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BC anuncia intervenção no câmbio com leilão de venda de dólares à vista

Operação será a segunda atuação da autoridade monetária sobre o câmbio desde o início do terceiro mandato de Lula (PT)

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Brasília

O Banco Central anunciou na noite desta quinta-feira (29) a realização de um leilão de venda de dólares à vista na manhã de sexta (30), no valor máximo de US$ 1,5 bilhão. Será a segunda intervenção no câmbio desde o início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em comunicado, o BC informou que o leilão será referenciado à taxa Ptax e que acolherá as propostas entre 9h30 e 9h35. A mais recente operação nesses termos ocorreu em dezembro de 2021, no valor total de US$ 500 milhões. Já a última venda de dólar à vista aconteceu em abril de 2022, com valor de US$ 571 milhões.

Nesta quinta, o dólar fechou em forte alta de 1,18%, a R$ 5,621, conforme dados sobre a economia dos Estados Unidos consolidaram apostas de um afrouxamento gradual na taxa de juros norte-americana. A moeda também avançou em relação a divisas de outros mercados emergentes no exterior.

Sede do Banco Central, em Brasília - Pedro Ladeira - 4.mai.2022/Folhapress

Ao atuar no mercado à vista, a autoridade monetária vende reservas internacionais, sem compromisso de recompra, e o dinheiro é injetado no mercado. Essa foi uma alternativa mais recorrente no governo de Fernando Henrique Cardoso, durante o câmbio fixo.

Segundo o BC, cada intermediário poderá enviar até três propostas contendo volume pretendido e o diferencial, com até seis casas decimais, a ser adicionado ou diminuído da taxa de câmbio de venda do boletim de fechamento da Ptax do dia do leilão.

Calculada pelo BC com base nas cotações do mercado à vista, a Ptax é uma taxa de câmbio que serve de referência para a liquidação de contratos futuros. Com isso, agentes financeiros fecham contratos de câmbio já para o próximo mês, o que, por conta de incertezas do cenário doméstico e internacional, pode fazer com que a cotação do dólar suba.

Segundo um agente do mercado financeiro, o leilão atenderá ao rebalanceamento de um dos principais índices de referência para investidores que aplicam em bolsas de valores internacionais, chamado MSCI (sigla para Morgan Stanley Capital International).

Com a mudança, os investidores precisarão reduzir suas posições no Brasil e enviar recursos ao exterior, o que poderia gerar um repique na cotação do dólar devido a uma maior demanda pela moeda norte-americana. A expectativa é de saída entre US$ 1 bilhão e US$ 1,5 bilhão nesta sexta.

Na primeira intervenção no câmbio sob o governo Lula, em abril, o BC realizou um leilão adicional de 20 mil contratos de swap cambial tradicional, atuando no mercado futuro. Foram vendidos todos contratos ofertados —o equivalente a US$ 1 bilhão—, sendo 16 mil com vencimento em 1º de abril de 2025 e outros 4 mil com vencimento em 2 de janeiro de 2025.

Em 2023, o BC atravessou o ano sem ter realizado leilões extras de dólar em meio a um cenário de baixa volatilidade do real e de forte fluxo comercial.

Nas últimas semanas, em um ambiente de volatilidade do dólar frente ao real, a cúpula do BC foi questionada em diversas ocasiões sobre a ausência de intervenções da autoridade monetária no mercado de câmbio.

Na última quarta-feira (28), o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que a instituição chegou muito perto de fazer uma intervenção no câmbio. Na ocasião, acrescentou que a autoridade monetária ainda poderia atuar se preciso. "O Banco Central está com o dedo no gatilho", afirmou.

O anúncio da operação de câmbio foi feito um dia depois da indicação de Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária, para o comando do BC. Ele é o responsável pela definição da atuação da autoridade monetária no mercado de câmbio.

O dólar atingiu seu maior patamar do ano na sessão de 5 de agosto, quando fechou cotado a R$ 5,739, chegando a bater R$ 5,865 na máxima do dia. O principal catalisador foram temores de uma possível recessão na economia dos Estados Unidos, após dados fracos de emprego terem causado pânico mundial nos mercados.

Após algumas sessões de alívio, o dólar voltou a subir nesta semana, registrando altas consecutivas desde segunda (26). Com o fechamento desta quinta, de R$ 5,621, a divisa acumula alta de quase 16% em relação ao real, que apresenta uma das piores performances entre as 16 principais moedas do mundo, ganhando apenas do peso mexicano.

A alta desta quinta também teve como pano de fundo a economia dos EUA. Autoridades do país informaram que o PIB americano atualizado cresceu 3% no segundo trimestre, superando a estimativa inicial de 2,8% apresentada na primeira leitura preliminar.

O dado acelerou em relação ao 1,4% registrado no primeiro trimestre, afastando ainda mais os temores de que uma desaceleração acentuada estaria em curso na maior economia do mundo.

Ao mesmo tempo, o número de pedidos iniciais de auxílio-desemprego recuaram na semana encerrada em 24 de agosto para 231 mil, ante 233 mil da semana anterior e abaixo das estimativas de 232 mil pedidos.

A leitura é que a economia continua forte e que o mercado de trabalho, apesar de apresentar sinais leves de resfriamento, está mais resiliente do que o especulado no começo do mês.

No entanto, os dados foram divulgados depois de uma onda de otimismo sobre uma iminente redução de juros nos EUA. Na semana passada, o presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), Jerome Powell, afirmou que "chegou a hora" de cortar os juros no país, atualmente na faixa de 5,25% e 5,50%, para não enfraquecer a economia americana.

Após os últimos dados sobre o PIB, a avaliação é de que a autoridade monetária americana terá que realizar cortes mais baixos que o esperado anteriormente.

A perspectiva de juros mais altos nos EUA tende a fortalecer o dólar pois aumenta a atratividade da renda fixa americana, considerada uma das mais seguras do mundo, e a penalizar moedas de mercados de maior risco, como países emergentes.

No Brasil, por outro lado, as apostas sobre uma possível alta de juros vêm ganhando força no mercado, o que pode beneficiar o real.

Apesar da nova guinada em agosto, a moeda americana já havia registrado uma forte alta em junho, em meio a temores sobre a situação fiscal do país e a recorrentes ataques de Lula ao presidente do BC, Roberto Campos Neto. Naquele mês, o dólar saiu de R$ 5,23 para R$ 5,59, num avanço de 6,9%.

À época, também houve especulações sobre uma possível intervenção no câmbio, mas especialistas consultados pela Folha desaconselharam uma intervenção pontual do BC para conter o avanço do dólar. Não houve movimentações da autoridade monetária nesse sentido no período.

Colaborou Tamara Nassif

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