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BC sobe o tom e diz que não hesitará em subir a Selic para manter inflação na meta

Além das incertezas no exterior, Copom cita impactos relevantes do aumento dos gastos públicos e da sustentabilidade do arcabouço fiscal

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São Paulo

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central subiu o tom nesta terça (6) e afirmou que pode aumentar a taxa básica Selic se achar que é necessário.

A ata da última reunião de juros da autarquia destaca os impactos de variáveis como o dólar, além das expectativas de alta da inflação e do cenário externo adverso e incerto.

Segundo o colegiado, o desenrolar desse cenário desafiador, marcado por projeções mais altas e mais riscos para a inflação, "será particularmente importante para definir os próximos passos de política monetária".

O documento destaca que essa é uma decisão de todos os membros do comitê, incluindo os diretores indicados pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Fachada da sede do Banco Central do Brasil, em Brasília - Pedro Ladeira - 21.jun.2024/Folhapress

"O comitê, unanimemente, reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado", diz. Segundo o documento, essa é uma das estratégias que passam a ser estudadas, além da manutenção dos juros no patamar atual "por um tempo suficientemente longo".

Na última quarta-feira (31), os membros do comitê decidiram unanimemente manter a taxa básica de juros, a Selic, no patamar de 10,5% ao ano pela segunda vez consecutiva. No dia seguinte, o dólar subiu 1,43%, em parte por causa do tom do comunicado do Copom.

Para alguns analistas, o fato de o grupo não ter sinalizado uma possível alta nos juros era motivo de preocupação. O comunicado "não foi tão agressivo quanto poderia ter sido, dada a deterioração das perspectivas de inflação e do equilíbrio de riscos", disse, na semana passada, Alberto Ramos, economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs.

"A sensação que ficou foi que o BC quis ganhar tempo para avaliar melhor as conjunturas doméstica e internacional, antes de iniciar o processo de subida de juros", escreveu Solange Srour, diretora de macroeconomia para o Brasil no UBS Global Wealth Management e colunista da Folha.

Segundo o documento publicado nesta terça, as expectativas para a inflação apresentaram desancoragem adicional desde a reunião de juros anterior, que ocorreu em junho. Ou seja, as projeções estão mais longe da meta.

Por isso, o comitê reforçou que a política monetária deve se manter contracionista, com juros num patamar "que consolide não apenas o processo de desinflação, como também a ancoragem das expectativas em torno da meta".

Atualmente, o centro da meta perseguida pelo Banco Central é de 3% no acumulado de 2024. A tolerância é de 1,5 ponto percentual para menos (1,5%) ou para mais (4,5%). Assim, a meta será cumprida se o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) ficar dentro do intervalo de 1,5% a 4,5% nos 12 meses até dezembro.

O mercado projeta que o IPCA encerre 2024 a 4,12%, segundo a mais recente edição do Boletim Focus divulgada pelo BC na segunda-feira (5), e que elevou novamente a expectativa de aceleração da inflação neste ano. O documento reúne as projeções de economistas para os principais indicadores econômicos do país.

Apesar da desaceleração da inflação observada nos últimos tempos, o Copom ressaltou que esse processo desinflacionário tem perdido força, com um cenário divergindo do previsto anteriormente. No ambiente doméstico, o comitê cita o mercado de trabalho e a atividade econômica, que têm surpreendido para cima.

"O dinamismo de indicadores de mais alta frequência, como de comércio e serviços, reforça o diagnóstico de resiliência da atividade doméstica e sustentação do consumo ao longo do tempo, em contraste com o cenário de desaceleração gradual originalmente antecipado pelo comitê", diz a ata.

"Com relação ao mercado de trabalho, ressaltou-se que o nível de ocupação, a taxa de desocupação e a renda vêm sistematicamente surpreendendo", completa.

O cenário externo, por sua vez, mantém-se adverso, segundo a autarquia, diante da incerteza sobre os impactos e a extensão da flexibilização monetária nos Estados Unidos.

