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Descrição de chapéu Estados Unidos

Vitória de Trump poderá ter mais impacto no mercado no exterior do que nos EUA

Eleição nos EUA é o assunto mais impactante para o mercado e que ninguém quer discutir

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Katie Martin

Editora de mercados do Financial Times

Financial Times

Nos mercados financeiros, o Trump Trade está em alta. Só está um pouco perdido e muito confuso.

Há meses, a possibilidade de Donald Trump voltar à Casa Branca tem sido o assunto mais impactante para os mercados e que ninguém quer discutir. Quando questionados sobre isso, investidores profissionais geralmente murmuram algo vago sobre impostos e gastos.

Investidores projetam o impacto de um segundo governo de Donald Trump nos Estados Unidos - Getty Images via AFP

"Bem, os programas fiscais são mais ou menos os mesmos que os de Joe Biden, então não vemos muito impacto de qualquer maneira e, você sabe, historicamente, as eleições não importam tanto." Isso é o que se costuma ouvir.

Isso sempre foi estranho. Analistas políticos estão convencidos de que esta é a eleição mais polarizada e com mais desdobramentos dos nossos tempos, e os investidores dizem que não importa quem vencerá.

Certamente, nenhum dos candidatos está satisfeito em ter de reduzir os déficits. Ainda assim, a indecisão dos investidores, impulsionada em parte por uma relutância em irritar o candidato republicano vingativo caso ele tenha sucesso, está se tornando mais difícil —à medida que a plataforma de política econômica de Trump se torna mais clara e os traders e investidores veem o atentado de 13 de julho, quando o ex-presidente foi baleado na orelha, como um impulso para suas chances de sucesso eleitoral.

O maior ponto de consenso entre os investidores é que o Trump 2.0 é inflacionário. Um grande aumento nas tarifas comerciais, uma série de cortes de impostos para super-ricos e empresas, desregulamentação e uma repressão severa à imigração são uma receita clara para alta de ações, claro, mas também para uma inflação maior, o que é ruim para os preços dos títulos.

As ações estão seguindo esse roteiro, continuando a subir apesar de todas as preocupações habituais sobre avaliações já elevadas. Mas o impacto da história da inflação é muito mais complicado.

Veja, por exemplo, os movimentos do mercado na segunda-feira (15) —o primeiro dia de negociação após a tentativa de assassinato. Os títulos de longo prazo inicialmente caíram de preço, mas o quadro não se manteve. Pelo contrário, os rendimentos dos títulos de dois e dez anos estão caindo para seu patamar mais baixo desde março, à medida que os preços e a demanda aumentam.

Isso chega ao cerne das muitas contradições de uma potencial segunda presidência de Trump que torna tão difícil para os investidores lidarem. A ameaça de inflação é real, mas conflita com dados que mostram que, por enquanto, os aumentos de preços estão em retração, e entram em rota de colisão com a postura populista que Trump incorporou totalmente com a escolha de JD Vance como seu vice-presidente.

O reflexo dessa opção "América primeiro" é sombrio para a Ucrânia. As declarações anteriores de Vance sobre a guerra que ocorre no Leste Europeu sugerem que o apoio à sua defesa murchará rapidamente.

Também indicam uma prolongada exibição de força contra a China, que o candidato a vice descreveu, em uma entrevista na segunda (15), como a maior ameaça mundial para os EUA.

Não é surpresa, então, que os investidores busquem segurança na forma de títulos do governo dos EUA —o ativo preferido em tempos de estresse geopolítico. Da mesma forma, Vance declarou uma preferência por um dólar fraco, mas uma nova onda de inflação é, tudo permanecendo como está, positiva para o dólar.

Então, xeque-mate. O Trump Trade se torna, como o banco Rabobank afirmou em um comunicado recente, o "Trade Idiota" (Chump Trade, em inglês), consistentemente tropeçando em qualquer um que busque uma narrativa limpa e agradável.

Duas coisas, no entanto, são claras. A primeira é que o impacto de um segundo governo Trump —que, devemos lembrar, ainda não é uma certeza— provavelmente será mais acentuado nos mercados fora dos EUA.

Para muitos investidores no mundo, a China já é um país em que não se pode investir e permanecerá assim por anos se Trump e Vance tiverem êxito e mantiverem suas promessas.

E a preferência global por ações dos EUA em detrimento da Europa provavelmente se estenderá, especialmente se Trump retirar o apoio tanto à Ucrânia quanto à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

O segundo fator que os investidores têm que considerar é como responderiam se Trump cruzasse o limite e interferisse na independência do Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA).

"Se ele for por esse caminho, teremos incerteza e tumulto nos mercados", disse Michael Strobaek, diretor de investimentos do banco privado Lombard Odier.

A credibilidade institucional é difícil de quantificar e precificar. É um estado de espírito, classificou Salman Ahmed, chefe global de macroeconomia da Fidelity International. Mas uma vez que evapora, "os donos dos títulos acordam".

Quantos décimos de ponto percentual dos rendimentos dos títulos vale um Fed sem independência? Como isso se equilibraria contra uma provável busca por segurança entre gestores de fundos nervosos? A longo prazo, essas são questões mais preocupantes do que até onde as ações dos EUA podem subir se Trump cortar os impostos corporativos.

De forma temerária, os investidores tem noção que não sabem as respostas. Pior, eles reconhecem que há apenas uma maneira de descobrir. Ficar em cima do muro até lá pode, de fato, ser a melhor estratégia.

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