisco Vidal Luna.

Em 2008, Belluzzo foi sondado para assumir o Banco Central, no lugar de Henrique Meirelles, e convidou Galípolo para assessorá-lo na instituição. Encorajado por Luna, Galípolo deixou o governo de São Paulo, mas a nomeação de Belluzzo não prosperou.

Em 2009, após uma breve sociedade com Belluzzo, Galípolo fundou sua própria consultoria voltada a projetos de investimentos, especialmente na área de infraestrutura.

Três anos antes, uma experiência na transição do governo Cláudio Lembo para o de Serra acabou por propiciar uma aproximação com o petista Aloizio Mercadante. Durante o processo, Galípolo buscava a viabilização financeira de dois projetos: uma linha de metrô em área nobre de São Paulo e uma estação de trem na periferia.

O projeto do metrô foi aprovado. O da linha de trem, não. Incentivado por um colega, Galípolo relatou sua frustração ao governador Cláudio Lembo no corredor do Palácio dos Bandeirantes. Sensibilizado, Lembo determinou a aprovação de verba também para a periferia.

No ano seguinte, já na inauguração da linha de trem, o então governador José Serra foi abordado por uma moradora que comemorava o fato de ter vendido sua casa com preço valorizado graças à obra. De lá, ela mudaria para uma região ainda mais periférica.

Desapontado pela constatação de que a obra afastara a moradora do centro, Galípolo dedicou-se à elaboração de um projeto destinado à oferta de moradia para população de baixa renda em regiões com subaproveitada estrutura de saneamento, educação e transporte.

Em 2010, o projeto —detalhado em 150 slides— chegou às mãos de Mercadante. Então candidato ao governo de São Paulo, Mercadante incorporou a proposta a seu programa.

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