"A menor sincronia nos ciclos de queda dos juros, já iniciados em alguns países avançados e ainda por iniciar em outros, contribui para a volatilidade de variáveis de mercado. Além disso, observou-se que as autoridades monetárias têm indicado ciclos cautelosos, com impactos correspondentes na precificação dos ativos financeiros", afirma o comunicado.

Ao longo do documento, o Banco Central reforçou as projeções, que pioraram, e os riscos mais elevados para a alta da inflação. E mais uma vez destacou que é preciso cautela na política monetária para um acompanhamento "diligente do desenrolar do cenário".

Nas projeções de inflação do Copom, a inflação fechará 2024 em 4,2% e irá para 3,6% em 2025. Em um cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo do horizonte relevante, que é o primeiro trimestre de 2026, as projeções de inflação situam-se em 4,2% para 2024 e 3,4% para 2025.

A ata deu uma ênfase maior na questão fiscal em relação ao documento publicado em junho. "O comitê monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros", diz o texto.

"Ademais, notou-se que a percepção mais recente dos agentes de mercado sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal vigente, junto com outros fatores, vem tendo impactos relevantes sobre os preços de ativos e as expectativas", completa.

Segundo o documento, há uma visão do comitê de que o esmorecimento no esforço de realizar reformas estruturais e de disciplina fiscal, além do aumento do crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública, em conjunto, têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra, "com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade.

A taxa de juros neutra é aquela que não estimula a economia, mas também não causa desestímulos econômicos. Por ser uma variável "não observável", há grande incerteza em sua definição.

Para Tony Volpon, ex-diretor do Banco Central, o texto veio mais duro do que o comunicado da reunião da semana passada, com uma sinalização concreta sobre o que faria o BC subir juros.

"O Copom parece estar dizendo na ata que a situação piorou, e que se algumas condicionantes expostas, principalmente o câmbio e as expectativas de inflação, forem incorporados pelo comitê, aí eles vão ter que reagir. Eles parecem estar comprando o tempo, mas parecem dizer que, se não melhorar, vão subir juros", diz.

Volpon diz que agora fica a reflexão se de fato o mercado vai acreditar nessa "quase promessa" de que o BC pode aumentar os juros. Ele diz que o Copom sinaliza que precisa ver melhora no curto prazo de variáveis como o câmbio e as projeções de inflação para moderar o tom nas próximas reuniões.

Para ele, se o banco central americano reduzir juros mais rápido do que se esperava, isso vai ajudar bastante a situação dos países emergentes, com valorização das moedas locais. "Isso pode trazer uma melhora que o Copom parece indicar ser necessário."

Além disso, para Volpon, na questão fiscal pode haver uma melhora rápida do mercado na próxima divulgação da revisão orçamentária bimestral, se houver um compromisso de maior contingenciamento de gastos não obrigatórios. Assim, a posição do resultado primário pode ficar mais próxima de déficit zero, segundo ele.

Para a economista-chefe do banco Inter, Rafael Vitória, um dos pontos nos quais a ata do Copom veio mais pessimista, ou "hawkish" na linguagem do mercado, neste mês é justamente na análise do cenário fiscal, que traz "uma maior percepção de risco, o que impacta o prêmio nos juros bem como no câmbio, além de manter em alta as expectativas de inflação", diz.

"O cenário de política fiscal expansionista e falta de credibilidade no ajuste dificulta o trabalho da política monetária para trazer a inflação para o centro da meta, resultando em juros maiores por mais tempo", afirma Rafael Vitória.

Na opinião da economista, o câmbio parece ser a variável mais importante para monitorar e deve definir os próximos passos da política monetária. "Com a recente mudança no cenário e perspectiva de cortes maiores pelo Fed [banco central americano], o câmbio pode ter alguma acomodação e retirar eventual pressão adicional nas expectativas de inflação, levando ao cenário de manutenção da Selic", diz.

O Copom disse que todos os membros concordaram que há mais riscos para cima na inflação, com vários membros enfatizando a assimetria do balanço de riscos.

Entre os riscos de alta estão a "desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado"; "maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado [diferença entre o crescimento econômico potencial e o efetivo]; e" uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada".

Entre os riscos de baixa, o BC ressalta "uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada"; e "os impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado".

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