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SP, MG, RS e RJ seguram definição de que ativos incluir em negociação de dívida

Quatro estados, superendividados, respondem por cerca de 90% da dívida dos entes com União

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Os governos de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul dizem aguardar a tramitação do novo projeto que renegocia a dívida dos estados com a União antes de definir que ativos pretendem oferecer ao governo em troca do desconto nos vencimentos.

Os quatro, somados, respondem por cerca de 90% da dívida de R$ 749 bilhões que os estados possuem perante a União.

Governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, em reunião com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, para tratar de pacote de ajuda na reconstrução do estado após as chuvas que causaram enchentes - Folhapress

O projeto apresentado no dia 9 deste mês pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), prevê que os estados podem ter um desconto no indexador que reajusta a dívida mediante a entrega de ativos à União.

Hoje em IPCA +4%, os juros da dívida poderiam ser reduzidos para IPCA +2% mediante a entrega de ativos –como empresas públicas e créditos judiciais– que representem mais de 20% do estoque do passivo do estado junto à União.

Caso a unidade da federação entregue ativos que correspondam de 10% a 20% da dívida total, a queda é de apenas 1 ponto percentual.

A Folha mostrou que o projeto, que ainda prevê outros descontos nos juros pagos à União, elevaria a dívida pública em R$ 462,2 bilhões até 2033, conforme cálculos da corretora Warren Rena.

Dos quatro estados superendividados, São Paulo lidera a lista, com um estoque de R$ 281,5 bilhões, mas tem honrado o compromisso junto ao governo.

Na sequência, vêm Rio de Janeiro (R$ 163 bilhões), Minas Gerais (R$ 160 bilhões) e Rio Grande do Sul (R$ 96 bilhões).

Estados superendividados

Passivo de cada unidade com o governo federal

  1. São Paulo

    R$ 281,5 bilhões

  2. Rio de Janeiro

    R$ 163 bilhões

  3. Minas Gerais

    R$ 160 bilhões

  4. Rio Grande do Sul

    R$ 96 bilhões

Enquanto o governo mineiro não paga as parcelas da dívida graças a decisões do STF (Supremo Tribunal Federal), os estados carioca e gaúcho aderiram ao RRF (Regime de Recuperação Fiscal), programa que permite a suspensão dos vencimentos.

A proposta de Pacheco foi desenhada para solucionar a situação de Minas Gerais, base eleitoral do senador, que tem enfrentando dificuldade na Assembleia Legislativa para aderir ao RRF.

O estado também é considerado como aquele que mais tem ativos para conceder à União em troca do desconto da dívida, porque Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro já privatizaram parte de suas estatais para cumprir com as normas do RRF.

Uma questão que deve acirrar a disputa entre o governo de Romeu Zema (Novo) e a equipe econômica é em relação ao valor das estatais mineiras.

São três principais empresas que o estado poderia federalizar em troca do desconto da dívida: Cemig, de energia, Copasa, de saneamento, e a Codemig (Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais).

Segundo o governador, o valor delas é muito superior ao limite determinado para o desconto da dívida.

De acordo com o projeto de Pacheco, Minas teria que entregar ativos acima de R$ 32 bilhões –considerando a dívida em cerca de R$ 160 bilhões– para ter o desconto anual de 2% nos juros da dívida.

O impasse maior entre os governos estadual e federal deve ser em relação ao valor da Codemig, que não tem ações negociadas em Bolsa, ao contrário das outras duas.

Sua principal função é a exploração do nióbio, por meio de um contrato com a CBMM (Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração).

Hoje, a estatal vale cerca de R$ 25 bilhões a R$ 35 bilhões, conforme números citados anteriormente citados pelo governo.

Uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) em tramitação na Assembleia Legislativa do estado, porém, pode destravar de R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões do valor da empresa. Ela prevê que, caso a empresa seja federalizada, o direito de lavra, que pertence ao estado, também seria repassado à União.

"Se o governo quiser federalizar a Codemig do jeito que está hoje, sem a PEC, vai vender a empresa com o direito de lavra apenas até vencer o contrato com a CBMM [2032], e depois esse direito volta para o estado", explica Hugo René de Souza, do Sinfazfisco (Sindicato dos Servidores da Tributação, Fiscalização e Arrecadação do Estado de Minas Gerais).

