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Mariana Mazzucato diz que governos têm dependência excessiva de consultorias

No livro 'A Grande Falácia', economista acusa empresas de serem pouco efetivas e omitirem interesses

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Vandson Lima

A Grande Falácia: Como a Indústria da Consultoria Enfraquece as Empresas, Infantiliza Governos e Distorce a Economia

Avaliação: Ótimo
  • Preço: R$ 149,90 (336 págs.); R$ 49,90 (ebook)
  • Autoria: Mariana Mazzucato e Rosie Collington
  • Editora: Portfolio Penguin
  • Tradução: Laura Teixeira Motta

Vencedor das eleições no Reino Unido, o Partido Trabalhista do novo primeiro-ministro britânico Keir Starmer apresentou um modelo diferente de plano de governo em seu manifesto: ao invés de uma batelada de promessas divididas por área, "missões", grandes objetivos que envolvem vários setores e organizam a gestão em torno de sua execução.

O conceito de governo "liderado por missões", que influenciou o Labour, foi popularizado pela economista Mariana Mazzucato em seu livro de 2021, "Missão Economia: um Guia Inovador para Mudar o Capitalismo".

Mariana Mazzucato, economista que escreveu 'A Grande Falácia' em parceria com Rosie Collington - Denis Balibouse/REUTERS

Mazzucato está de volta e sua nova "missão", em parceria com Rosie Collington, é apresentada no livro "A Grande Falácia", que questiona o papel cada vez mais central de consultorias no funcionamento do setor público —cuja dependência excessiva, alegam, debilita governos, deixa-os reféns de interesses não declarados e ameaça a própria democracia.

As consultorias atuam de forma legal e são frequentemente contratadas por empresas ou governos para dar um verniz de autoridade que respalde mudanças de impacto, como cortes de gastos e reformas. Para Mazzucato e Collington, contudo, o que elas oferecem é um "truque de confiança".

O trabalho de um consultor é convencer clientes inseguros de que eles têm as respostas certas. E o livro passeia por diversos estudos de caso para argumentar que os resultados são muitas vezes pouco efetivos, e não raro, prejudiciais.

Dois casos pinçados pelas autoras se destacam: o desastroso início da ambiciosa reforma do sistema de saúde no governo de Barack Obama nos EUA, e o processo de recuperação pós-falência de Porto Rico.

No caso do Obamacare, feito para proporcionar acesso básico e assistência médica aos americanos, partes essenciais do projeto foram terceirizadas e divididas em dezenas de consultorias. Apesar do aviso do próprio Obama de que "isso só vai funcionar se a tecnologia funcionar", no dia do lançamento, em outubro de 2013, milhões de americanos tentaram o acesso ao site indicado e apenas seis pessoas conseguiram se registrar.

O governo detinha pouco controle da operação, no que Mazzucato e Collington definem como um caso em que o erro consiste em "contratar consultorias não só para assessorar administradores públicos ou prestar serviços especializados bem definidos, mas para governar".

Para piorar, como o contrato era estruturado para fazer o cliente, no caso o governo, arcar com eventuais custos adicionais, o CGI Group cobrou pelo trabalho extra para correção de defeitos da plataforma "que eram resultado de suas próprias falhas".

Em Porto Rico, em 2016, por influência de Washington (Obama também era o presidente), a McKinsey foi contratada para dar recomendações a um Conselho de Supervisão sobre o processo de falência.

A consultoria se envolveu na privatização de empresas públicas, reformas de saúde, corte de gastos públicos e reestruturação de dívidas, sendo que, defendem as autoras, a própria consultoria possuía US$ 20 milhões em títulos de Porto Rico. Assim, os consultores estavam potencialmente lucrando com a mesma dívida que estavam ajudando a reestruturar.

As autoras alegam que as consultorias não causam as enfermidades do capitalismo neoliberal, mas com elas promovem uma profecia autorrealizável: na medida em que o Estado delega, esse conhecimento não permanece no setor público. Logo, diante do próximo problema —e problemas acontecem quase o tempo todo em governos —estes terão de novamente buscar os consultores, que cobrarão o preço que lhes for conveniente pelo novo trabalho.

"[Consultorias] corroem as capacidades de estados e empresas. Como o conhecimento não é cultivado dentro das forças de trabalho e instituições estatais, uma dependência da ‘expertise’ das consultorias cresce vertiginosamente."

Pode-se dizer que o livro parte de uma premissa e busca casos que respaldam sua tese, uma crítica válida. Mas as autoras não escondem o jogo. Assim como o Instituto de Inovação e Propósito Público da University City of London (UCL), fundado por Mazzucato com o objetivo de "desafiar o pensamento ortodoxo sobre o papel do estado e do setor privado na condução da inovação", a dupla rechaça estar produzindo uma ciência plana e de conclusão absoluta.

A busca aqui é encarar o debate, provocar reflexão e propor mudanças com um viés ideológico explícito, à esquerda. Tal como fizeram, com sucesso, ao influenciar o plano de governo do novo governo britânico, eleito após 14 anos de domínio conservador no Reino Unido.

A nova fronteira, apontam na última seção do livro, é a questão climática, com a atual explosão de contratos para assessorar na governança ambiental, social e corporativa (ESG, na sigla em inglês). "A indústria da consultoria ajudou a consolidar formas de produção movidas pela maximização dos lucros no curto prazo que intensificaram as emissões de carbono", defendem.

"Agora, diante da preocupação crescente com a crise climática, aproveita uma nova onda (...). Trabalham simultaneamente para governos cujas populações gostariam de ver uma redução nas emissões e para as empresas de combustível fóssil que mais contribuem para a crise do clima", concluem.

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