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Tom mais duro mostra preocupação do BC com inflação, mas analistas não veem alta de juro em 2024

Especialistas destacam pressão inflacionária e incerteza nos EUA como fatores para manutenção da Selic em 10,5% ao ano

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São Paulo

Um cenário externo incerto, com o desfecho imprevisível das eleições nos Estados Unidos, e uma sinal vermelho nas expectativas de inflação para o segundo semestre levaram a um tom mais duro na manutenção dos juros no patamar atual, segundo economistas ouvidos pela Folha. Eles não veem, no entanto, grandes chances de os juros voltarem a subir num futuro próximo.

Em decisão unânime, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central conservou nesta quarta-feira (31) os juros básicos em 10,5% ao ano. Esta é a segunda reunião consecutiva sem alteração no patamar dos juros.

A posição, porém, também é alvo de críticas de parte dos analistas, que avaliam que havia espaço para o corte de juros e ligam a decisão a uma pressão do mercado.

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, na sede da instituição em São Paulo - Agencia Brasil

É um texto mais duro do que o anterior, que traz uma mudança na sistemática de projeção da inflação, incorporando seis trimestres à frente, avalia Lívio Ribeiro, sócio da BRCG e pesquisador associado do FGV IBRE (Instituto Brasileiro de Economia), da Fundação Getulio Vargas.

"É um comunicado que, mantendo os juros a 10,5%, enxerga no primeiro trimestre de 2026 a inflação a 3,2% e enxerga essa inflação a 3,4% no final de 2025."

Ele complementa que será preciso aguardar a divulgação da ata da reunião, mas que o BC não parece referendar o mercado, que espera uma elevação de juros em setembro.

"Com o que está escrito hoje e com a estrutura da comunicação oficial, tem mais risco. O Copom está mais preocupado, mas isso não significa começar a subir juros na próxima reunião."

Na visão da economista Juliana Inhasz, do Insper, a decisão do Copom é adequada e alinhada com o contexto da economia brasileira.

"Temos vários riscos, o fiscal é um problema sério, apesar do contingenciamento de gastos divulgado recentemente. É agora no segundo semestre que os gastos deixarão de ser feitos e precisamos entender como isso se reverte no resultado fiscal."

Inhasz não vê a Selic voltando a subir até o fim de 2024. "A provável redução da taxa americana, junto com o contingenciamento [de gastos no Brasil] reduziram a pressão. Mas o governo tem de fazer a lição de casa no fiscal."


Para o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, a manutenção do patamar de juros já era algo amplamente esperado e deve perdurar.

"É um cenário em que, provavelmente, os riscos no segundo semestre, especialmente por conta de câmbio e resiliência da inflação de serviços, vão continuar mantendo a expectativa de inflação elevada, não só para 2024, mas também para 2025", diz. Segundo ele, a inflação está caminhando para ficar neste ano e no próximo ano entre 4,4% e 4,5%.

"É uma Selic que ao longo de todo o governo Lula não vai conseguir sair muito desse patamar de 10%, muito por obra do governo, por conta da questão fiscal." Ele afirma, no entanto, que o cenário também depende do patamar do câmbio, que pode afetar a expectativa da inflação para 2025 e 2026.

O economista da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Pedro Paulo Zahluth Bastos concorda que a manutenção do patamar de juros era, de certo modo, esperada.

"Mas isso não quer dizer que deveria ser assim. Poderia ser diferente, em particular, se o Banco Central considerasse que já ficou claro que o Federal Reserve [banco central dos EUA] não iria reduzir juros."

Também nesta quarta-feira, o Fed (Federal Reserve, banco central americano) anunciou que decidiu manter os juros básicos dos Estados Unidos na faixa entre 5,25% a 5,50%.

Na avaliação de Bastos, a política fiscal está tendo resultados muito melhores do que aquilo que o mercado imaginava no início do ano e isso deveria provocar um ajuste de expectativas no sentido da redução da taxa de juros.

Já o Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região classificou como "danosa" a decisão do Copom.

"O Brasil segue com uma das mais altas taxas de juros reais do mundo, minando os investimentos produtivos, com encarecimento do crédito, o que tem consequências diretas sobre a geração de emprego e renda."

Para a entidade, o efeito é perverso ainda para o Orçamento, por causar impacto negativo na arrecadação, com menor consumo das famílias e empresas, e comprometer recursos com juros da dívida, pelo lado das despesas.

Na terça-feira (30), entidades sindicais protestaram em frente ao prédio do Banco Central na avenida Paulista, para pressionar pela queda dos juros e pela saída de Roberto Campos Neto da presidência do BC.

"Essa política de juros altos foi derrotada nas eleições de 2022. Campos Neto, se tivesse decência, teria entregado o cargo junto com [o ex-ministro da Economia] Paulo Guedes", disse no ato o presidente nacional da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Sérgio Nobre.

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