Nas contas do sindicato, a avaliação da Codemig poderia chegar a R$ 50 bilhões caso a PEC seja aprovada.

Em relação às outras duas principais estatais de Minas, a conta é mais simples, porque elas são negociadas em Bolsa.

Considerando o valor das ações desta sexta-feira (19), a participação do estado na Copasa é de R$ 3,86 bilhões, e na Cemig, de R$ 6,3 bilhões. O Sinfazfisco, porém, diz que a fatia do Estado na empresa de energia poderia chegar a R$ 20 bilhões considerando patrimônio e subsidiárias.

O governo de Minas disse em nota que não há como afirmar, neste momento, quantos e quais ativos poderiam ser envolvidos. Também disse discordar de qualquer hipótese que cogite o uso de possível repactuação da tragédia de Mariana e da reparação pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho como forma de abatimento da dívida.

O Rio de Janeiro, primeiro estado a aderir ao regime de recuperação fiscal, diz que ainda aguarda a tramitação da proposta e a redação do texto final para analisar a adesão à proposta de Pacheco.

O governo do Rio já não tem grandes estatais para federalizar -a maior delas, a Cedae (Companhia Estadual de água e Esgoto) foi alvo de processo de concessão em 2021. Mas o deputado estadual Luiz Paulo (PSD) lembra que o PL contempla a federalização de outros tipos de ativos.

Entre eles, está a dívida ativa do estado, que hoje soma R$ 140 bilhões, incluindo créditos de difícil recuperação. Há ainda créditos tributários ainda não incluídos em dívida ativa ou patrimônio imobiliário. Considerando o texto atual do PL, o Rio precisaria de R$ 16,3 bilhões para descontar um ponto percentual dos juros de sua dívida com a União.

"Mas é preciso dar contrapartidas para entrar na negociação", destaca o deputado, lembrando que o estado teria que estar disposto a seguir um regime de teto de gastos equivalente ao federal.

Na quarta (17), o governador Cláudio Castro (PL) defendeu que estados que estão sob o RRF também possam aderir ao novo projeto de renegociação de dívidas dos estados. O texto de Pacheco, porém, prevê apenas a migração de um programa para o outro.

O Rio Grande do Sul, que aderiu ao RRF em junho de 2022, enfrenta o desafio de buscar uma nova negociação da dívida enquanto se recupera dos danos causados pelas chuvas e enchentes na economia estadual.

A Câmara dos Deputados aprovou em maio a suspensão do pagamento da dívida gaúcha até 2027, com a condição que os R$ 11 bilhões economizados nesse período sejam destinados a um fundo de reconstrução.

Em nota, a Sefaz (Secretaria Estadual da Fazenda do RS) disse que o governo gaúcho quer um debate maior sobre alguns pontos do projeto de Pacheco diante da tragédia climática, como o indexador da dívida, a renegociação dos termos do RRF e a flexibilização de condições para contratação de crédito.

O valor oriundo de cada ativo que o governo poderia conceder em troca do desconto nos juros ainda não foi consolidado pela Sefaz.

O Rio Grande do Sul se desfez de suas principais estatais nos últimos anos, condição imposta para aderir ao RRF. Em 2019, o governador Eduardo Leite (PSDB) assinou a autorização para privatizar as estatais CEEE (energia elétrica), Sulgás (venda e distribuição de gás natural) e CRM (mineração). As duas primeiras já foram leiloadas.

Em 2023, foi assinado o contrato de venda da Corsan (Companhia Riograndense de Saneamento), arrematada em leilão por R$ 4,15 bilhões.

A Sefaz-SP (Secretaria da Fazenda de São Paulo) diz que estuda o texto apresentado por Pacheco e que ele tem aspectos adicionais aos da proposta apresentada pelo Consórcio de Integração Sul e Sudeste (COSUD), no primeiro trimestre de 2024.

De acordo com o governo paulista, há atualmente 15 empresas sob coordenação direta do governador, como o Metrô, a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), a Companhia Docas de São Sebastião e a Prodesp (de tecnologia da informação).

Essa conta inclui a Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia), que foi leiloada em abril com um lance de R$ 1,04 bilhão dado pelo Fundo Phoenix.

Também inclui a Sabesp, cuja privatização é uma das bandeiras do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e que teve a Equatorial como única finalista para se tornar acionista de referência na companhia de saneamento, conforme anunciado em junho.

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