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Copom deve manter Selic em 10,5%, mas endurecer tom, dizem economistas

Piora do câmbio e incertezas fiscais podem gerar sinalizações de alta no juro em decisões futuras

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Laura Intrieri
São Paulo

O Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) deve manter taxa Selic nos atuais 10,50% ao ano na reunião desta quarta (31), segundo agentes do mercado financeiro, que preveem uma decisão por unanimidade. A expectativa é corroborada por levantamento recente da Bloomberg com 19 economistas.

O comitê, por outro lado, deve emitir comunicado mais duro com relação à deterioração do cenário econômico, sinalizando possibilidade de alta na Selic em decisões futuras, de acordo com especialistas consultados pela Folha.

Na última reunião, em 19 de junho, o Copom obteve consenso para interromper o ciclo de cortes da taxa básica de juros, ainda que sob pressão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para uma redução.

Fachada da sede do Banco Central, em Brasília. - Folhapress

Até então, a taxa havia passado por seis reduções de 0,5 ponto percentual e uma de 0,25 ponto, o que a levou para o menor patamar desde fevereiro de 2022, quando estava fixada em 9,25% ao ano.

Para a reunião desta quarta, pesa na decisão do órgão a deterioração de expectativas de inflação, incertezas com relação à capacidade de cumprir o arcabouço fiscal (a nova regra para as contas públicas aprovada no ano passado) e um câmbio mais desvalorizado.

"Os modelos do Banco Central provavelmente apontarão para uma inflação ainda elevada nos próximos dois anos, e isso dificulta a redução da Selic", diz Thaís Zara, economista sênior na LCA Consultores.

O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) registrou nova desaceleração em julho, para 0,30% —acima das expectativas de 0,23% do mercado. Os preços do grupo alimentação e bebidas aliviaram o índice, com recuo de 0,44%, enquanto transportes tiveram alta de 1,12%. Nos últimos 12 meses, o IPCA-15 teve ganho de 4,45%, enquanto o mercado esperava 4,38%.

O centro da meta oficial para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

Economistas consultados pelo Banco Central, por outro lado, voltaram a prever inflação maior, com a expectativa para o IPCA passando de 4% para 4,05% neste ano, segundo último boletim Focus.

A mesma pesquisa mostrou que a expectativa sobre a taxa Selic permanece estável em 10,5% para este ano, em 9,5% para 2025 e em 9% para 2026 e 2027.

Até o fim do ano, quando termina o mandato de Roberto Campos Neto, atual chefe da autoridade monetária, o Copom tem mais três rodadas de reuniões —17 e 18 de setembro, 5 e 6 de novembro e 10 e 11 de dezembro.

Nesse intervalo, o órgão pode decidir por uma nova alta na taxa básica, na avaliação de Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.

"Teremos muita turbulência pela frente e o câmbio vai ficar mais alto do antes, o que, junto com o fiscal mal encaminhado, pressiona a inflação. Por conta disso, o risco é o Banco Central ter que subir a Selic este ano. A possibilidade de alta é maior do que a de baixa", diz.

O avanço mensal de 0,25% do Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br) também pode levar a uma postura mais conservadora do Banco Central, de acordo com Alessandra Ribeiro, economista e sócia diretora da consultoria Tendências.

"Do ponto de vista da atividade econômica, é positivo, mas, do ponto de vista da inflação, é mais um elemento que ainda pede cautela", afirma.

Os economistas citam as tensões políticas norte-americanas e incertezas sobre a saúde fiscal do Brasil como fatores de influência para a depreciação do câmbio. O peso das mudanças no cenário internacional, entretanto, é limitado, segundo Vale.

"Países emergentes parceiros não tiveram pressão como nós tivemos. O cenário doméstico tem peso mais importante nesse sentido", diz.

Zara, da LCA consutores, vai na mesma linha: "existe o componente externo das eleições dos EUA, mas há também o componente doméstico, que é a dificuldade de vislumbrar as contas do governo caminhando para uma consolidação do superávit".

O ministro Fernando Haddad (Fazenda) anunciou um bloqueio de R$ 11,2 bilhões e contingenciamento de R$ 3,8 bilhões no Orçamento deste ano em uma tentativa de cumprir as regras do arcabouço fiscal. Emendas parlamentares e ministérios que concentram obras devem estar entre os principais alvos.

A medida, apesar de positiva, é insuficiente para sinalizar vontade política do governo em fazer ajustes considerados importantes para o mercado, segundo Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Votorantim.

"O governo precisaria adotar medidas fiscais mais robustas para convencer os agentes econômicos, tanto no âmbito técnico quanto político. Uma possibilidade seria a revisão de indexações em setores como saúde e previdência, além da reavaliação de gastos tributários", diz.

Mas mais importante do que a manutenção da taxa de juros será a comunicação do Banco Central para coordenar expectativas, de acordo com especialistas.

"A indicação deve ser a de que o balanço de riscos está piorando. O BC vinha cortando taxas, mas, agora, está inseguro e precisou reagir e seguir sinalizando isso", diz Padovani.

"O comunicado deve vir mais duro, no sentido de sinalizar que, se a deterioração observada se mostrar mais duradoura, o Copom deve reagir e subir a Selic", afirma Ribeiro, da Tendências.

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