Dólar sobe 1% e Bolsa recua após dados dos EUA indicarem corte gradual nos juros

PIB americano do segundo trimestre cresceu 3,0% na base anual, acima do esperado por analistas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O dólar tinha forte alta nesta quinta-feira (29), conforme dados sobre a economia dos Estados Unidos consolidavam apostas de um afrouxamento gradual na taxa de juros norte-americana.

Às 15h40, a moeda subia 1,24%, cotada a R$ 5,625, em linha com o avanço da divisa no exterior. Já a Bolsa recuava 0,89%, aos 136.108 pontos, depois de renovar a máxima histórica na véspera e ultrapassar a marca de 137 mil pontos pela primeira vez no fechamento.

Investidora observa painel com variação de ações na B3, em São Paulo
Na quarta-feira (28), o dólar teve avanço firme de 0,96%, cotado a R$ 5,555, e a Bolsa fechou em alta de 0,42%, aos 137.343 pontos —novo recorde para o mercado acionário brasileiro - Carla Carniel/Reuters

O PIB (Produto Interno Bruto) anualizado dos Estados Unidos cresceu 3% no segundo trimestre, superando a estimativa inicial de 2,8% apresentada na primeira leitura preliminar. Economistas consultados pela Reuters previam que não haveria revisão.

O dado acelerou em relação ao 1,4% registrado no primeiro trimestre, afastando ainda mais os temores de que uma desaceleração acentuada estaria em curso na maior economia do mundo.

Ao mesmo tempo, o número de pedidos iniciais de auxílio-desemprego recuaram na semana encerrada em 24 de agosto para 231.000, ante 233.000 da semana anterior e abaixo das estimativas de 232.000 pedidos.

A leitura é que a economia continua forte e que o mercado de trabalho, apesar de apresentar sinais leves de resfriamento, está mais resiliência do que se especulava no começo do mês.

O ritmo da atividade americana impacta na tomada de decisões do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA). Na análise de Fábio Murad, sócio da Ipê Avaliações, o resultado sugere que a política monetária implementada pela autarquia tem sido eficaz no controle inflacionário sem comprometer o crescimento econômico de forma significativa.

O presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou na semana passada que "chegou a hora" de cortar os juros, atualmente na faixa de 5,25% e 5,50%, para não enfraquecer a economia americana. A dúvida, agora, é sobre o tamanho das reduções: se mais agressiva, de 0,50 ponto percentual, ou gradual, a começar com um corte de 0,25 ponto.

"Com uma economia ainda aquecida, é mais provável que o Fed mantenha uma abordagem cautelosa, optando por cortes menores de 0,25 ponto percentual, para garantir que a inflação continue sob controle", diz Murad.

"Para o Brasil e outros mercados emergentes, isso pode implicar em um fluxo de capital internacional mais moderado do que se houvesse cortes mais agressivos nos juros americanos."

A perspectiva de um afrouxamento gradual elevava os rendimentos dos Treasuries, os títulos do Tesouro norte-americano, o que tornava o dólar mais atraente no exterior.

O título de dois anos —que reflete apostas para os rumos das taxas de juros de curto prazo— subia 0,03 ponto percentual, a 3,898%. Com isso, o dólar avançava sobre a maioria das moedas emergentes, com altas frente ao peso mexicano, ao peso chileno e ao peso colombiano.

No Brasil, dados do IGP-M, a "inflação do aluguel", acentuavam a desvalorização do real.

O Índice Geral de Preços-Mercado desacelerou mais do que o esperado por analistas em agosto, em alta de 0,29%, depois de ter avançado 0,61% no mês anterior, informou a FGV (Fundação Getulio Vargas). A expectativa era de avanço de 0,46%. O índice agora acumula ganhos de 4,26% em 12 meses.

"Com o IGP-M abaixo das projeções do mercado, aumentam as apostas de que o Copom (Comitê de Política Monetária) manterá a taxa Selic inalterada na próxima reunião", diz André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, plataforma de transferências internacionais. A taxa básica de juros do país está em 10,50% ao ano.

Os próximos passos do BC (Banco Central) têm sido observados de perto pelo mercado. Na quarta-feira, foi confirmada a indicação de Gabriel Galípolo à presidência da autarquia, após o término do mandato de Roberto Campos Neto em 31 de dezembro deste ano.

Se aprovado pelo Senado Federal, o atual diretor de Política Monetária assume o comando da instituição com a missão de angariar a confiança do mercado financeiro, que teme um BC leniente no combate à inflação em 2025, quando o Copom terá maioria dos integrantes indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A indicação de Galípolo já era amplamente esperada. "Desde o ano passado, os agentes financeiros já trabalhavam com a hipótese dele estar à frente do BC, e de lá para cá houve uma mudança quanto à percepção que o mercado tinha dele", diz Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimento.

"Esperava-se que Galípolo sucumbiria às pressões do governo, mas a postura mais dura no combate à inflação reduziu essa percepção."

No mercado de juros futuros, as taxas tiveram altas firmes após o anúncio e seguiam avançando nesta quinta. A reação da curva brasileira traduz a percepção de que aumentaram as chances de alta da Selic até o final do ano —ainda que Galípolo só vá assumir o comando do BC em 2025. Isso porque o diretor, em suas falas mais recentes, tem reforçado que o Copom elevará a taxa básica se for necessário.

Com a desaceleração do IGP-M e da inflação medida pelo IPCA-15, a dúvida é se os dados estão "desconfortáveis" o suficiente para o comitê considerar um aperto monetário no próximo encontro.

Quanto mais o Fed cortar a taxa americana e mais o BC subir a Selic por aqui, melhor para o real, que fica mais atraente a investimentos por causa do diferencial de juros.

Na cena corporativa, apenas sete papéis subiam, entre eles Gerdau (2,71%), CSN (1,44%) e Banco do Brasil (1,03%).

A ponta negativa era liderada pelas ações da Azul, que desabavam 20% com preocupações sobre eventuais estratégias que a companhia aérea possa buscar para lidar com suas dívidas.

De acordo com reportagem da Bloomberg News publicada na quarta-feira, citando pessoas familiarizadas com o assunto, a Azul está avaliando opções que vão desde uma oferta de ações até a apresentação de um pedido de recuperação judicial para fazer frente às obrigações de dívida que se aproximam.

Vale tinha estabilidade e Petrobras caía 0,51%.

Com Reuters

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.